O presidente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) morreu, esta quinta-feira, aos 65 anos, disse fonte partidária à Lusa.
Afonso Dhlakama vivia refugiado na serra da Gorongosa, no centro do país, desde 2016, tal como já o havia feito noutras ocasiões, quando se reacendiam os confrontos entre a Renamo e as forças de defesa e segurança de Moçambique.
O líder histórico da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), que morreu aos 65 anos vítima de doença, autointitulava-se “pai da democracia” moçambicana, passando quase toda a sua vida a fazer resistência armada contra a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder.
De acordo com o secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, o corpo do presidente chegou à morgue do Hospital da Cidade da Beira durante a madrugada. “Perdemos o nosso pai, o nosso mestre, a pessoa que é a luz da maioria dos moçambicanos”, referiu o dirigente do partido à reportagem da Televisão de Moçambique (TVM).
Fonte do partido revelou que Dhlakama sofreu uma crise relacionada com diabetes, o que levou os guardas com que se encontrava na sua residência a pedir apoio aéreo, fretado a uma empresa privada da cidade da Beira. Um helicóptero deslocou-se até à Serra da Gorongosa, mas sem conseguir encontrar um local apropriado para aterragem.
Depois de descer a alguma distância, um médico assistiu Dhlakama, mas terá indicado que este dificilmente resistiria ao transporte para o helicóptero. A morte acabaria por ser declarada no local.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, manifestou dor com a morte de Dhlakama, admitindo que enviou um helicóptero para transferir o líder da Renamo para tratamento médico no estrangeiro.
“O momento torna-se muito mau para mim, porque eu, desde ontem, estive a fazer um esforço para ver se transferia o meu irmão para fora do país”, afirmou o chefe de Estado, falando ao telefone para o canal público. “Estava há uma semana mal”, declarou ainda.
Repetindo que se sentia mal com a sua morte, o Presidente moçambicano disse que o líder da Renamo lhe pediu para que o processo de paz em curso no país terminasse com sucesso. “Da última vez que falou disse ‘não vamos falhar nada'”.
O chefe de Estado apelou ao país para que a morte de Dhlakama não seja usada para qualquer tipo de aproveitamento. A imprensa internacional salienta que Moçambique poderá viver tempos de incerteza no futuro próximo com a morte de um dos mais antigos “guerrilheiros” em África.
Um “parceiro estratégico para a paz”
A Frelimo já reagiu à morte de Dhlakama, considerando que o líder da oposição era um parceiro estratégico para a paz e estabilidade. “Para nós, colheu-nos de surpresa e com muita dor, era um parceiro estratégico para a paz e estabilidade no país”, afirmou o porta-voz da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), Caifadine Manasse, em declarações ao canal privado STV.
Manasse assinalou o empenho de Dhlakama no alcance com o Presidente moçambicano de um entendimento para uma proposta de revisão pontual da Constituição da República sobre o aprofundamento da descentralização do país.
“Tudo indicava que ele estava a percorrer um caminho para a paz“, acrescentou, pedindo serenidade e compromisso com a paz aos membros da Renamo. “A Renamo vai-se reorganizar, eles têm interesse em ver esta paz”, enfatizou.
O presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, que formou o partido em 2009, depois de abandonar a Renamo, classificou a morte de Dhlakama como “uma grande tragédia nacional”.
“Morre um homem que lutou por causas justas, que sabia o que queria” e que merece “todas as insígnias e direitos de um herói nacional”, referiu o líder do terceiro maior partido moçambicano, com representação parlamentar, em declarações à STV.
Afonso Macacho Marceta Dhlakama nasceu a 1 de janeiro de 1953, em Mangunde, distrito de Chibabava, em Sofala, filho de um líder tradicional, o régulo Mangunde.
Pouco depois do 25 de Abril em Portugal, que abriu as portas à independência, a 25 de junho de 1975, Dhlakama tinha 21 anos e pouco se sabe das razões que o levaram a deixar o então praticamente único movimento de libertação moçambicano que lutou contra o poder colonial português entre 25 de setembro de 1964 e o dia do cessar-fogo, 8 de setembro de 1974.
Começou a sua atividade política na Frelimo em 1974, mas cedo mudou de rumo, para aderir e tornar-se um dos cofundadores da Renamo. Assumiu a liderança do partido aos 26 anos, sucedendo a André Matsangaíssa na condução de uma guerrilha que se assumiu como frente de resistência contra o sistema comunista instaurado em Moçambique pela Frelimo. Deixa viúva e nove filhos.
ZAP // Lusa