/

Nota artística: em Braga, liberdade para o título do Sporting

Caros leitores, um bem-haja a todos aqueles que nos acompanham neste singelo espaço futebolístico-musical. Sejam bem-vindos a mais uma emissão de Nota artística, um espaço que é meu, seu, nosso. Hoje, 25 de Abril, temos uma emissão especial.

Vejo jovens vestidos de verde, com uma farda mal passada e com tendência para imiscuir nos estúdios desta redação. Todavia, tentarei espreitar os vinte e dois homens corajosos que já estão prontos para um duelo desportivo em Bracara Augusta. Vinte e dois e os respetivos treinadores, agora cambiados: o conjunto de carvalhos já foi líder em Alvalade, o evangelista Rúben já orientou as tropas em Braga (Ai! Falar em tropas neste dia…). Agora trocaram. São livres. Há muitos anos que um outro 25 de Abril nos deu liberdade.

O conjunto de carvalhos, Carvalhal, tomou a liberdade de não alterar qualquer nome na face inicial do Sporting Clube de Braga, em comparação com a vitória diante do Boavista Futebol Clube, escassos dias antes. Considero que foi uma opção pertinente. A sua formação havia levado a melhor sobre o penúltimo campeão nacional, antes do domínio bicéfalo de Futebol Clube do Porto e Sport Lisboa e Benfica. Agora era o momento de destronar o último campeão nacional antes desse mesmo império.

O Sporting Clube de Portugal poderia ter abanado as redes no local certo bem cedo, após um cruzamento perigosíssimo de Nuno Mendes. Mas o mesmo Nuno à porta aqui o tendes também protagonizou um deslize perigosíssimo e quase ofereceu a primeira festa ao adversário.

Aos 18 minutos, a partida foi alterada. O jovem Gonçalo, qualitativo mas inexperiente e eventualmente algo ignorante, cometeu uma falta; fiquei com a sensação (e o amigo ouvinte poderá corrigir-me, enviando um telegrama para o nosso estúdio) de que o árbitro não iria mostrar a cartolina amarela pela segunda vez – mas como o futebolista em causa tentou, disfarçadamente, esconder-se entre a pequena multidão, o juiz não gostou e expulsou o atleta. Ou terá sido resultado das queixas veementes daquelas almas felizes, pois não sabem o que é viver num país com censura?

Paulinho reencontrou os anteriores companheiros de cidade mas esteve algo discreto neste recontro.

O seu novo companheiro, um Sán Garrido que se coloca entre os postes do Sporting Clube de Portugal, começou a destacar-se novamente. Não tremeu após a sua tremideira no duelo anterior.

Quem não tremeu com a presença policial foi Rúben Amorim. Lá em cima, num camarote, um agente da respeitada e estimada autoridade conversou com o treinador. Enquanto a bola rolava lá em baixo! Foi só por causa da máscara, explicou o evangelista.

Ambiente tenso em cima, ambiente tenso em baixo. O Sporting Clube de Portugal tentou realizar substituições, algo correu menos bem, o árbitro não permitiu tal. Após ter permitido, verifiquei que o esquadrão visitante já tinha alterado quatro peças e o conjunto caseiro ainda não tinha mexido. Invulgar, amigo ouvinte. Não concorda?

O Sporting Clube de Braga não queria mudar jogadores; o Sporting Clube de Portugal não queria transformar o resultado. Bem, depende. Se fosse golo do próprio Sporting, queria.

E foi.

Defender, defender, defender… Atacar uma vez com espaço, rematar uma só vez no enquadramento certo, marcar um golo. O ludopédio é tão simples.

Tanto sofreu, o líder da prova maior. Sofreu mas soube sofrer. Além do já mencionado Sán Garrido na baliza, um outro hispanofalante, que também é capitão, tornou a estar em todo o lado, impedindo ainda mais oportunidades bracarenses. Que força é essa, Coates?

Ouvi o apito pela última vez. Nova barafunda lá em cima, com elementos que zelam pela segurança a zelarem pela segurança do evangelista. Ou pela segurança dos seus oponentes?

Agora, a contabilidade confirma que o Sporting Clube de Braga não vai conseguir atingir o primeiro lugar.

Creio que vi lágrimas naquele relvado plantado em Bracara Augusta.

E a contabilidade aponta para um provável regresso, noutro cenário, aos verdes anos.

Durante a lábia do evangelista, depois do jogo, Rúben Amorim disse: “Terceira vitória contra o Braga nesta época, tudo normal”… Malandro… Eu compreendi essa.

E também compreendi, e compreendo, a festança elaborada pelos seguidores verdes e brancos, em plena madrugada de 25… Ai já era 26 de Abril. Que equívoco o deles. Este coro em plena Primavera deveria ter saído à rua algumas horas antes.

Vitória deveras significativa. É caso para elaborar a seguinte ideia: para as pessoas ligadas ao Sporting Clube de Portugal, poderia ser mesmo 25 de Abril sempre.

Muito boa tarde e até uma próxima oportunidade.

Nuno Teixeira, ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.