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Em seis meses, 21 mil norte-americanas pediram comprimidos online para abortar

Olivier Hoslet / EPA

Entre outubro de 2018 e março deste ano, 21 mil mulheres norte-americanas pediram ajuda à Aid Access, sendo que entre um terço e metade dessas mulheres receberam as pílulas abortivas no correio.

Em 2004, a médica holandesa Rebecca Gomperts andava no barco da Women On Waves em águas internacionais para distribuir a pílula abortiva às mulheres grávidas até às seis semanas e meia que estivessem interessadas em interromper a gravidez.

Quinze anos depois, Gomperts já não precisa de um barco, mas usa a Internet para, através da sua organização Women on Web, processar os pedidos de auxílio das mulheres em todo o mundo, enviando por correio os dois comprimidos necessários para a realização de um aborto médico (mifepristona e misoprostol). Em 2018, foi criado um site especialmente para os EUA: o Aid Access.

Segundo o The Guardian, que teve acesso aos dados, 21 mil mulheres norte-americanas pediram ajuda à Aid Access e a maioria vivem em estados que estão a restringir cada vez mais o direito ao aborto.

A médica holandesa já está na mira das autoridades norte-americanas. “Não serei dissuadida. Quando as mulheres dos EUA que procuram interromper a gravidez antes das nove semanas me consultarem, não lhes virarei as costas. Continuarei a proteger o direito humano e constitucional das minhas pacientes a ter acesso a um serviço seguro de aborto”, escreveu Gomperts no site da sua organização.

Na semana passada, o Alabama aprovou uma lei que é a mais restritiva de todos os estado no que diz respeito ao acesso ao aborto, legalizado até às 24 semanas nos EUA pela decisão do Supremo Tribunal Roe v. Wade de 1973. No Alabama, o aborto passa a ser proibido em todos os casos, incluindo violação ou incesto, exceto no caso de risco grave de saúde para a mãe.

“Os serviços e cuidado que garanto são essenciais num cenário em que mais e mais estados estão a desmantelar o acesso a abortos clínicos através de regulamentação direcionada a quem providencia o aborto, proibindo o atendimento antes que muitas pessoas descubram que estão grávidas e criminalizando totalmente os abortos“, escreveu Gomperts.

A médica recorda que os estudos mostram que estas proibições prejudicam principalmente as mulheres que vivem na pobreza, as vítimas de violência doméstica e as jovens. “Uma em quatro mulheres dos EUA fará um aborto até aos 45 anos”, indica.

A Aid Access, que foi criada em maio de 2018, oferece consultas online, sendo a receita passada por uma farmácia na Índia, que os envia diretamente para a casa das mulheres norte-americanas. O preço do serviço é de 80 euros, mas que se oferece ajuda a quem não puder pagar esse valor. Só em 2018, Gomperts disse que prescreveu 2581 abortos médicos a 11.108 mulheres que a consultaram.

No dia da mulher, Gomperts recebeu uma carta da FDA a ordenar que a Aid Access deixasse de distribuir as pílulas abortivas nos EUA, indicando que está a violar as leis federais ao vender “medicamentos novos sem marca e sem aprovação”. A médica lembra que ambos os medicamentos que receita têm aprovação da FDA.

ZAP //

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