Como a Mossad preparou secretamente o ataque de Israel a partir do interior do Irão

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Kevin J. Gruenwald / USAF

Caças F-15 da Força Aérea de Israel

O ataque lançado na sexta-feira por Israel contra líderes militares, cientistas nucleares e instalações sensíveis do Irão dependeu da ativação de equipas de inteligência, armas pré-posicionadas e recursos infiltrados que estavam há muito tempo adormecidos em território iraniano, revela o The Washington Post.

Quando na sexta-feira os aviões israelitas atravessavam o céu em para atacar instalações nucleares e militares no Irão, equipas secretas de comandos, enxames de drones armados e explosivos escondidos em veículos comuns emergiam dos seus esconderijos no interior do Irão e dirigiam-se para os seus alvos.

Entre os alvos estavam comandantes militares, nove cientistas nucleares e líderes da elite da Guarda Revolucionária do Irão — muitos deles “ainda nas suas camas, nas suas casas”, segundo um alto funcionário de segurança israelita, que forneceu ao jornal norte-americano The Washington Post detalhes anteriormente não publicados.

Ao amanhecer, membros do círculo íntimo do Ayatollah Ali Khamenei, líder supremo do Irão, e várias figuras-chave do núcleo nuclear do país, estavam mortos.

Em alguns casos, as vítimas foram atingidas por drones com explosivos e outros dispositivos que abriram buracos nas laterais de apartamentos em arranha-céus e outras estruturas no centro de Teerão, segundo detalham funcionários de segurança israelitas e ocidentais, bem como declarações do Irão sobre as baixas conhecidas.

Para executar o ataque mais ambicioso e sofisticado na longa história de antagonismo entre as principais potências do Médio Oriente, agentes secretos israelitas estabeleceram uma base de drones em território iraniano profundo.

Além disso, conta o The Atlantic, os agentes recrutaram iranianos descontentes para apoiar a sua causa e contrabandearam sistemas de armamento através das linhas inimigas, entre outras táticas de espionagem que permitiram a Israel conduzir o seu ataque surpresa.

A operação, denominada “Rising Lion” (“Leão em Ascensão”) pelo governo israelita, passou pela ativação de equipas de inteligência clandestinas, armamento pré-posicionados e recursos militares que estiveram adormecidos em território iraniano durante semanas ou meses.

A estratégia é muito semelhante à usada pela Ucrânia no ataque com drones que no início do mês destruiu mais de 40 aviões militares em território russo, e à que a própria Mossad, o serviço de inteligência de Israel, usou nos ataques com pagers que em setembro explodiram em uníssono, matando dezenas de militantes do Hezbollah.

Os assassinatos seletivos fizeram parte de uma “primeira vaga” no plano de ataque destinado a “matar decisores” na Guarda Revolucionária e no regime do Irão enquanto “estavam em locais que conhecíamos”, disse ao The Washington Post o alto funcionário de segurança israelita.

Os funcionários israelitas, que destacam o sucesso dos ataques, falaram sob condição de anonimato, citando o sigilo da operação, que se expandiu nas horas seguintes para incluir ataques aéreos e com mísseis a instalações nucleares e militares iranianas.

Entre os mortos na fase inicial estavam o Major-General Mohammad Bagheri, comandante militar do Irão; o Major-General Hossein Salami, comandante-chefe da Guarda Revolucionária, a principal força paramilitar do Irão; e o físico Mohammad Mehdi Tehranchi, presidente da Universidade Azad Islâmica em Teerão.

Abedin Taherkenareh / EPA

Iranianas em frente a um cartaz com fotografias do Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas iranianas, General Mohammad Bagheri, do chefe do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica, Hossein Salami, do Comandante da Força Aeroespacial do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica, Amir Ali Hajizadeh, e dos cientistas Fereidun Abbasi e Mohammad Mehdi Tehranchi, mortos no ataque de Israel

Os assassinatos fizeram parte de uma operação em várias fases, que foi acelerada nos últimos meses mas estava “em preparação há muito tempo“, exigiu um “planeamento ousado e sofisticado“, bem como “manobras táticas de diversão”, disse ao Post um segundo alto funcionário de segurança israelita.

As fases finais de preparação desenrolaram-se enquanto decorriam negociações nucleares entre os EUA e o Irão, e envolveram agentes da Mossad recrutados para “contrabandear grandes quantidades de armamento especial para o Irão, implantá-lo por todo o país e lançá-lo em direção a alvos designados”, detalha um dos funcionários israelitas.

As “operações de eliminação” foram uma das áreas em que a Mossad interveio na operação. A agência trabalhou “ombro a ombro durante anos” com as Forças de Defesa de Israel para reunir dossiês sobre figuras-chave da liderança iraniana, incluindo localizações de bunkers e residências.

Mais recentemente, unidades de comandos da Mossad começaram a implantar “sistemas de armas guiadas de precisão em áreas abertas” perto das baterias de mísseis terra-ar do Irão para eliminar capacidades antiaéreas nas primeiras horas dos ataques, disse ao Post um funcionário de segurança israelita.

A Mossad estabeleceu ainda no interior do Irão, muito antes do ataque, “uma base de drones explosivos” e armas que foram ativadas e direcionadas para locais de lançamento de mísseis terra-terra na base iraniana de Esfajabad, perto de Teerão, disse o funcionário.

Para neutralizar outras defesas aéreas que poderiam ser usadas contra jatos israelitas, foram “implantados secretamente sistemas de ataque e tecnologias avançadas em veículos”, uma aparente referência a explosivos escondidos que poderiam ser detonados remotamente para danificar sistemas de defesa aérea.

O funcionário de segurança israelita forneceu detalhes adicionais sobre este aspeto da operação, que visava camiões usados para mover mísseis iranianos para locais de lançamento. “Cada camião que elimina, elimina quatro mísseis“, disse o funcionário.

O impacto estratégico da operação levará dias ou semanas a ser avaliado, disseram funcionários de segurança ocidentais, que observaram que é demasiado cedo para dizer se o ataque representará mais do que um revés temporário nos alegados esforços do Irão para adquirir capacidades de armas nucleares.

Funcionários iranianos negam que o Irão esteja a tentar desenvolver armas nucleares e afirmam que o seu programa nuclear é exclusivamente para fins pacíficos.

Os assassinatos simultâneos de tantas figuras-chave da liderança pareceram expor uma surpreendente incapacidade do Irão de proteger os líderes dos seus estabelecimentos militar e científico de um adversário que se presume estar a visar esses indivíduos há anos.

Funcionários israelitas advertiram na sexta-feira que a campanha de decapitação irá continuar. Segundo uma das fontes do Post, a Mossad enviou mensagens aos comandantes de segunda linha e funcionários do regime que vão provavelmente ser escolhidos para substituir os mortos.

“Alguns receberam uma carta debaixo da porta; alguns receberam uma chamada telefónica; alguns receberam uma chamada no número dos seus cônjuges” — mensagens que, diz o funcionário israelita, são destinadas a deixar claro que “sabemos onde estão e que temos acesso a eles“.

ZAP //

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