Nova terapia genética reverte a perda de visão com uma só injeção

Uma nova terapia genética tem o potencial de salvar pessoas da cegueira ou de uma vida inteira de injeções oculares.

Está agora na fase 3 de ensaios em humanos uma nova terapia genética para a causa mais comum de perda de visão grave nos idosos.

Se for aprovada, a terapia poderá substituir uma vida inteira de injeções oculares por um procedimento único.

A degeneração macular húmida relacionada com a idade (DMRI húmida) é uma doença em que começam a crescer vasos sanguíneos anormais nos olhos. Estes vasos libertam fluido para o olho, causando visão turva ou pontos cegos.

Embora não se saiba ao certo por que razão a DMRI húmida se desenvolve, os investigadores associaram-na à produção excessiva de uma proteína nos olhos, denominada “fator de crescimento endotelial vascular” (VEGF).

Há um boa notícia: os chamados medicamentos “anti-VEGF” conseguem bloquear o VEGF, restaurando a visão ou, pelo menos, parando a progressão da DMRI húmida. Agora a má notícia: têm de ser injectados diretamente no olho a cada 4 a 8 semanas, por vezes para toda a vida.

Esta condição afeta bastante, naturalmente, a qualidade de vida dos doentes afetados, explica o Free Think.

“A DMRI húmida é uma doença crónica, que dura toda a vida“, afirma Jeffrey S. Heier, diretor de investigação da retina na Ophthalmic Consultants of Boston (OCB).

“As evidências do mundo real mostram que os pacientes estão a perder uma visão significativa ao longo do tempo, e o impacto das frequentes injecções de anti-VEGF necessárias para gerir a DMI húmida é uma das principais razões para que isso esteja a acontecer”, acrescenta Heier.

Injeção que muda as regras do jogo

A empresa de biotecnologia REGENXBIO, sediada em Maryland, nos EUA, está agora a desenvolver uma terapia genética única para a DMRI húmida, a que deu o nome de ABBV-RGX-314.

Esta terapia fornece instruções genéticas para a produção de proteínas anti-VEGF no olho, ensinando-o essencialmente a criar o seu próprio medicamento.

A empresa publicou no fim do mês passado na revista The Lancet os resultados de um ensaio de fase 1/2a da terapia genética, que está agora a ser administrada a participantes em ensaios de fase 3.

“Com base nestes dados, criámos uma colaboração estratégica global com a  farmacêutica AbbVie para iniciar um programa de ensaios com 1200 doentes”, adianta Steve Pakola, diretor médico da REGENXBIO, à Gen Edge. “Este é o maior programa de terapia genética in vivo jamais realizado”.

Durante a fase inicial do ensaio, 42 pessoas que tinham sido tratadas com anti-VEGFs para a sua DMRI húmida receberam uma única injeção subretiniana de ABBV-RGX-314, num dos cinco níveis de dosagem.

Os participantes do ensaio foram seguidos durante dois anos. Se a visão de um participante piorasse durante esse período, um investigador do ensaio poderia optar por administrar uma injeção tradicional de anti-VEGF.

Registou-se um evento adverso grave que pode estar relacionado com a terapia genética: um participante sofreu alterações pigmentares na mácula e uma redução grave da visão um ano após o tratamento. Nos restantes 41 ensaios, a injeção foi bem tolerada..

Os participantes que receberam doses consideradas terapêuticas viram a sua visão estabilizar ou melhorar, e a maioria dos participantes necessitou de poucas ou nenhumas injecções de anti-VEGF durante o ensaio.

As injecções sub-retinianas são mais complexas e invasivas do que as utilizadas para administrar os anti-VEGFs tradicionais:  têm de ser dadas num bloco operatório e requerem que um cirurgião execute uma técnica altamente exigente chamada “vitrectomia pars plana“.

Os investigadores estão agora a testar um método alternativo, em que o ABBV-RGX-314 é administrado numa parte do olho chamada “espaço supracoroidal”, um procedimento que pode ser realizado num consultório médico.

A REGENXBIO pretende solicitar a aprovação da FDA no final de 2025 ou no primeiro semestre de 2026 e, mesmo que a injeção subretiniana seja o único método de administração que funcione, as pessoas com DMRI húmida podem decidir que um destes procedimentos é preferível a inúmeras injecções de anti-VEGF.

“Um tratamento único de ABBV-RGX-314 que possa potencialmente fornecer resultados de tratamento duradouros e um forte perfil de segurança ofereceria uma nova abordagem para o tratamento desta doença grave”, conclui Heier.

ZAP //

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