Rui Garcia e Joaquim Santos, autarcas da Moita e do Seixal, são os principais rostos do bloqueio do aeroporto do Montijo. António Costa está “perplexo” com a decisão do PSD e alerta que começar do zero terá custos muito elevados.
Rui Garcia, presidente da Câmara da Moita, e Joaquim Santos, autarca do Seixal, estão inflexíveis quando à possibilidade de o novo aeroporto ser construído no Montijo. Ao Público, esta quinta-feira, o presidente da Câmara do Seixal deixou claro: “Só por cima do meu veto”.
Rui Garcia assume a mesma posição. “A nossa posição está fundamentada, não é um capricho nem uma estratégia político-partidária. Não estamos à venda.”
No entanto, os autarcas não afastam a possibilidade de virem a conversar com o Governo. “Admitimos dialogar e discutir tudo, mas só mudamos de posição se mudarem algumas circunstâncias”, disse Rui Garcia. Quando questionado sobre a que circunstâncias se refere, respondeu: “Mudar-se a localização para Alcochete“.
“Nunca tivemos nenhuma reunião formal com o Governo. Desde que foi anunciado o projeto, não houve qualquer encontro, embora o senhor primeiro-ministro o tenha prometido”, denuncia Joaquim Santos, assegurando que os autarcas do PCP estão “a favor do desenvolvimento da região e do país”, mas que a melhor localização para o novo aeroporto é Alcochete.
Alcochete “tem DIA [Declaração de Impacte Ambiental] favorável há dez anos e é só começar a construir”. “Se não acreditam nos nossos argumentos, leiam os de José Sócrates”, atirou o autarca do Seixal, referindo-se ao artigo de opinião do antigo ex-primeiro-ministro, publicado esta semana no Expresso.
Rui Garcia e Joaquim Santos estão na linha da frente da contestação, mas contam com o apoio de outros três autarcas da região: Palmela, Setúbal e Sesimbra também deram parecer negativo à localização do aeroporto no Montijo e estão igualmente irredutíveis na opção por Alcochete.
António Costa avisa: não há plano B
À entrada do Conselho de Ministros descentralizados, que decorreu esta quinta-feira em Bragança, António Costa disse que “toda a gente sabe que a cada dia a obra é cada vez mais urgente e, portanto, se queremos reabrir tudo – como eu sempre disse não há plano B ao Montijo”.
“O plano B ao Montijo é recuar sete anos e recomeçar do zero agora com a hipótese de Alcochete. Isso terá custos muito grandes para a economia do país e, portanto, acho que todos devem agir com responsabilidade”, sustentou o primeiro-ministro.
António Costa explicou que o PS decidiu aceitar dar seguimento às decisões que tinham sido tomadas pelo Governo do PSD/CDS-PP de Passos Coelho, “porque nós não podemos chegar ao Governo e achar que vamos começar tudo do princípio.”
“O país não começa quando nós chegamos ao Governo. O país é um contínuo e nós temos de respeitar as decisões legítimas ainda que não concordemos com elas”, defendeu, apelando à responsabilidade todos para que esta obra, “de grande importância para o país”, não seja novamente adiada.
Em relação assumida pelo PSD, que disse não estar disponível para alterar a lei que permite a qualquer uma das autarquias afetadas pela construção do aeroporto do Montijo vetar o avanço do projeto, Costa defendeu que o caso dos sociais-democratas é “diferente” do dos outros partidos.
“Foram feitos os estudos que demonstravam a viabilidade ambiental da solução Montijo, foram ouvidos todos os partidos sobre essa matéria, houve alguns, como o PCP, que sempre disseram que era contra a localização do Montijo e defendiam Alcochete. O caso do PSD foi diferente”, referiu, citado pelo Diário de Notícias.
António Costa frisou que, num primeiro momento, o PSD afirmou que o Governo andou a “perder tempo ao não executar imediatamente uma decisão que tinha sido tomada pelo Governo” da sua cor política.
“Ainda hoje está na lá no Montijo um cartaz a dizer ‘Montijo já’ e, portanto, fico bastante perplexo para perceber se o PSD muda de posição ou qual é a posição do PSD. Porque dizer Montijo sim, mas não vamos alterar uma lei que permite a um só município inviabilizar uma infraestrutura que é de alcance nacional é algo que nós temos de meditar efetivamente”, disse.
O primeiro-ministro acrescentou que o Governo está em diálogo com todos os municípios, designadamente com o município da Moita e com o do Seixal, por forma a perceber qual o ponto de vista daqueles municípios.