Edvard Munch é conhecido como o pintor de “O Grito”. Mas os seus muitos retratos assombrosos mostram que ele era muito mais do que a sua obra-prima.
O pintor norueguês Edvard Munch é mais conhecido por O Grito, uma pintura de um rosto humano torturado, revelada em 1893.
Mas o famoso quadro é apenas uma pequena parte da obra do artista norueguês, que inclui milhares de outros trabalhos, nota a Smithsonian Magazine.
Munch criou muitos retratos ao longo da sua carreira, e 45 deles estão agora em exposição na National Portrait Gallery de Londres, que mostra pinturas de família, amigos, colecionadores de arte e do próprio artista.
“A exposição mostra que Munch era uma pessoa mais social do que muitas vezes se supõe”, diz Alison Smith, curadora-chefe da galeria, à Reuters. “Leva-nos para além de O Grito”.
Munchmuseet
Três versões de “O Grito”, de Edvard Munch: Tempera e óleo sobre cartão, (1910), litografia (1895), lápis de cor sobre cartão ( 1893)
Nascido em 1863, Munch foi afetado por várias doenças durante toda a sua infância. Quando tinha 17 anos e estava acamado, escreveu no seu diário: “A minha decisão agora é tornar-me pintor”.
Ao longo dos seus 60 anos de carreira, Munch explorou temas como o amor, a morte e a solidão. Para além de O Grito, algumas das suas obras mais famosas são Madonna (1894) e A Criança Doente (1886).
A nova exposição inclui obras entre as décadas de 1880 e 1920. É a primeira dedicada aos retratos de Munch em Inglaterra e muitas das obras apresentadas nunca foram exibidas anteriormente no país.
Uma delas, um retrato de 1892 de um advogado chamado Thor Lütken, ilustra tanto o estilo como as tendências sociais de Munch.
“É um retrato bastante monocromático… mas se olharmos com atenção, podemos ver como a manga se funde numa espécie de paisagem azul e negra ao luar, habitada por duas figuras misteriosas”, diz Smith à Reuters.
Munchmuseet / Sidsel de Jong
Thor Lütken, Edvard Munch, 1892
Munch estava “muito ligado às correntes artísticas e intelectuais do seu tempo”, mas retratos como o de Lütken mostram como o artista também “procurou a proteção de pessoas activas nas áreas do direito, dos negócios e da medicina”.
O estilo de retrato de Munch era divisivo. “Quando pinto uma pessoa, os seus inimigos acham sempre que o retrato é bem parecido”, disse uma vez o artista, segundo o Financial Times. “No entanto, ele próprio acredita que todos os outros retratos são bons, exceto o dele próprio.”
Munch tentava muitas vezes retratar os seus retratados como pessoas com falhas e complicadas. Um retrato retrata o seu amigo, o crítico de arte Jappe Nilssen, que criticou a peça: “Ele deu rédea solta ao seu lado vicioso e poderia facilmente ter pintado um retrato mais bonito”, disse Nilssen, segundo diz o Financial Times.
Munch pintou também o seu psiquiatra, Daniel Jacobson, de pé, com as mãos nas ancas, em frente a paredes vermelhas e amarelas, e retratou o dramaturgo sueco August Strindberg com um “ar demoníaco”.
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August Strindberg, litografia de Edvard Munch, 1896
O artista voltou a pintar este retrato depois de o dramaturgo ter manifestado a sua desaprovação. Ao ver o novo quadro, Strindberg ameaçou Munch de morte, conta o Munchmuseet.
“Munch sempre quis ir além da aparência superficial para sondar a psicologia interior ou as motivações de um indivíduo”, diz Smith à Reuters.
“Por isso, os retratos funcionam em duas frentes. Por um lado, são representações de uma pessoa em particular num determinado momento, mas também oferecem uma visão do seu mundo interior”, nota a curadora.
A exposição também inclui as primeiras pinturas da família de Munch, como um retrato de 1888 da sua irmã Laura a olhar para um fiorde.
A obra de Edvard Munch inclui anda algumas representações de mulheres que enfatizam a beleza feminina. Esse é o caso de O Broche, uma pintura de 1903 da violinista britânica Eva Mudocci — que viria a tornar-se a musa do pintor norueguês.
Coleção privada / Peder Lund
O Broche, Edvard Munch, 1902
