Foi uma autêntica demonstração de resiliência. Dois leões macho, irmãos, atravessaram o perigoso Canal de Kazinga, no Parque Nacional Rainha Elizabeth, no Uganda. A travessia, realizada a 1 de fevereiro, foi um recorde; 1,4 quilómetros percorridos a meio da noite.
Os investigadores documentaram aquela que acreditam ser a maior distância percorrida a nado por leões alguma vez registada.
Segundo o ZME Science, tratou-se de uma rota de 1,4 quilómetros por águas infestadas de crocodilos.
A proeza foi alcançada por Tibu e Jacob, este último um leão já conhecido pelos guardas florestais, que superou vários desafios fatais durante a sua década de estadia no parque — e que perdeu uma perna há alguns anos.
Os irmãos embarcaram nesta perigosa viagem muito provavelmente em busca de novas companheiras após perderem uma luta para outros leões machos. De acordo com o artigo científico, publicado na Ecology and Evolution, o objetivo era alcançar as fêmeas do outro lado do canal, evitando o contacto humano.
“A competição por leoas no parque é feroz”, explicou Alex Braczkowski, principal autor do estudo e investigador do Centro de Saúde Planetária e Segurança Alimentar da Universidade Griffith. “Os leões perderam uma luta por afeição feminina poucas horas antes do feito, o que levou a este comportamento arriscado.”
Se o feito de Tibu é impressionante, o de Jacob é ainda mais. O leão sobreviveu a vários incidentes, como ser chifrado por um búfalo, perder a família para caçadores furtivos que vendiam partes dos seus corpos e perder parte da sua perna numa armadilha de caça furtiva.
No final do mês de janeiro, Jacob e Tibu enfrentaram duas lutas ferozes com outros leões macho em apenas 48 horas. Depois de serem expulsos, tentaram cruzar o canal três vezes.
Na terceira tentativa, os irmãos conseguiram evitar os crocodilos, uma ameaça significativa durante a travessia. A viagem foi registada por um drone equipado com câmaras sensíveis ao calor, que revelaram uma silhueta de crocodilo a seguir os dois irmãos felinos durante uma grande parte da travessia, que durou cerca de 45 minutos.
“A maior surpresa foi a disposição dos animais de entrar em águas com altas densidades de crocodilos e hipopótamos”, apontou Braczkowski. “Mas encontrar fêmeas para procriar superou os riscos.”
Apesar de ser uma conquista corajosa, a verdade é que esta história é o reflexo das medidas extremas que a vida selvagem tem de tomar em áreas cada vez mais dominadas por humanos.
A população de leões no Parque Nacional Queen Elizabeth tem vindo a diminuir. Dados recentes mostram uma queda de 50% em apenas cinco anos.