Quando as crises políticas atacavam a Roma Antiga, o resultado eram ciclos de sucessões falhadas, que resultavam em anos com 4, 5, e até 6 imperadores.
Nem os governos provisórios que se seguiram ao 25 de abril, nem a instável Primeira República, muito menos a atual confusão política — nada se compara ao ano de 238 d.C. no Império Romano.
Nesse ano, muitas cabeças rolaram, sem sequer terem tido tempo de “aquecer a cadeira”, suplantando o igualmente trágico ano para a política romana de 68 d.C., com 4 imperadores, ou 193 d.C, com 5 imperadores. Em 238, porém, houve nada mais nada menos que 6. O que aconteceu?
Tudo começou em 68 d.C., após a morte de Nero, o icónico e cruel imperador que não deixou descendência, e acabou por ser substituído por Servius Sulpicius Galba, conta a LBV. O novo imperador, no entanto, não era muito popular entre os romanos, e era considerado mesquinho, repressivo e impopular. Nomeou um herdeiro, que acabou por traí-lo: subornou a Guarda Pretoriana e foi o responsável pelo assassinato de Galba.
Falamos de Marcus Salvius Otho, que não fez jus às grades expectativas que a população depositava nele. Depois da marcha de Vitélio sobre Roma, viu-se derrotado no campo de batalha e suicidou-se, 3 meses depois de assumir o cargo.
Já Vitélio também não foi nada popular entre a população. Governou 8 meses, até ter sido derrubado do poder por Vespasiano. Foi o fim do primeiro ciclo de crises políticas na Roma Antiga.
O segundo ciclo, chamado “o Ano dos 5 Imperadores”, começou com o assassinato de Commodus e a proclamação como seu sucessor de Publius Helvius Pertinax. Acabou por ser assassinado ao fim de 3 meses pelos pretorianos, que leiloaram o trono — quem deu mais foi o senador Didius Julianus. Mas o seu govenro durou 66 dias, e. depressa sucumbiu a um ataque liderado por Septimius Severus, proclamado novo imperador.
Mas foi em 238 d.C. que o Império Romano assistiu à pior crise política de sempre, enfrentando pelo meio a Crise do século III, marcada para sempre na história por guerras civis, crise económica, epidemias… uma conjuntura trágica.
Tudo começou com Maximinus Thrax, que subiu ao poder apesar das suas origens humildes. Foi apelidado, ao fim de 3 anos de governação, de tirano.
No Norte de África, surgiu então uma rebelião liderada por Marcus Antonius Gordianus Sempronianus (Gordiano), que nunca chegou a assumir o poder porque se suicidou após o assassinato do filho, que tinha nomead co-imperador.
Foi então escolhido como sucessor Marcus Antonius Gordianus Pius, neto e sobrinho dos falecidos Gordians. Pequeno problema: o novo imperador tinha apenas 13 anos, e contra ele estava novamente Thrax, que queria voltar ao cargo a todo o custo. O que aconteceu depois foi uma verdadeira guerra civil. Com 4 governantes mortos no espaço de um mês, a instabilidade avolumava-se cada vez mais.
Seguiram-se no poder Pupienus e Balbinus, dois líderes da revolta contra Thrax. Desconfiavam um do outro, temiam um golpe de Estado e tornaram-se paranoicos, o que levou ao fim do seu governo conjunto, apenas 99 dias depois deste ter começado.
Foi só no dia 29 de julho desse ano que um golpe de Estado final encetado pelos pretorianos pôs fim ao regime e nomeou Gordiano Pio (Gordiano III) como o único imperador.
Foi o fim da crise política, com uma estabilidade que durou 2 anos (Gordiano III morreu mais tarde em combate contra os persas). Foi o Ano dos 6 Imperadores, repletos de complôs, intrigas, assassinatos e, claro, como sempre foi apanágio dos antigos romanos, complicadas conspirações e inteligentes jogos de poder.