Motim na Marinha. Entra água no navio Mondego e militares denunciam ameaças

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João Homem Gouveia / Lusa

Navio-patrulha Mondego

O navio-patrulha Mondego atracado na Madeira.

Os 13 militares que recusaram embarcar no navio-patrulha Mondego, devido à alegada falta de condições de segurança, denunciam vários problemas na embarcação, nomeadamente o facto de meter água.

Entrava água no navio Mondego” e o “único motor precisava de manutenção há 2000 horas”. Estas são algumas das queixas dos 13 militares que seguiram para o chefe de gabinete do chefe de Estado-Maior da Armada (CEMA), almirante Henrique Gouveia e Melo, a título de justificação para a recusa em embarcarem para a missão de acompanhamento de um navio russo a norte de Porto Santo, na Madeira.

O Público teve acesso a essas queixas e nota que referem “limitações técnicas graves que comprometem a segurança do pessoal e do material e o cumprimento da respectiva missão”.

Após a recusa dos militares, a missão acabou por não ser cumprida por nenhuma outra embarcação.

Os militares denunciam “a entrada de água em dois momentos diferentes, falta de manutenção do único dos dois motores que equipam a embarcação, um dos três geradores de energia inoperacionais e diversas fugas de óleo“, entre outros problemas.

O navio foi construído em 1992, tendo sido adquirido pela Marinha Portuguesa à Dinamarca, em segunda mão, em 2014, como repara o Público. Até 2016, esteve a ser “adaptado nos estaleiros do Alfeite”, tendo depois ficado ao serviço da Marinha Portuguesa, frisa ainda o jornal.

Navios de guerra “podem operar em modo bastante degradado”

A Marinha já abriu processos disciplinares aos 13 militares envolvidos – quatro sargentos e nove praças – e a Polícia Judiciária Militar também está a investigar. Entretanto, vai substituir toda a guarnição de 29 homens destacados para o navio.

Quanto aos 13 militares alvos de processos, a Marinha entende que “não cumpriram os seus deveres militares, usurparam funções, competências e responsabilidades não inerentes aos postos e cargos respectivos”.

Os 13 militares alegam que o próprio comandante do NRP Mondego “assumiu, perante a guarnição, que não se sentia confortável em largar com as limitações técnicas” do navio.

Numa nota enviada à Lusa, a Marinha confirma que o NRP Mondego estava com “uma avaria num dos motores”, mas destaca que a missão que ia desempenhar era “de curta duração e próxima da costa, com boas condições meteo-oceanográficas”.

Quanto às limitações técnicas, a Marinha refere que os navios de guerra “podem operar em modo bastante degradado sem impacto na segurança”, uma vez que têm “sistemas muito complexos e muito redundantes”.

Mas a Marinha também já ordenou uma inspecção às condições de segurança do navio.

Militares estão “cansados” dos problemas

Os 13 militares implicados no caso incorrem em penas disciplinares graves, o que lhes pode valer uma pena de prisão de acordo com o Regulamento de Disciplina Militar.

Ao princípio da tarde de terça-feira, estes militares estavam retidos no navio, confirmou fonte da Marinha à Lusa. Um deles conta à SIC Notícias que estão a ser “ameaçados com prisão e privados de licença”.

Notando que está em causa um “navio com avarias”, este militar diz que a guarnição está “cansada” e que a decisão tomada só visou “proteger os militares”. “Não cumprimos a ordem de navegar porque sentimos insegurança no navio”, realça.

A Associação Nacional de Sargentos (ANS) já veio notar que é preciso entender o que levou os militares a tomarem esta decisão drástica.

Faltam mais 23,8 milhões anuais para manutenção

O caso está também a pôr em evidência o desinvestimento na Defesa, uma vez que a falta de verbas para reparações também contribuiu para a insubordinação dos militares.

O Expresso avança que o próprio Gouveia e Melo alertou, num documento apresentado em Dezembro passado, na Comissão Parlamentar de Defesa, que “a Marinha precisava, em média, de mais €23,8 milhões anuais para cumprir os ciclos de manutenção dos navios”.

Nos últimos cinco anos, a Marinha tem um “défice de 120 milhões de euros em manutenção”, de acordo com o mesmo documento citado pelo Expresso. Só em 2022, “esse “défice” foi de €32,8 milhões, para necessidades estimadas em €80 milhões por ano”, aponta ainda.

Essa falta de vernas tem levado a adiar, sucessivamente, pequenas e grandes reparações nos navios, com os problemas a agravarem-se.

A ministra da Defesa Nacional, Helena Carreiras, já veio dizer que “é da competência da Marinha aferir” da “operacionalidade dos meios”, bem como conduzir os procedimentos disciplinares de acordo com o regulamento militar.

Já o Presidente da República afirma que aguarda os resultados da investigação sobre o episódio, mas defende um reforço da manutenção nas Forças Armadas.

