“Espero que o PSD mude de vida.” Moreira da Silva poderá disputar liderança

Jorge Moreira da Silva não poupa críticas ao atual estado do PSD. Falando como “militante” que “diz o que pensa”, o ex-dirigente do PSD e ex-ministro do Ambiente admite disputar a liderança do partido.

Para Jorge Moreira da Silva, quando se é líder do PSD está-se a pilotar um Fórmula 1. “Não há espaço para falhar uma mudança ou uma velocidade. Quando se está noutro tipo de modalidade mais júnior há sempre forma de corrigir a trajetória porque não se vai a uma velocidade estonteante. Quando se é candidato a primeiro-ministro, não há margem de manobra para erros. Esse foi um erro sério. Eu espero que o PSD recupere dele a tempo das legislativas”, disse esta quarta-feira, na Na Grande Entrevista da RTP₃.

O ex-dirigente do PSD e antigo ministro do Ambiente afirmou que o partido teve resultados “dececionantes” nas eleições europeias do passado dia 26 de maio e que deve “mudar de trajetória” a tempo das eleições legislativas de outubro. Se não o fizer, estará a ignorar o recado dos eleitores, disse.

“Face aos resultados, que são dececionantes, e que traduzem um desastre eleitoral para o PSD, o normal teria sido que o líder tivesse criado as condições para um refrescamento da proposta política do partido a tempo das legislativas.” O “refrescamento” de que fala Moreira da Silva podia ter acontecido de várias formas, mas com um único elo comum: tinha sempre de ser desencadeado pelo líder do partido que, em vez disso, nada fez.

Moreira da Silva considera que o sinal podia ter sido dado não necessariamente através da demissão de Rui Rio, mas, por exemplo, através da convocação de primárias abertas a simpatizantes para a escolha do candidato social-democrata a primeiro-ministro, como aconteceu com António Costa e António José Seguro.

Pelo menos para já, Jorge Moreira da Silva não desafia o líder, mas se esse cenário tivesse sido colocado, não teria faltado à chamada. “Não diria isto se depois ficasse em casa. Se tivesse havido uma predisposição do líder do partido para clarificar a liderança, eu não poderia ficar em casa, acabaria por dar o meu contributo, e estou convencido de que outros o fariam.”

Ainda assim, o antigo governante sublinhou que isso não é o mesmo que dizer que, no futuro, será candidato à liderança do PSD: “No futuro se verá.”

O calendário preocupa Moreira da Silva, que considera que o tempo que falta até às legislativas é demasiado curto. Para o antigo ministro de Pedro Passos Coelho entre 2013 e 2015, um cenário de primárias com várias propostas políticas seria a “melhor pré-campanha eleitoral para as legislativas”, destaca o Observador.

Erros estratégicos e táticos do PSD

Nas últimas eleições, o PSD errou e Moreira da Silva não hesitou em pôr a descoberto as falhas – quer de estratégia, quer táticas – do partido. Em primeiro lugar, a “nacionalização das eleições europeias“, que Moreira da Silva diz ter sido desencadeada primeiro pelo PSD e não somente por António Costa.

Em segundo, “o dossiê professores“, que permitiu a criação de dúvidas sobre o carácter de responsabilidade orçamental que é “uma das marcas do PSD”. Para o ex-ministro do Ambiente, Rui Rio não tem margem para errar e este erro com os docentes pode ter sido crucial.

“Analisei os resultados concelho a concelho e existem sinais de preocupação. O PSD deixou de primeira escolha em muitos concelhos, e os partidos não são eternos: se partidos não mudam, as pessoas mudam de partido”, rematou.

Sobre a possibilidade de o Partido Social Democrata sair derrotado nas próximas eleições legislativas, Jorge Moreira da Silva deixa claro que, nesse caso, não restam dúvidas: seria “evidente” que o PSD teria de mudar de liderança.