Morreu o actor João Ricardo

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O actor e encenador João Ricardo, 53 anos, morreu esta quinta-feira, em Lisboa, disse à Lusa a agência do actor.

O actor João Ricardo, conhecido pelo seu trabalho na televisão, no teatro e no cinema, nasceu em 27 de maio de 1964, em Lisboa. Divorciado e pai de um único filho, dizia ser este a sua grande paixão e a razão por que nunca teria outros filhos.

Em diversas entrevistas, o actor confessou que teve uma vida difícil, tendo fugido de casa do pai numa noite em que este não o deixou entrar, porque não cumpriu a hora estipulada para voltar. Assim, aos 16 anos, João Ricardo viu-se a viver e a dormir na rua, e durante seis meses sustentou-se a fazer mímica na rua Augusta.

A sua carreira como actor iniciou-se em 1989, com uma participação especial na série de televisão “Caixa Alta”, da autoria de Tozé Martinho e Manuel Arouca, exibida na RTP.

Ainda na estação pública, o ator participou como ator convidado em “O quadro roubado” e “Nós os ricos”, com destaque de elenco principal em “Lelé e Zequinha” e “Cruzamentos”, aqui já com 35 anos, dez anos depois de ter iniciado actividade. Em 2003, teve a sua primeira participação fora da RTP, numa telenovela da TVI, intitulada “Coração Malandro”.

Continuou a participar em diversas séries nos três canais de televisão até 2010, ano em que assinou um contrato de exclusividade com a SIC e protagonizou uma das telenovelas com mais sucesso da estação, “Laços de Sangue”, onde interpretou Armando Coutinho, a sua personagem mais famosa.

No cinema fez parte dos elencos dos filmes “A passagem da noite” (2003), de Luís Filipe Rocha, “A costa dos murmúrios” (2004), de Margarida Cardoso, “Os meus espelhos” (2005), de Rui Simões, e ainda “Corrupção” (2007), “A corte do Norte” (2008) e “Filme do Desassossego” (2010), todos de João Botelho.

No teatro, teve uma colaboração regular com o Teatroesfera e com o Teatro Nacional D. Maria II, onde encenou “Sonho de uma noite de verão” (2004) e “A ilha encantada” (2005), de William Shakespeare. Foi também director artístico do Teatro de Carnide.

A sua carreira teatral conta ainda com a encenação, em 2002, do monólogo “A voz humana”, com Florbela Oliveira, e a participação em peças como “Ricardo II” e “Hamlet”, ambas em 2007.

Fez também teatro radiofónico, nomeadamente na série Teatro Sem Fios, da Antena 2, onde protagonizou “Três Parábolas da Possessão”, de Francisco Luís Parreira.

Além da representação e encenação, João Ricardo teve outras paixões como a natação, a escrita e a culinária. Tendo assumido em entrevistas que gostava de cozinhar e que tirara um curso de cozinha, confessou que tinha o sonho de abrir um restaurante.

O gosto pela escrita concretizou-o com um livro infantil, publicado em 2013 pela Dinalivro, com ilustrações de Ana Sofia Gonçalves, intitulado “Queres namorar comigo?”, que conta a história de um caracol que se apaixona por uma girafa.

No dia 07 de outubro de 2016 foi operado de urgência a um tumor no cérebro, depois de se ter sentido mal durante as gravações da novela “Rainha das Flores”.

Após a remoção do tumor e algumas sessões de radioterapia, o actor regressou à televisão e às filmagens integrando o elenco da novela “Espelho d’Água”, actualmente a ser transmitida pela SIC.

Foi também neste período que João Ricardo se dedicou a cumprir um sonho antigo — o de atravessar a nado o estreito de Gibraltar -, e começou a treinar duas vezes por dia, em piscina, com vista a preparar-se para fazer a travessia em dezembro de 2018.

No entanto, em maio deste ano, voltou a sentir-se mal e teve de abandonar tudo, incluindo a participação na novela, devido a uma reincidência do cancro que o obrigou a retomar tratamentos, de radio e quimioterapia.

No dia 26 de outubro, a agência do actor, a Layjan, fez um comunicado confirmando o reaparecimento do tumor. “O actor está em fase de tratamentos”, lia-se na página oficial de João Ricardo no Facebook. “Por ser uma doença complicada”, a agência pedia respeito por “esta fase menos boa da vida” do actor.

João Ricardo morreu ao final da tarde, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

// Lusa

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