O famigerado Y2K bug, ou “bug do ano 2000”, prometia lançar o caos e provocar um apocalipse informático, bloquear infraestrutura que dependessem de certos computadores, e arruinar muitas vidas. Admiravelmente, ficou tudo bem.
Em dezembro de 1999, o mundo preparou-se para um colapso global iminente, causado por um pequeno problema conhecido como o bug Y2K bug — ou “bug do ano 2000”.
Este problema tinha origem na forma como as datas eram representadas nos sistemas computacionais mais antigos. Para economizar memória, muitos sistemas guardavam os anos usando apenas dois dígitos — por exemplo, 99 em vez de 1999.
Essa opção, que parecia inofensiva nos anos 1970, quando o uso de computadores começou a massificar, criou o risco de que, à meia-noite de 31 de dezembro de 1999, ao passar para 2000, os sistemas interpretassem “00” como 1900, causando erros catastróficos em cálculos, registos e operações que dependessem de datas.
O receio era que este problema afetasse sistemas críticos em infraestruturas, como bancos, hospitais, transportes e infraestruturas essenciais, levando a falhas em larga escala, recorda a NPR.
Para evitar o caos, empresas e governos gastaram milhares de milhões em atualizações de software e testes — o que tornou o impacto real relativamente pequeno.
A administração Clinton disse na altura que preparar os EUA para o Y2K era provavelmente “o maior desafio de gestão tecnológica da história“.
Em Portugal, como nos restantes países, foram tomadas várias medidas para prevenir possíveis problemas causados pelo bug e garantir que os sistemas críticos para o funcionamento do país estivessem preparados para a transição para o ano 2000.
O governo criou na altura comissões e grupos de trabalho para coordenar e monitorizar os esforços de prevenção do Y2K, foram feitas auditorias, inventários e levantamentos exaustivos de sistemas, atualizações massivas de software, criados planos de contingência e promovidas campanhas de sensibilização.
O bug ameaçava uma cascata de potenciais perturbações — apagões, falhas de equipamento médico, encerramento de bancos — se os sistemas e software que mantinham a sociedade a funcionar deixassem de saber em que ano estávamos.
A ansiedade era tão grande que algumas pessoas mais assustadas se prepararam mesmo para o FDMCOC, o Fim Do Mundo Como O Conhecemos.
Foi o caso do programador informático californiano Scott Olmstead, que, pelo sim pelo não, comprou uma casa móvel, alimentos desidratados para um ano, um gerador de propano e até uma arma de fogo. Além disso, ponderou levantar o depósito que tinha no banco e convertê-lo em ouro, prata e dinheiro.
Se o Y2K provocasse uma escassez de alimentos, uma falha na rede elétrica, ou um aumento da criminalidade, o programador estaria preparado. “Seja o que for, se quisermos fugir, podemos fazê-lo. Temos um sítio para onde ir. Temos um sítio para onde ir”, conta Olmstead à NPR.
Mas, talvez graças a todos os preparativos e medidas tomadas, o impacto da passagem do ano 99 para o ano 00 acabou por ser nulo, ou quase nulo (que se saiba), e a Humanidade sobreviveu ao Apocalipse do Ano 2000.
Ainda assim, um ou outro problema fez-se sentir. No Nostalgia Nerd encontramos uma lista de 10 “catástrofes” causadas pelo Y2K Bug, entre as quais uma falha no sistema de informações de voo num aeroporto japonês (nenhum avião caiu) e pequenos problemas no sistema de suporte de sete centrais nucleares nos EUA.
Mas algumas das falhas foram mais divertidas. Um infeliz cliente de um videoclube recebeu uma conta de 91 mil dólares por ter alugado “A Filha do General” durante 100 anos. E um tribunal sul-coreano convocou 170 pessoas, aparentemente com capacidade de viajar no tempo, para uma sessão no dia 4 de janeiro de 1900.
Ainda antes de 1999, já os sistemas informáticos de todo o mundo tinham passado a representar sempre as datas com quatro dígitos para o ano — formato que se manteve desde então. Mas isso significa também que, a 31 de dezembro de 9999, voltaremos a ter um grave problema: o Bug do Ano 10 Mil.
Felizmente, desta vez temos 7974 anos para nos prepararmos.