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Movimento em França quer “unir a esquerda” para evitar duelo Macron/Le Pen

Eric Feferberg / EPA

Marine Le Pen (E) e Emmanuel Macron (D)

Laurent Joffrin, um jornalista que deixou no início de julho a direção do jornal Libération, lançou uma plataforma para reforçar a esquerda reformista e evitar um novo duelo Macron/Le Pen nas presidenciais de 2022, em França.

Laurent Joffrin explicou, em entrevista à Lusa, que a plataforma Les Engagé.e.s. não pretende transformar-se num partido político, mas encontrar um candidato presidencial que passe à segunda volta em 2022.

“Já só falta um ano para que as presidenciais arranquem e, portanto, temos um ano para que haja uma esquerda reformista que possa apresentar um projeto e impedir o cenário previsível da eliminação da esquerda numa primeira volta e a reedição do duelo Macron/Le Pen na segunda volta”, afirmou Laurent Joffrin.

O agora ex-jornalista passou mais de 30 anos em redações, tendo dirigido os jornais Nouvel Observateur e Libération, mantendo-se à esquerda no espetro político e com um olhar crítico da vida política francesa nas centenas de editoriais escritos ao longo da sua carreira.

No início deste mês, anunciou a sua saída de diretor do Liberátion e lançou Les Engagé.e.s, que quer redinamizar as figuras políticas e os eleitores que se encontram entre os Verdes e o atual Presidente Emmanuel Macron.

“A razão para tentar unir a esquerda é que quando olhamos para as eleições municipais, que não foram nada más para a esquerda, os melhores resultados foram conseguidos com uma corrente ecologista e uma corrente socialista ou reformista. E isso cria um equilíbrio, mas a nível nacional, esse equilíbrio não existe”, justificou.

Convencido que à esquerda nenhum candidato que esteja agora no horizonte pode chegar a uma segunda volta face ao atual Presidente da República ou à líder da extrema-direita Marine Le Pen, Joffrin quer introduzir novas ideias, mas sem formar um novo partido.

“Não, não temos ambição de ser um partido. Mas temos a ambição de ser um bloco de esquerda. Não queremos vir dividir, mas unir quem representa a classe média e que não se enquadra nem nos Verdes, nem na extrema-esquerda”, declarou.

Esse lugar, normalmente ocupado pelo Partido Socialista, está, segundo o ex-diretor, “enfraquecido”, o que levou também a uma inação da esquerda durante os últimos três anos, apesar de as lutas sociais em França se terem multiplicado face a Macron e ao partido que o levou ao poder, o Republique En Marche.

“Penso que a inação da esquerda se deveu desde logo à dura derrota eleitoral de 2017. Ao mesmo tempo, não surgiu uma nova força à esquerda desde aí e é preciso recriar uma nova força com propostas que avancem ideias novas e esse trabalho coletivo não foi feito até agora”, defendeu.

A associação foi lançada através de uma conferência de imprensa que decorreu há cerca de duas semanas e cerca de 40 signatários vindos dos mais distintos campos da vida profissional como a atriz Agnès Jaoui, o cantor Benjamin Biolay, a jornalista Laure Adler ou o sociólogo Michel Wieviorka.

Para os analistas e comentadores, este novo movimento de esquerda serve para relançar François Hollande, antigo Presidente da República e líder socialista, na política francesa. Hollande e Joffrin são amigos há muitos anos, mas o ex-jornalista diz que a esquerda precisa de outras figuras.

“Somos amigos, é verdade e falei-lhe deste projeto. Mas falei com outras pessoas. Sególene Royale [ex-candidata presidencial], Anne Hidalgo [atual presidente da Câmara de Paris], com intelectuais e outras figuras. Ninguém é capaz de dizer quem está bem posicionado para liderar a esquerda. Pode ser Hollande, embora ele não esteja na melhor posição, mas haverá outros”, indicou.

Questionado se esta união à esquerda foi inspirada pelo Governo socialista em Portugal com apoio parlamentar do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista, Joffrin diz que sim, mas que há uma diferença chave. “Para algo como isso existir é preciso que haja uma força com propostas, como o Partido Socialista português soube ter e depois podemos pensar então em acordos para governar”, afirmou.

Sobre a opção pessoal que tomou de deixar o jornalismo e lançar-se na política, Joffrin considera que “é um risco”, mas que não tem nada a perder.

“Foi uma decisão difícil e pensei durante muitos meses no que fazer. Ou continuava a ser jornalista até ao fim da minha vida profissional, mas ficar num jornal não me trazia grande risco. Preferi correr este risco, não tenho grande coisa a perder”, concluiu.

ZAP // Lusa

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