Salman Rushdie foi esta sexta-feira alvo de um ataque durante um evento que decorria no estado de Nova Iorque. Testemunhas dizem ter visto um homem a correr para o palco, atacando um entrevistador e o escritor britânico, que terá sofrido um ferimento no pescoço perpetrado com uma faca.
O autor, de 75 anos e vencedor de uma edição do Booker Prize, preparava-se para discursar na Chautauqua Institution. Segundo um comunicado da polícia, o escritor foi transportado de helicóptero para o hospital, desconhecendo-se o seu estado.
O entrevistador Henry Reese também sofreu um pequeno ferimento na cabeça. Este é cofundador de uma organização sem fins lucrativos que oferece refúgio a escritores exilados sob ameaça de perseguição.
Elementos da audiência acudiram ao palco logo após o incidente, que ocorreu por volta das 11:00 locais (16:00 em Portugal continental). Segundo um repórter da Associated Press, o escritor estava deitado no chão, a ser assistido por um socorrista, tendo posteriormente abandonado o local. O atacante foi detido pelas autoridades.
O Guardian citou relatos de testemunhas que dizem ter visto um homem, com uma máscara preta a cobrir a face, a correr para o palco e a atacar Rushdie.
BREAKING: Author Salman Rushdie has been attacked as he was about to give a lecture in western New York. An @AP reporter witnessed a man storm the stage at the Chautauqua Institution and begin punching or stabbing Rushdie as he was being introduced. https://t.co/bVTbfkLjyL
— The Associated Press (@AP) August 12, 2022
O autor de “Os Versículos Satânicos”, publicado em 1988, foi alvo de condenação à morte pelo líder do Irão, o Ayatollah Ruhollah Khomeini, um ano após a publicação, sob a acusação de se tratar de uma obra blasfema para os crentes muçulmanos.
A decisão levou Salman Rushdie a viver em parte incerta, sob proteção policial, e a ‘fatwa’ decretada pelo líder iraniano, com a promessa de uma recompensa de três milhões de dólares para quem assassinasse o escritor, acabou por estar na origem do corte de relações diplomáticas entre o Reino Unido e o Irão.
O governo do Irão há muito que se distanciou do decreto de Khomeini, mas o sentimento anti-Rushdie permanece. Em 2012, uma fundação religiosa iraniana aumentou a recompensa pelo assassinato de Rushdie para 3,3 milhões de dólares.
O escritor desvalorizou a ameaça na altura, dizendo que não havia “nenhuma prova” de que as pessoas estivessem interessadas na recompensa. Nesse ano, publicou o livro de memórias “Joseph Anton – Uma Memória”, sobre a ‘fatwa’.
Autor de cerca de duas dezenas de títulos, Rushdie recebeu o prémio Booker em 1981 por “Os Filhos da Meia-Noite”, também distinguido com o Booker of Bookers, em 1993, e, em 2008, o Best of the Booker. “O Último Suspiro do Mouro” valeu-lhe o prémio Withbread, em 1995, e o Prémio Literatura da União Europeia, em 1996.