“Senti-me refém”. Há novas denúncias contra Boaventura de Sousa Santos

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Há novas denúncias contra Boaventura Sousa Santos, que está a ser alvo de várias acusações de assédio sexual a investigadoras.

O Centro de Estudos Sociais de Coimbra (CES) está a investigar denúncias de assédio envolvendo dois membros da academia, entre eles o sociólogo Boaventura Sousa Santos e o professor Bruno Sena Martins.

As acusações constam de um artigo num livro sobre assédio sexual na academia, em que os dois membros são acusados de usarem o seu poder sobre jovens estudantes e investigadoras para “extrativismo sexual”.

Entretanto, esta quinta-feira, o jornal Público escreve que uma investigadora brasileira veio a público acusar Boaventura Sousa Santos de assédio sexual. Além disso, outras investigadoras com ligação ao CES falam de “comportamentos sexualizados e sexualizantes”.

Uma das alegadas vítimas é uma antiga estudante de doutoramento e tem quase dez anos. Numa reunião de trabalho, Sousa Santos terá tocado no joelho da investigadora, convidando-a a “aprofundar a relação” que tinham como forma de “pagamento” pelo seu apoio académico, explica o jornal.

“Aquela situação foi a mais explícita, o limite”, conta a ex-aluna, em anonimato. “O assédio que era sexual tornou-se [assédio] moral”.

O livro que inclui as recentes denúncias também inclui casos como o que foi agora exposto pela antiga aluna de Boaventura Sousa Santos.

É referido um antes e depois do outono de 2018, na altura em que as paredes do CES e da Universidade de Coimbra foram “graffitadas” e que nomeavam à Boaventura Sousa Santos.

“Era uma realidade de que toda a gente falava e depois terá diminuído bastante. Talvez agora esteja mais disfarçada e menos ativa”, diz a investigadora do CES, citada pelo Público. “A instituição terá falhado na sua avaliação de risco”.

A investigadora brasileira que trouxe a público a nova denúncia revela que não denunciou o caso na altura porque contar o que se passou naquela noite seria condenar a sua própria carreira ao fracasso. Segundo o Observador, arruinaria também a do seu orientador de doutoramento a partir do Brasil, que manteria “relações políticas” com o sociólogo.

Reitores defendem investigação “doa a quem doer”

O presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) defendeu esta quarta-feira que o apoio às vítimas de assédio seja prioritário e que as denuncias têm de ser investigadas, com consequências “doa a quem doer”.

A posição do presidente do CRUP surge em reação às acusações de assédio e violência sexual no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

“A prioridade tem de ser apoiar as vítimas desde o primeiro momento em que estas se sintam objeto de condutas inaceitáveis”, sublinha António Sousa Pereira, citado em comunicado, defendendo a necessidade de, desde logo, ouvir e apoiar as vítimas.

“Não faz sentido que as pessoas carreguem durante anos, às vezes décadas, o peso de situações que as marcaram para vida”, sustenta.

Quanto à resposta das instituições de ensino superior, o representante dos reitores insiste que devem ser criados mecanismos acessíveis e que permitam, de forma rápida, identificar, avaliar, punir e dissuadir casos de assédio.

“Quando surgem as denúncias, as universidades devem investigar até ao fim todos os casos apresentados, doa a quem doer, e tirar consequências do que for apurado”, escreve o presidente do CRUP.

“Os reitores estão empenhados no apuramento rigoroso dos factos — o que implica, como é óbvio, a presunção de inocência — e em investigar de modo exaustivo denúncias de más práticas, de modo a contribuir para um bom ambiente de trabalho nas faculdades e a proteger os seus alunos e a reputação científica e pedagógica dos seus professores, assistentes e investigadores”, acrescenta.

Três investigadoras que passaram pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra denunciaram situações de assédio e violência sexual por membros do centro de estudos, num livro intitulado “Má conduta sexual na Academia – Para uma Ética de Cuidado na Universidade” publicado pela editora internacional Routledge.

Os acusados são o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, diretor emérito do CES, e o antropólogo Bruno Sena Martins, investigador da instituição, que negaram todas as acusações ao Diário de Notícias.

Não é a primeira vez que são tornadas públicas denúncias de assédio sexual no ensino superior. Há cerca de um ano, foi divulgado um relatório do Conselho Pedagógico da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que recebeu 50 queixas de assédio e discriminação em apenas um mês.

Em dezembro, um inquérito promovido pela Federação Académica de Lisboa revelou que cerca de dois em cada dez estudantes universitários já tinham sido vítimas ou testemunhas de casos de assédio.

ZAP // Lusa

8 Comments

  1. E como diriam os sociólogos … é preciso ver para além das cortinas. Investigue-se o que se passa atrás dessas cortinas.

    • Isto é ser sociólogo? Isto é ser covarde e desprezível. Metam este gajo na gaiola, quanto antes, para não fazer mais vítimas. É na Igreja, é nas Universidades…isto está podre. Estamos num percurso de “apagada e vil tristeza” por onde nos forçam os “velhos do Restelo” do século XXI português e com um bando de pseudo governantes que estão a amarfanhar o povo português.

  2. Gostaria um dia de poder falar, sobre este tema, que trouxe graves reprecursões na minha vida pessoal e familiar. A dor essa já não existe, sim memória de um tempo em que as nuvens era incolor. Foi um tempo que até respirar até doía, foram tomadas todas as medidas para avançar para o Ministério Público, só, só que se esbarrou na falta de provas, porque estes miseráveis agem, na penumbra do dia e atacam com olhos de lince. Mais uma vez reafirmo que é URGENTE o Estado, que dizem ser uma pessoa de bem?, tem que criar uma comissão ao nível da Administração Pública, para poder receber queixas, e efetuar internamente uma investigação isenta e rigorosa, porque existe miseráveis, que pelo uso da cadeira a coberto das divisas que usam e abusam do poder que lhes foi concedido. Tenho esperança que um dia estes miserávies vão se assentar no banco dos réus. Pelos estragos ao mais profundo na vida das pessoas.

    • Olhe que por vezes há fumo sem fogo. Aparentemente não neste caso, pelo avolumar das queixas… mas no passado já houve gente a mentir descaradamente apenas para se vingar.

  3. “Oleanna” filme de 1994/Estados Unidos, mostra uma aluna em diálogo com professor, visando difamar o professor sério. Ela é pau-mandado de um grupo político “sem nome”. Vale a pena ver ou rever tal filme, para reconhecer ‘plágio’ da aluna brasileira, cujo toque no joelho acusa o renomado professor Boventura só 10 anos depois. Ser professor hoje virou uma função de alto risco de difamação. A classe merece um $ extra, preventido, para tal risco, assim como acontece com outras atividades recebem por insalubridade.

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