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Montenegro admite envio de militares portugueses para a Ucrânia

José Sena Goulão / Lusa

A acontecer, “não será a primeira nem a última vez”, mas ainda é cedo para tomar uma decisão, diz primeiro-ministro.

O primeiro-ministro Luís Montenegro admitiu esta quarta-feira a possibilidade de Portugal enviar militares portugueses para a Ucrânia no âmbito de um processo de paz “com garantias de segurança”, mas ressalvou que ainda é cedo para tomar essa decisão.

“Não estamos ainda no tempo de o definir e decidir em concreto. É precoce estarmos hoje a tomar uma decisão sobre se vamos ter ou não militares das nossas Forças Armadas num hipotético teatro de operações na Ucrânia”, respondeu Luís Montenegro ao PS, no parlamento, durante o debate preparatório do Conselho Europeu.

O primeiro-ministro disse que, caso haja “um processo de paz, com garantias de segurança, não será a primeira nem a última vez” que Forças Armadas portugueses darão o seu contributo neste âmbito.

“Como contribuem hoje para assegurar a manutenção da paz, a salvaguarda de operações de dissuasão”, referiu, dando como exemplo a presença de militares portugueses em missões na Roménia, Eslováquia ou Lituânia.

Europa tem três desafios, diz Montenegro

O primeiro-ministro defendeu ainda que “a Europa tem de ser rápida” e responder “com políticas que promovam um crescimento coeso de todo o seu espaço, de modo a poder afirmar-se no contexto internacional como um bloco comercial competitivo, com capacidade produtiva, com capacidade de poder ombrear com os outros blocos comerciais na conquista de mercado”.

Com este objetivo, Montenegro apontou três desafios, começando pelo da simplificação.

“Nós precisamos de uma economia, de uma relação entre os cidadãos, as empresas e a administração menos complexa e, por via disso, mais indutora de capacidade transformadora. Não podemos ombrear no mercado internacional com outras geografias onde as exigências e a complexidade são menores e, por via disso, os processos produtivos são mais ágeis e tornam a capacidade produtiva mais eficiente”, afirmou.

Como segunda prioridade apontou a área energética, considerando que a Europa “não pode ficar a queixar-se de ter pouca autonomia e ter um custo energético que é quatro, cinco vezes superior a outros blocos comerciais, em particular o americano, e não fazer nada quanto a isso”.

“Parece que continua tudo na mesma e nós não conseguimos explorar a capacidade produtiva que temos dentro de nós”, afirmou, salientando que é um problema que afeta especialmente a Península Ibérica.

Finalmente, o primeiro-ministro defendeu a união das poupanças, a união bancária e a união financeira “como traves-mestras de uma capacidade de financiamento” da União Europeia.

“Não podemos assistir, impávidos e serenos, a que as poupanças europeias ajudem o dinamismo económico, por exemplo, dos Estados Unidos da América, em vez de ajudarem o financiamento das pequenas e médias empresas europeias para poderem ser mais competitivas”, alertou.

A Europa não tem “uma possibilidade de afirmação que não seja como um bloco”, a nível político, económico, e nas áreas de segurança e defesa, reforçou.

Trump: conversa “muito boa” com Zelenskyy

Esta quarta-feira, Donald Trump falou ao telefone com o presidente ucraniano sobre a sua chamada desta terça-feira com Vladimir Putin, na qual o presidente russo aceitou um cessar-fogo limitado de 30 dias, exigindo, no entanto, o fim da ajuda militar europeia à Ucrânia.

Segundo o presidente dos EUA, a conversa de cerca de uma hora com Volodymyr Zelenskyy foi “muito boa” e serviu para “alinhar as exigências e necessidades” de Kiev e Moscovo sobre um cessar-fogo no conflito.

Luís Montenegro considerou este primeiro sinal de cessar-fogo “positivo”, apesar de não ser “a situação desejável”. Já o Presidente da República manifestou-se insatisfeito com a trégua limitada.

“Aquilo que Portugal tem defendido é que o cessar-fogo, bem-vindo, não devia ser uma ilusão, devia ser uma oportunidade para construir uma paz digna, justa, duradoura. Ficámos ontem a saber que não é ainda isso. Não se trata de ser um primeiro passo para a resolução do problema e a criação de condições para uma paz justa, digna e duradoura. Nessa medida, embora sendo esperado, ou temido, não é uma boa notícia”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

ZAP // Lusa

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