O apartamento não existia. A vista para o mar e as férias também não. Havia apenas uma conta bancária, uma transferência de 780 euros e silêncio.
“Queria voltar a Santander com os meus netos, mostrar-lhes a praia de Sardinero, repetir o que fazíamos quando os meus filhos eram pequenos”, recorda Carmen, que supostamente estaria em Santander nestas férias de Verão.
Não está porque foi enganada.
A TVE chama-lhe “máfia do aluguer de férias”, que opera em Espanha todos os Verões.
Os interessados olham para um anúncio, parece fiável – mas era um golpe. Os “vendedores” são cordiais, transmitem confiança, sugerem fechar a reserva por transferência direta para “evitar taxas”, alegam urgência e que há muita gente a tentar reservar aquele apartamento. Tudo à distância, contacto por escrito.
Mas depois vem o silêncio. Primeiro, as respostas passam a ser poucas, depois deixa mesmo de haver respostas. O turista liga para a imobiliária: ninguém conhece o suposto proprietário; não há qualquer reserva em seu nome.
O dinheiro já seguiu para o lado de lá. Tal como cá, é difícil recuperar o dinheiro depois da burla. A pessoa pagou de livre vontade.
Há centenas de casos destes em Espanha, ano após ano, Verão após Verão – o Verão é uma época alta… para os burlões.
Os anúncios são falsos, imagens reais obtidas de outros sites através de técnicas como a pesquisa inversa, há urgência para fechar o negócio e pagamentos fora da plataforma.
Os burlões não gostam da internet. Preferem pagamentos fora do mundo online, para não deixar rasto. Querem notas à frente.
E são redes organizadas. Não costumam ser actos individuais: uma pessoa publica o anúncio, outra recebe o dinheiro, outra gere as contas bancárias falsas, outra recebe os pagamentos finais em caixas multibanco por todo o país.
Estas organizações movimentaram centenas de milhares de euros com este esquema, até agora. E é um esquema que tem subido de nível, de “profissionalismo”: quase desapareceram os anúncios com erros ortográficos e preços absurdamente baixos.
Agora, as páginas são profissionais, muitas vezes cópias exactas de sites reais como o Airbnb ou o Booking. Imagens roubadas, descrições cuidadosamente seleccionadas e preços que não levantam suspeitas.
Tudo para parecer real.
Há um primeiro contacto na plataforma; iniciativa do burlão, que depois sugere uma conversa por WhatsApp ou e-mail. Mais à frente, o pagamento, ou em dinheiro, ou em criptomoedas.
Do lado do turista, uma atitude que se deve tomar é nunca sair da plataforma oficial. Os sites têm medidas anti-fraude e métodos de pagamento seguros.
Também deve realizar pesquisas inversas de imagens, confirmar a morada do imóvel no Google Maps, pedir vídeos reais e verificar se o proprietário está oficialmente registado. E desconfie da pressa do “vendedor”.