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O cardeal italiano Angelo Becciu, condenado em primeira instância a cinco anos e meio de prisão por envolvimento em escândalos financeiros no Vaticano, insiste que tem direito de participar do conclave que vai eleger o novo papa.
Com 76 anos, Becciu foi nomeado cardeal pelo próprio Francisco, mas caiu em desgraça devido a denúncias de mau uso dos recursos financeiros da Santa Sé na época em que ele era o “número 2” na poderosa Secretaria de Estado.
Becciu foi implicado num escândalo financeiro que envolve negócios imobiliários em Londres, no qual a sede da Igreja Católica perdeu milhões de euros em comissões pagas a intermediários.
Becciu foi processado por irregularidades na compra de um edifício em Londres com recursos do Óbolo de São Pedro (sistema de arrecadação de donativos da Igreja Católica usado para obras de caridade, não para investimentos especulativos), e em doações para um projeto beneficente administrado por um irmão.
Em setembro de 2020, o Papa demitiu o Cardeal italiano do cargo de prefeito da Congregação para as Causas dos Santos e revogou os direitos associados ao cardinalato, inclusive o de votar em conclaves. Em dezembro de 2023, Becciu foi condenado no Vaticano a cinco anos e meio de prisão por peculato.
O papa Francisco terá deixado duas cartas escritas, reveladas esta sexta-feira pelo jornal Domani, nas quais expressa a determinação de excluir o cardeal italiano de um eventual conclave.
Segundo a agência ANSA, as cartas terão sido mostradas a Becciu esta semana pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, um dos favoritos das bolsas de apostas para a sucessão de Francisco.
Ambas as cartas foram escritas à mão e assinadas pelo Papa apenas com um “F”. Uma é datada de 2023, e a outra, de março passado, quando Jorge Bergoglio estava internado devido a uma pneumonia.
Além disso, diz o Domani, Francisco teria expressado sua vontade de excluir Becciu do conclave ao cardeal Kevin Farrell, camerlengo da Igreja Católica, ou seja, o responsável pelo Vaticano no período de “sede vacante”.
O cardeal banido, que se encontra em liberdade enquanto aguarda o recurso da condenação, exige no entanto poder votar no Conclave que vai eleger o novo Papa. Em declarações à Reuters, Becciu nega todas as acusações e considera que deve ser autorizado a participar no conclave.
De acordo com a lei da Igreja, os cardeais com menos de 80 anos podem entrar na Capela Sistina para um conclave secreto, onde votam “sob o olhar severo de Deus”, representado no afresco do Juízo Final, de Michelangelo, atrás do altar-mor.
Cerca de 135 cardeais estão atualmente elegíveis para participar. No seu site, o Vaticano lista Becciu, de 76 anos, como “não eleitor”, juntando-o àqueles que atingiram a idade de 80 anos.
Ao L’Unione Sarda, o principal jornal da sua ilha natal, a Sardenha, Becciu diz que a lista de cardeais não elegíveis “não tem valor legal”, que não houve “nenhuma vontade explícita” de o impedir de participar no conclave e que nunca lhe foi pedido que renunciasse formalmente ao privilégio por escrito.
Becciu já declarou à imprensa que ninguém o pode impedir de exercer o seu direito de voto no Conclave porque não existirem documentos escritos que o impeçam.
Becciu afirma que o seu estatuto mudou desde a noite de 2020 em que o papa o puniu. Entre o momento da sua demissão e o fim do julgamento, Becciu teve várias reuniões com o papa, incluindo uma missa na capela privada do cardeal.
Na conversa com a Reuters, Becciu confirmou os comentários que fez ao jornal e acrescentou que acreditava que o papa estava perto de tomar uma decisão sobre o seu estatuto. O cardeal refere uma conversa com o Papa, na qual Francisco terá dito que “acho que encontrei uma solução”.
Antes do início do conclave, todos os cardeais, independentemente da idade, participam em reuniões diárias conhecidas como Congregações Gerais, onde discutem principalmente os assuntos do dia-a-dia da Igreja Católica Romana. A maioria não falou com os jornalistas ou recusou-se a discutir a questão de Becciu.
“Serão os meus irmãos cardeais a decidir“, diz o Cardeal, referindo-se a todos os cerca de 250 prelados, incluindo eleitores e não eleitores, que vão participar nas Congregações Gerais antes do conclave.