Há um novo mosquito invasor que veio da Ásia a instalar-se na Península Ibérica. O Aedes japonicus está em expansão acelerada em Espanha e já terá chegado à Galiza, na fronteira com Portugal. Especialistas espanhóis consideram que é “impossível” erradicá-lo.
O Aedes japonicus é a segunda espécie deste tipo de mosquitos que se está a instalar na Península Ibérica. A primeira foi a “tigre” que já se tornou habitual no Verão, especialmente no litoral mediterrânico.
O novo mosquito invasor, proveniente do Leste asiático, está numa “expansão imparável” em Espanha, como reporta o El País, citando entomólogos do Ministério da Saúde espanhol que consideram que é “impossível erradicar o Aedes japonicus“.
Foi identificado pela primeira vez na Península Ibérica em 2018, na região das Astúrias, e está também implantado na Cantábria. Mas já terá chegado à Galiza, segundo o El País.
Nos próximos anos, deve expandir-se “em forma de mancha de azeite” até Castela e Leão, na fronteira com Trás-os-Montes, País Basco e Navarra, prevê o professor Javier Lucientes da Universidade de Saragoça e responsável pelo projecto de vigilância entomológica do Ministério da Saúde, em declarações divulgadas pelo jornal espanhol.
Em 2018, aquando dos primeiros avistamentos do insecto, as autoridades portuguesas garantiram que não tinham sido detectados em território português.
“É tarde para o erradicar”
Em Espanha, está previsto um estudo de campo para avaliar o grau de expansão nas Astúrias e na Cantábria. Mas para Lucientes é certo que “é tarde para o erradicar”.
“Erradicá-los, como já se demonstrou noutros países da Europa, é muito difícil“, explica o investigador Frederic Bartumeus do Centro de Estudos Avançados de Blanes (CEAB-CSIC) ao El País.
Este mosquito “foi identificado na Suíça em 2008 e investigações posteriores revelaram que tinha colonizado uma zona de 1.400 quilómetros quadrados”, aponta um relatório de 2018 do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências Sanitárias citado pelo jornal.
Espalhou-se a nível global graças ao comércio internacional de pneus usados, já que põe as larvas na água e em superfícies secas que possam acumular água.
“A forma de um pneu permite que se chover, concentre água no seu interior seja qual for a sua posição. É então que nascem as larvas”, refere Lucientes.
Gostam especialmente de bebedouros para animais e são “mais discretos do que o tigre porque evitam os espaços urbanos e preferem os pastos com erva”, mas têm “um potencial de disseminação ainda maior”, sublinha Lucientes no El País.
O professor nota que o Aedes japonicus “se adapta melhor a temperaturas invernais“, além de poder procriar “numa ampla gama de habitats aquáticos, incluindo charcos, pneus, baldes de leite, cubos”.
Assim, “é vital controlar os lugares de reprodução” para evitar a sua expansão, como aponta ainda Lucientes.
Risco “muito baixo” para os humanos
Há cinco espécies de mosquitos invasores Aedes presentes na Europa, mas nenhuma delas é o Aedes aegypti que transmite a febre amarela.
O Aedes japonicus apresenta poucos riscos para os humanos, já que o risco de transmissão de doenças é “muito baixo”, segundo o Ministério da Saúde espanhol que admite, porém, que pode ser um vector do dengue e da febre chikungunya.
“Num cenário de distribuição ampla com afectação urbana, não pode descartar-se a transmissão autóctona de doenças“, salienta ainda Lucientes.
Este novo mosquito é também um vector importante do vírus do Nilo Ocidental que afecta o sistema nervoso de aves e cavalos, segundo o professor.
“Nas pessoas pode causar sintomas como uma gripe de verão e algumas podem sofrer problemas de encefalites”, conclui Lucientes.