“Está em curso a investigação, vamos ver os resultados“, nota Marcelo Rebelo de Sousa, escusando-se a fazer, por enquanto, qualquer comentário sobre o comportamento dos militares.

Contudo, o chefe de Estado e comandante supremo das Forças Armadas defende que “é uma das prioridades no presente e no futuro próximo a manutenção” de equipamentos militares, não apenas na Marinha, mas “em todos os ramos”.

“O Orçamento para 2023 já reforçou muitíssimo a manutenção” e “a Lei de Programação Militar que está em preparação vai reforçar o financiamento da manutenção”, acrescenta Marcelo.

O Presidente da República também salienta que “sem manutenção há riscos de obsolescência e, portanto, de degradação das capacidades militares”.

ZAP // Lusa

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15 Comments

  1. O “vaso” já era de provecta idade quando foi adquirido à marinha da Dinamarca. Foi atamancado no Arsenal do Alfeite de acordo com um plano de cosmética de rejuvenescimento de custo limitado. Não teve mais nenhuma intervenção de relevo. Não havia nenhum outro “vaso” para o substituir porque estão todos nas mesmas condições. A marinha tem mais almirantes que navios e mais políticos que todos eles somados.
    Estamos perante a repetição do velho problema na marinha e no país.

  2. “…os navios de guerra “podem operar em modo bastante degradado sem impacto na segurança…”

    Ótimo! Assim já se pode poupar uma pipa de massa em manutenção! E pensar que há marinheiros que não percebem que é por alguma razão que os ensinam a nadar…

      • Sei o que é a guerra porque estive numa durante dois anos. E a questão é saber se a segurança nacional estava a ser posta em causa de tal forma pela passagem de um navio científico russo que justificava a saída de um navio em condições duvidosas. Mas o navio só ía sair para satisfazer a psicose anti-russa da NATO, sem que houvesse qualquer necessidade operacional reconhecida.

  3. O Estado Português está degradado em tudo, o Povo anda a ser governado por políticos licenciados em exame ha-doc. Por isso querem que os alunos passem mesmo sem saberem.

  4. Temos aqui duas questões relevantes e interligadas: A questão da quebra da subordinação militar e uma questão de denúncia do estado do equipamento militar. A primeira entra no âmbito da atuação das chefias militares, no campo disciplinar. A segunda transcende esse foro e permite a atenção do cidadão comum que se interroga sobre o estado dos equipamentos militares que parecem em perfeito declínio, como são os tanques militares que, de 37 temos apenas 3 a funcionar e, mesmo assim, parece que foram levados agora para a Alemanha para serem objeto de revisão. E aqueles comboios que o “ministro do desvario” comprou na sucata ferroviária espanhola, para depois gastar milhares e milhares no seu aproveitamento! É, portanto, a imagem do Portugal pobre, que o partido do governo bem acentuando de forma clamorosa. Este é o tal partido que ora desbarata os cofres do Estado (bancarrota), ora procura (em contrapartida e para camuflar aquela desgraça) dar a ideia de poupadinho com os cofres cheios e o país em anemia, sem investimento, descrente, sem ousadia.

  5. ….e não deixa de comum que os cacos do estado sejam colocados na Madeira.
    Enquanto os lisbas que nos governam não olharem para o mar e perceberem que as ilhas e o mar são o futuro como foram o passado , estamos tramados… Para eles o transito na 2ª circular é mais importante que toda a zona económica exclusiva da Madeira e dos Açores

  6. Eu já fui Marinheiro e se estivesse no activo nesta embarcação que mais parece ser um Barco de Recreio a Remos teria tomado a mesma posição em relação aos meus Camaradas.
    1ª Este navio Russo em aguas Portuguesas dentro das 200 milhas foi autorizado, se sim tudo bem,.
    2º Se não foi autorizado eu pergunto, a onde está a Força Aérea da Nato nos Açores ou Lisboa para obrigar este navio Russo a desviar a sua rota, para o exterior das 200 milhas Marítimas.
    Mais não digo e vamos ficar por aqui.

  7. Aqui há mais um problema a ter em conta.
    É preciso saber se estes marinheiros não cumpriram a ordem porque são apoiantes do Putin e por isso não queroiam incomodar o barco russo.
    Com esta hipótese é que é preciso ter cuidado.

    • Não foi nada que eu não pensasse, mas nada disse porque estou à espera do resultado do inquérito que dizem que está a ser feito.

  8. o problema aqui é o faz e depois reclama.
    se houvesse problemas e mortes, depois de mortos é que podiam reclamar. tambem está a dar polemica porque isto apareceu na comunicaçao social. se tivesse ficado so dentro da marinha, o problema estava resolvido e ninguem sabia de nada.
    esta mania de faz e depois reclama ja devia de ter acabado pois muitas vezes coloca a vida em risco
    se todos sabem que o navio estava com problemas, porque é que nao dizem a verdade e deixam de camuflar o problema
    aqui se vê o abandono do investimento nas forças armadas.
    é preferivel gastar dinheiro a salvar bancos

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