O cardeal Bernard Law, antigo arcebispo de Boston que foi acusado de encobrir casos de abusos sexuais de menores envolvendo o clero, desencadeando a pior crise do catolicismo nos Estados Unidos, morreu esta terça-feira aos 86 anos.
A notícia da mortefoi avançada por uma fonte do clero que falou sob anonimato à Associated Press (AP), sendo de esperar, mais tarde, um anúncio oficial por parte do Vaticano.
Bernard Law, que tem estado doente e foi recentemente hospitalizado em Roma, chegou a ser um dos mais importantes líderes da Igreja Católica nos Estados Unidos.
O cardeal caiu em desgraça em 2002, depois de o jornal The Boston Globe ter publicado uma série de artigos, com base em registos da Igreja, revelando que não tomou medidas contra os sacerdotes que tinham sido denunciados reiteradamente por abusos sexuais, limitando-se a transferi-los de paróquia durante anos, sem alertar os pais das crianças ou a polícia.
Inicialmente, Law tentou controlar o crescente escândalo no seio da própria arquidiocese. Primeiro recusou comentar, depois pediu desculpa e prometeu uma reforma.
Contudo, centenas de outros registos da Igreja vieram a público descrevendo como o cardeal e outros membros do clero estavam mais preocupados com os sacerdotes acusados do que com as vítimas de abusos.
No meio da revolta contra o cardeal, que incluiu raras repreensões públicas por parte de alguns dos padres da sua diocese, Law apresentou a sua demissão ao Papa João Paulo II, que a aceitou, em 13 de dezembro de 2002.
Logo depois de estalar o escândalo, em que o cardeal foi acusado de manter em funções dezenas de padres com antecedentes pedófilos conhecidos, foram interpostos perto de 500 processos contra padres e por negligência contra a arquidiocese de Boston.
A queda em desgraça de Law foi brutal e figurou como um raro passo para a Igreja, que resiste profundamente à pressão pública, mas que não podia mais fazê-lo atendendo à dimensão da crise.
Desde 1950, mais de 6.500, ou 6% dos padres dos EUA, foram acusados de molestar crianças e a Igreja Católica pagou mais de três mil milhões de dólares em acordos às vítimas, de acordo com estudos encomendados por bispos norte-americanos e artigos divulgados pelos media.
Como líder da arquidiocese no epicentro do escândalo, Law ficou marcado como um símbolo do fracasso generalizado da Igreja em proteger as crianças. No entanto, ainda tinha algum apoio por parte do Vaticano, tanto que, em 2004, foi nomeado arcipreste da Basílica de Santa Maria Maior, uma das quatro principais de Roma.
Quando o Papa João Paulo II morreu, no ano seguinte, Law estava entre os bispos que presidiram à missa pelo pontífice na Basílica de São Pedro. Além disso, continuou durante vários anos a servir nos dicastérios do Vaticano ou em comités de políticas, incluindo a Congregação para os Bispos, que recomenda nomeações ao Papa.
Nascido em 4 de novembro de 1931, Bernard Law foi ordenado padre em 1961. Depois de um cargo na conferência episcopal, foi nomeado bispo da diocese de Springfield-Cape Girardeau, no Missouri, e mais tarde, em 1984, arcebispo de Boston, uma importante nomeação dado tratar-se da quarta maior diocese dos Estados Unidos.
Apesar de ter feito campanha pelos direitos civis no Mississippi, de ter sido uma voz proeminente noutros domínios, um visitante regular da Casa Branca durante a presidência de George W. Bush ou de ter trabalhado de perto com líderes religiosos da América Latina, atuando como enviado não-oficial do Papa a Cuba, o legado de Law foi ofuscado pelo escândalo de pedofilia que atingiu o clero de Boston.
Esse escândalo encontra-se retratado no filme “Spotlight”, vencedor do Óscar de Melhor Filme em 2016, que relata a investigação jornalística do The Boston Globe que revelou os abusos sexuais de menores na Igreja Católica daquela cidade.
// Lusa
Já está a dar contas ….
Se o inferno existir, este vai direitinho para lá!…