Israel instalou explosivos nos pagers do Hezbollah há meses (numa fábrica europeia)

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WAEL HAMZEH/EPA

Amigos e familiares de feridos chegam ao Centro Médico da Universidade Americana de Beirute após o incidente com dispositivos sem fios de membros do Hezbollah em Beirute.

Não foram hackers nem as baterias de lítio: Israel implantou há meses, “em produção”, na Hungria, explosivos com interruptores remotos que os terão feito explodir, segundo a Reuters. Esta terça-feira, explodiram rádios portáteis.

Ultrapassados na tecnologia ocidental, os pagers tornaram-se uma parte vital da rede de comunicações do Hezbollah este ano, depois de os líderes do grupo começarem a recear que a sua rede de telecomunicações estivesse comprometida, que os israelitas estivessem a espiar os seus contactos ou a localizar a sua posição.

De um dia para o outro, a ordem dos líderes do Hezbollah passou a ser outra: “deitem os pagers fora”.

Milhares destes aparelhos detonaram em uníssono esta terça-feira, em vários pontos do Líbano, e mataram 12 pessoas, deixando ainda mais de três mil feridos, 200 dos quais em estado crítico, segundo as autoridades sanitárias libanesas.

Esta quarta-feira, voltaram a explodir dispositivos, desta vez rádios portáteis, primeiro numa zona próxima de um funeral de vítimas mortais do ataque do dia anterior, segundo fontes da Reuters, e mais tarde, uma segunda onda de explosões elevou a contagem de vítimas mortais para pelo menos 20 pessoas, e 450 feridos.

Hezbollah e Líbano culparam desde cedo Israel pelas detonações. Telavive não reivindicou o ataque, mas, ao que tudo indica, os pagers foram adulterados por Israel.

Não foi obra de hackers (nem um acidente com as baterias de lítio)

Logo a seguir ao ataque, levantou-se a hipótese de piratas informáticos terem descoberto como explodir remotamente os aparelhos, injetando malware neles para os fazer aquecer e explodir.

Alguns membros do grupo libanês terão efetivamente sentido os pagers a aquecer e deitaram-nos fora antes de explodirem. “Todos os que receberam um pager novo, deitem-no fora“, dizia uma mensagem de voz que circulou entre o Hezbollah, obtida pelo The Wall Street Journal.

No entanto, a possibilidade de pirataria foi afastada.

Não há capacidade de pirataria remota que possa gerar esse tipo de explosão cinética. Algum tipo de componente explosivo físico provavelmente fazia parte da equação“, diz o hacker e investigador de segurança Keren Elazari à Sky News.

Vários peritos reforçam ainda que as explosões não se assemelham a um incêndio de uma bateria de lítio.

Mossad implantou explosivos nos pagers

Israel terá colocado, “ao nível da produção”, pequenas quantidades de explosivos junto das baterias de 5.000 pagers, com interruptores remotos que os terão feito explodir, segundo as fontes libanesas da Reuters e do NYT.

À Reuters, uma fonte libanesa diz que foi a Mossad (serviços secretos israelitas), a responsável por colocar a placa com material explosivo nos dispositivos.

“É muito difícil detetá-la. Mesmo com qualquer dispositivo ou scanner”, disse a fonte. Facto é que os explosivos dos pagers, que chegaram já na primavera passada às mãos do Hezbollah, passaram despercebidos durante meses.

Pagers foram fabricados na Europa

Os aparelhos eletrónicos foram encomendados há meses pelo grupo xiita e adquiridos por uma empresa taiwanesa, Gold Apollo, segundo as autoridades e  alguns funcionários não identificados contaram inicialmente ao The New York Times.

A Reuters avança que os aparelhos foram fabricados por uma empresa europeia, BAC, sediada em Budapeste, na Hungria, que tinha licença para usar a marca e adotar o nome da Gold Apollo, sediada em Taiwan.

A agência diz ter confirmado por si, através da análise direta de alguns pagers que explodiram, que o design corresponde aos pagers da Gold Apollo.

A Gold Apollo nega ter fabricado os pagers. “O produto não era nosso, apenas tinha a nossa marca”, disse o fundador da empresa Hsu Ching-Kuang à Reuters: foi “muito embaraçoso”, disse, mas considera a sua empresa, também, uma vítima do sucedido.

“A Apollo Gold Corporation estabeleceu uma autorização de marca própria a longo prazo e uma cooperação de agência regional com a BAC”, confirmou a empresa em comunicado enviado à Sky News.

A confirmar-se o ataque orquestrado, esta não seria a primeira vez que os serviços secretos israelitas armadilhariam um dispositivo móvel para atingir operacionais. Em 1986, terão detonado à distância um telemóvel que pertencia a um palestiniano alegadamente mentor de vários ataques terroristas.

Os ataques entre os dois lados têm intensificado desde o ataque do Hamas a Israel de 7 de outubro. O Hezbollah prometeu retaliar após a explosão mortífera dos pagers.

Tomás Guimarães, ZAP //

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4 Comments

  1. A Mossad tem mãos em tudo, tecnologia para tudo. Só não consegue encontrar e resgatar os reféns sem matar milhares de civis e inventar túneis secretos. Da mesma forma que não conseguiu antecipar o ataque de Outubro.

  2. Os terroristas do Hezbollah não são pessoas, são monstros. Portanto, sim, parabéns, Israel!!! Ideia brilhante para matar apenas terroristas. E deviam ter morrido mesmo todos. A terra seria hoje um lugar muito melhor.

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