“Morte na escuridão”. Descoberto novo tipo de morte celular nos intestinos da mosca da fruta

(dr) RIKEN

Durante a erebose, proteínas fluorescentes como a GFP e a RFP perdem-se, tornando as células “negras”

Uma equipa de cientistas japoneses descobriu um novo tipo de morte celular que ocorre nos intestinos da mosca da fruta. A descoberta vai obrigar a rever tudo o que já se sabia sobre este processo biológico.

As células que compõem os intestinos estão constantemente a morrer e a ser substituídas por novas células, num processo que ajuda a manter o equilíbrio (homeostase) entre o crescimento e a renovação dos tecidos.

A teoria convencional dita que as células envelhecidas do intestino morrem através de um processo chamado apoptose, também conhecida como “morte celular programada”, um dos três tipos de morte celular atualmente reconhecidos.

A nova investigação põe em causa esta suposição, uma vez que avança com provas de um segundo tipo de morte celular programada que poderia ser específica para os intestinos.

O artigo científico com as descobertas foi publicado, no dia 25 de abril, na PLOS Biology.

Erebose

A descoberta foi feita por acaso, quando cientistas do Instituto Riken do Japão estudavam uma versão de ANCE, uma enzima que ajuda a baixar a pressão sanguínea em moscas da fruta.

Segundo o EurekAlert, a equipa notou que a expressão de ANCE no intestino da mosca era irregular e que as células que a continham tinham características estranhas – “mas demorou muito tempo até descobrirmos que estas células esquisitas estavam realmente a morrer“, detalhou Sa Kan Yoo, líder da investigação.

Estas células eram escuras, sem membranas nucleares, mitocôndrias e citoesqueletos (e, por vezes, até sem ADN e outros artigos celulares que são necessários para que as células permaneçam vivas).

O processo foi tão gradual e diferente da morte celular típica da apoptose que os autores do estudo sentiram necessidade de nomear o processo de erebose – um novo tipo de morte celular relacionado com “rotatividade” nos intestinos.

Para provar que a erebose é um novo tipo de morte celular, os investigadores realizaram vários testes. Num primeiro momento, descobriram que a paragem experimental da apoptose não impediu a homeostase intestinal, o que significa que a rotação celular no intestino, incluindo a morte celular, pode prosseguir sem apoptose.

Além disso, durante os testes, as células moribundas não mostraram nenhum dos marcadores moleculares da apoptose ou os outros dois tipos de morte celular conhecida. As células em erebose em fase terminal mostraram um marcador geral para a morte celular relacionada com o ADN degradado.

Por último, o exame final das células em que ocorria a erebose revelou que estavam localizadas perto de aglomerados de células estaminais intestinais, uma evidência de que as células erebóticas são substituídas por células intestinais recém-diferenciadas durante a rotação.

Liliana Malainho, ZAP //

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