“Não consenti o beijo e nunca apoiei Rubiales”. Recém-campeãs do Mundo renunciam à seleção

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RFEF / X

Jenni Hermoso e Alexia Putellas, no Mundial feminino de futebol

Jenni Hermoso deixou bem claro que não consentiu o beijo na boca, mas Luis Rubiales continua a tentar justificar-se. 81 jogadoras renunciaram à seleção, e só voltam se os dirigentes da Federação se demitirem.

No passado domingo, durante os festejos da conquista do Mundial, Luis Rubiales, presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) deu um beijo na boca à jogadora Jenni Hermoso.

A atitude fez soar os alarmes do machismo e violência sexual, principalmente, com a versão que agora se conhece de a jogadora ter sido pressionada, pela Federação, a dizer alguma coisa que justificasse e defendesse o ato presidente – “um testemunho que nada tinha a ver com as minhas sensações”, disse a jogadora.

“Não merecemos esta cultura tão manipuladora, controlador e hostil”, escreveu, num comunicado partilhado, esta sexta-feira, nas suas redes sociais, onde refere que não volta a representar a seleção, enquanto a atual direção continuar.

As declarações que a Federação tinha passado, em nome da jogadora, diziam o seguinte: “O presidente e eu temos uma ótima relação, o comportamento dele com todas nós tem sido nota dez e foi um gesto natural de carinho e gratidão. Não se deve especular, ganhamos um Mundial e não nos vamos desviar do que importa”.

No entanto, na quarta-feira, noutro comunicado divulgado pelo sindicato FUTPRO que luta pela defesa dos direitos da jogadora, perante o sucedido, Jenni Hermosso exigiu a adoção de “medidas exemplares” contra Luis Rubiales.

“Pedimos à RFEF que implemente os protocolos necessários, garanta os direitos das nossas jogadoras e adote medidas exemplares. É necessário continuar a avançar na luta pela igualdade”, pode ler-se.

Apesar disso, Rubiales não se demitiu e até disse que o beijo “foi espontâneo, mútuo, eufórico e consentido”.

“Esta jogadora [Jenni] tinha falhado um penálti e eu tenho uma grande relação com todas as jogadoras, fomos uma família durante mais de um mês e tivemos momentos carinhosos durante toda a concentração”, justificou Rubiales na intervenção durante a Assembleia Geral da RFEF.

Rubiales mentiu, tal como a Federação, quando, no domingo, difundiu aquelas declarações da jogadora.

Agora, com as palavras todas e na primeira pessoa, Jenni Hermoso garantiu: “Em nenhum momento consenti o beijo e em qualquer circunstância procurei apoiar o presidente. Não tolero que se coloquem dúvidas à minha palavra e muito menos que se inventem palavras que não disse”.

81 jogadoras renunciaram à seleção

Além de Jenni, também as outras 22 campeãs do Mundo, renunciaram à seleção. A elas, juntaram-se ainda mais 58 jogadoras espanholas.

No total, são 81 jogadoras a abandonar La Roja, pelo menos, até os dirigentes atuais não se demitirem.

“Na sequência dos acontecimentos desta manhã e dada a perplexidade do discurso proferido pelo presidente da Federação Espanhola de Futebol, as jogadoras da equipa sénior, recentes campeãs mundiais, em apoio a Jennifer Hermoso, querem expressar a sua condenação firme e contundente aos comportamentos que violaram a dignidade das mulheres”, diz comunicado da FUTPRO.

“Depois de tudo o que aconteceu durante o Mundial feminino, queremos manifestar que todas as jogadoras que assinaram este documento não voltarão à convocatória da Seleção Nacional caso os atuais dirigentes continuem”, pode ler-se.

Eis a lista das jogadoras que assinaram o documento: Jennifer Hermoso; Alèxia Putellas; Misa Rodríguez; Irene Paredes; Ona Batlle; Mariona Caldentey; Teresa Abelleira; María Pérez; Cata Coll; Aitana Bonmati; Laia Codina; Claudia Zornoza; Oihane Hernández; Rocío Gálvez; Irene Guerrero; Alba Redondo; Athenea del Castillo; Eva Navarro; Enith Salón; Ivana Andrés; Salma Paralluelo; Esther González; Olga Carmona;Patricia Guijarro; Lola Gallardo; Nerea Eizagirre; Ainhoa Moraza; Maria León “Mapi”; Sandra Paños; Claudia Pina; Amaiur Sarriegi; Leila Ouahabi; Laia Aleixandri; Lucia García; Andrea Pereira; Vero Boquete; Ainhoa Tirapu; Sandra Vilanova; Ana Romero “Willy”; Silvia Meseguer; Nagore Calderón; Carmen Arce “Kubalita”; Priscila Borja; Natalia Pablos; Susana Guerrero; Larraitz Lucas; Isabel Benito; Amanda Sampedro; Isabel Fuentes; Elisabet Sánchez; Mari Paz Azagra; Vanesa Gimbert; Virginia Torrecilla; Leire Landa; Elisabet Ibarra; Marta Torrejón.

Miguel Esteves, ZAP //

5 Comments

  1. Há dois lados nessa questão.
    Primeiro: o presidente da confederação espanhola devia sim ser afastado, demitido, punido, pra aprender como se portar em relação a quem não é ou pensa igual a ele ou a sua família.
    Segundo: a confederação espanhola, e todas as demais confederações de futebol NÃO SÃO governos, ONGs, órgãos públicos nem nada disso. Em suma, são organismos PRIVADOS que possuem o controle sobre o futebol. E seria muito simples DEMITIR e impedir que voltem a jogar na Espanha – e talvez até em outros países – TODAS as jogadoras participantes desse protesto, independente dele ser razoável ou não, caso tais organismos assim quisessem.
    Excesso de exagero, de politicamente corretos, falta de hierarquia, feminismo/patriarcalismo em excesso, desrespeito, burrice pura e simples, ou tudo isso somado?
    Se eu fosse a jogadora, talvez tivesse metido um tapa na cara e um chute no meio das pernas do sujeito… Mas hoje em dia, tudo tem de ser midiático, inclusivo, barulhento, politicamente correto…

  2. Falhaste Rubiales! Vais beijar uma lésbica , estavas à espera de quê!?
    Se tivesse sido antes do mundial, não tinha acontecido nada…era um incentivo.
    Esta gente não é de confiar!

  3. Acho curioso tudo isto. No filme vê-se bastante bem que a jogadora não levou a mal o que ele fez. Depois desse famoso beijo ela afasta-se feliz e contente com o efeito conseguido. A vitória. Em momento algum se vê algo de contrariedade dela, repúdio, seja o que for. Ela simplesmente afasta-se sorridente.
    Mais tarde, após tudo o que foi dito e divulgado pela comunicação social, tudo muda de figura e acusam-no de machismo e mais não sei quê.
    Note-se que não estou a defender nem acusar seja quem for. O que digo é que foi uma divulgação aproveitada pelos do costume, os da comunicação social, e tudo empolgado para o que agora se vê. E finalmente um aproveitamento por toda a gente que se põe a escrever essas opiniões.

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