“Não te preocupes, serás a próxima”. Polícia investiga ameaça a J. K. Rowling por apoio a Rushdie

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A Polícia Britânica está a investigar ameaças de morte à autora dos livros de Harry Potter pelo seu apoio a Salman Rushdie.

A polícia do Reino Unido está a investigar uma ameaça dirigida a J. K. Rowling, despois de a escritora ter publicado no Twitter uma mensagem de apoio a Salman Rushdie, que esta sexta-feira foi esfaqueado nos Estados Unidos.

A criadora do universo de Harry Potter, de 57 anos, publicou no seu perfil na rede social capturas de ecrã de uma mensagem em que é possível ler: “Não te preocupes, serás a próxima“.

Segundo a autora, a mesma conta no Twitter que publicou a ameaça também fez um post a elogiar o homem que atacou Rushdie.

No seu perfil no Twitter, Rowling tinha dito que se sentia “muito mal” com a notícia do ataque a Rushdie, e esperava que o escritor se recuperasse.

“Para todos que enviaram mensagens de apoio, obrigado. A polícia está envolvida (e já esteve envolvida em outras ameaças)”, acrescentou a escritora no post em que denuncia a ameaça de que foi alvo.

 

A ameaça no Twitter, publicada a partir de uma conta no Paquistão, foi removida da rede social na manhã deste domingo.

“Recebemos um relatório de uma ameaça online e os agentes estão a realizar investigações”, afirmou um porta-voz da polícia britânica, citado pela BBC.

Os investigadores já tinham anteriormente analisado ameaças online dirigidas a Rowling, depois de a escritora ter partilhado opiniões sobre transexualidade.

Rowling está entre os muitos autores e figuras públicas que manifestaram apoio a Salman Rushdie.

O escritor, de 75 anos, enfrenta há décadas ameaças de morte após a publicação, em 1988, do seu romance Os Versículos Satânicos, que alguns muçulmanos consideram uma blasfémia, e foi obrigado a esconder-se durante quase 10 anos.

Depois de ter estado em estado crítico, o escritor já respira sem aparelhos e consegue falar, mas arrisca perder um olho na sequência da agressão.

Irão nega qualquer ligação ao ataque

O Irão negou hoje “categoricamente” qualquer implicação no ataque a Rushdie, responsabilizando antes o próprio autor de “Os Versículos Satânicos”, que há 33 anos lhe custou uma condenação à morte pelo líder espiritual iraniano.

“Desmentimos categoricamente” qualquer ligação entre o agressor e o Irão, disse o porta-voz dos Negócios Estrangeiros iraniano, Nasser Kanani, ao fim de três dias de silêncio sobre o ataque ao escritor, na sexta-feira, durante uma conferência em Chautauqua, no estado norte-americano de Nova Iorque.

Na sua conferência de imprensa semanal, o porta-voz insistiu que “ninguém tem o direito de acusar a República islâmica do Irão”.

“Neste ataque, apenas Rushdie e os seus apoiantes merecem ser culpados e mesmo condenados”, acrescentou Kanani na primeira reação oficial do regime de Teerão à agressão ao escritor britânico de 75 anos.

“Ao insultar as coisas sagradas do Islão e ao ultrapassar linhas vermelhas de mais de 1,5 mil milhões de muçulmanos e de todos os adeptos das religiões divinas, Salman Rushdie expôs-se à cólera e à raiva das pessoas”, disse ainda.

Esfaqueado uma dezena de vezes no pescoço e no abdómen, Salman Rushdie permanece hospitalizado em estado grave, mas no sábado à noite conseguiu dizer algumas palavras e no domingo o seu agente, Andrew Wylie, afirmou que o escritor está “a caminho da recuperação”.

“Os ferimentos são graves, mas o seu estado evolui numa boa direção”, acrescentou, admitindo que o processo de recuperação do escritor será longo.

Ameaçado de morte desde uma ‘fatwa’ iraniana de 1989, um ano após a publicação de “Os Versículos Satânicos”, Salman Rushdie foi alvo de um ataque que chocou o Ocidente, mas que foi bem recebido por extremistas no Irão e no Paquistão.

O agressor, um jovem norte-americano de origem libanesa, foi no domingo presente a um juiz do estado de Nova Iorque, perante o qual se declarou “inocente” de tentativa de homicídio do escritor.

Segundo a acusação, o ataque foi premeditado.

As vendas do controverso livro de Rushdie dispararam desde sexta-feira e o romance está hoje no 11.º lugar da lista de ‘best sellers’ da plataforma eletrónica de vendas Amazon.

Residente em Nova Iorque há 20 anos, Salman Rushdie tinha começado a retomar uma vida mais ou menos normal enquanto continuava a defender a sátira e a irreverência nos seus livros.

“Os Versículos Satânicos” são considerados pelos muçulmanos radicais como uma blasfémia contra o Alcorão e o Profeta Maomé.

ZAP // Lusa / BBC

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