Uma mudança alimentar pode trazer benefícios a pacientes com doença hepática

De acordo com um estudo clínico realizado nos Estados Unidos da América, optar por não comer carne numa refeição diária diminui o risco de acumular amoníaco em pessoas com doença hepática em estágio avançado.

Um novo estudo, publicado na semana passada na Clinical and Translational Gastroenterology, sugere uma maneira minimamente simples para as pessoas com cirrose evitarem esses efeitos a longo prazo.

O amoníaco é um subproduto natural da digestão de proteínas no corpo humano no entanto, é altamente tóxica se atingir o cérebro.

O amoníaco é libertado dos alimentos pelas bactérias à medida que as proteínas são decompostas pelo intestino. Passa também para o fígado, que o converte numa forma menos tóxica, a ureia, que é eliminada na urina.

Os alimentos ricos em proteínas, especialmente os de origem animal,são geralmente considerados parte de uma dieta saudável, mas este novo estudo sugere que moderar a ingestão de carne pode aliviar a carga das pessoas com cirrose, a fase mais avançada da doença hepática.

Quanto mais carne se consumir, mais amoníaco o fígado vai ter que processar, e um fígado danificado terá mais dificuldade em realizar esse trabalho. Esse problema leva a uma concentração de amoníaco no sangue, que está associado à encefalopatia hepática (EH), um tipo de declínio cognitivo.

A encefalopatia hepática pode ser gradual ou repentina com insuficiência hepática e em alguns casos pode ser associado ao coma onde o inchaço do tecido cerebral pode levar à morte.

Participaram no estudo 30 pacientes do sexo masculino com cirrose, tratados no Richmond Veterans Affairs Medical Center, embora nem todos os participantes fossem veteranos.

Todos eram consumidores habituais de carne, com dietas semelhantes ao estilo ocidental, e tinham perfis semelhantes de bactérias intestinais antes do experimento. Metade deles tinha EH anterior.

Os pacientes foram divididos em três grupos, cada um recebeu um tipo diferente de hambúrguer na hora das refeições. Todos os hambúrgueres continham exatamente 20 gramas de proteína: hambúrgueres de porco/bovino para o primeiro grupo, um substituto de carne vegetariana para o segundo grupo e um hambúrguer vegetariano de feijão para o terceiro.

Os hambúrgueres foram servidos com pães integrais, batatas fritas com baixo teor de gordura e água. Não eram permitidos extras.

A única diferença essencial entre os grupos foi a fonte de proteína dos hambúrgueres, mas essa diferença teve um efeito considerável nas análises de sangue colhidas antes das refeições.

Os níveis séricos de amoníaco no sangue foram elevados nos pacientes do hambúrguer de carne, em comparação com os outros dois grupos e com os níveis basais de todos os pacientes antes da refeição.

Pacientes com EH prévia apresentaram níveis mais elevados de amoníaco sérico no sangue em geral, mas os participantes no grupo da carne também registaram um pico nestes níveis uma hora após comerem o hambúrguer — uma tendência única no seu grupo.

“Foi emocionante ver que mesmo pequenas mudanças na dieta, como fazer uma refeição sem carne de vez em quando, poderiam beneficiar o fígado, reduzindo os níveis prejudiciais de amoníaco em pacientes com cirrose”, diz Jashmohan Bajaj, gastroenterologista da Virginia Commonwealth University e autor principal do estudo, citado pelo Science Alert.

“Os pacientes hepáticos com cirrose devem saber que fazer mudanças positivas na sua dieta não precisa de ser uma tarefa difícil ou esmagadora”, acrescenta Bajaj.

Embora o estudo seja preliminar e as medições tenham sido feitas após apenas uma refeição, a equipa está confiante o suficiente nos resultados para sugerir que os médicos comecem a implementá-los, incentivando aos pacientes com doença hepática que comem carne a incorporar alternativas vegetarianas pelo menos numa refeição por dia.

Através de outras pesquisas é ainda possível saber que comer menos carne e mais vegetais está associado a vidas mais longas e saudáveis, com menor risco de cancro e uma forma de contribuição para um mundo mais sustentável.

Soraia Ferreira, ZAP //

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