Skydio

Drone de vigilância X10 da Skydio
O Departamento de Polícia da cidade de Nova Iorque está a enviar drones como primeira resposta às chamadas recebidas no 9-1-1, número de emergência nos Estados Unidos correspondente ao “112” europeu. Pelo caminho, os novos “first reponders” aproveitam para vigiar o que se passa.
A primeira resposta às chamadas de emergência em Nova Iorque está agora a ser dada por drones em vez de agentes humanos da NYPD, o conhecido Departamento de Polícia da cidade.
As autoridades municipais afirmam que o programa, a que foi dado o nome de “drones as first responders” (DFR), está a tornar Nova Iorque mais segura.
Mas, segundo o The Record, os defensores das liberdades civis e da privacidade argumentam que a polícia não tem sido transparente em relação às operações que permitem às forças da ordem uma capacidade de vigilância alargada que pode facilmente ser abusada.
Estes “drones socorristas” voadores, com uma autonomia de até 40 minutos, podem percorrer dezenas de quilómetros, filmando tudo no seu percurso com câmaras tele-objetivas que, segundo dados disponíveis no site da Skydio, fabricante dos aparelhos, podem identificar rostos e matrículas a mais de um quilómetro de distância.
Lançados em 2024 pelo mayor Eric Adams, estes drones iam inicialmente responder apenas a “chamadas de segurança pública prioritárias selecionadas“, de acordo com o comunicado que em novembro passado anunciava formalmente o programa.
No entanto, como refere o The Record, a definição de “prioridade selecionada” dada pela polícia de Nova Iorque parece ser muito vaga; entre outras omissões, não dá a conhecer quantos drones vão ser utilizados nas chamadas de emergência.
Antes do lançamento oficial do programa, a NYPD revelou que planeava usar drones em outras situações, como por exemplo vigiar festas em casas que recebessem queixas de ruído excessivo. Na altura, não faltaram críticas a que se usasse dinheiro dos contribuintes para pagar drones que vigiam festas.
Mas as principais questões levantadas pelos novos first responders são relacionados com questões de privacidade e direitos civis.
Numa entrevista ao The Guardian em 2023, Daniel Schwarz, responsável da União das Liberdades Civis de Nova York, considerou o uso de drones pela NYPD “distópico” e uma forma de “discriminação racializada“.
Segundo o defensor de direitos constitucionais Sidney Thaxter, os drones não estão autorizados a operar dentro de uma propriedade sem mandado — mas o exterior de uma propriedade não conta, e pode ser facilmente ser vigiado a grande distância, sem que qualquer pessoa se aperceba da presença de um drone no ar.
“Eles podem colocar um drone no ar a uma distância suficiente grande para que não o consigamos ouvir”, diz Thaxter. “Podem fazer zoom e ver literalmente o que quer que seja que uma pessoa tenha nas mãos”.
Agora que estes drones — ou os agentes humanos que os controlam — têm carta branca para fazer muito mais do que simplesmente coscuvilhar o que se passa no quintal dos nova iorquinos, a Cidade Que Nunca Dorme parece de facto estar mais perto de uma distopia.
Segundo Albert Fox Cahn, responsável da STOP, organização não governamental que luta contra o uso de tecnologia em sistemas de vigilância em massa, é como se a NYPD estivesse a usar a série “Black Mirror” como um “manual de instruções”.