Georgios Kefalas / EPA

Yuval Raphael (Israel) na final do Festival Eurovisão da Canção 2025
Áustria venceu, Suíça ficou de boca aberta. Portugal ocupou um lugar ao qual já não estamos habituados. E a “guerra” entre Israel e Espanha.
Mais uma edição do Festival Eurovisão da Canção, mais alguns episódios particulares para partilhar.
Desta vez, o evento realizou-se em Basileia, Suíça, e quem ganhou foi a vizinha Áustria. O cantor de ópera JJ levou o troféu para casa, na terceira vitória austríaca neste festival.
A música, uma espécie de electro-balada, tem o título Wasted Love. Era uma visão dos pensamentos mais profundos de JJ, numa história de um amor não correspondido.
“Não há amor desperdiçado. O amor nunca é desperdiçado. Há tanto amor que podemos espalhar e devemos usar o amor como a força mais poderosa do planeta Terra”, afirmou o cantor.
Agora, os momentos estranhos.
Zero pontos para a Suíça
Começamos pelo momento mais surpreendente da noite. Quando acabou a votação dos júris, a Suíça estava no 2.º lugar. 214 pontos, perto da líder Áustria. Seria a segunda vitória para os suíços? Não. Porque os telespectadores deram… 0 pontos à Suíça. Sim, zero. Não é normal. Uma canção ter zero pontos do televoto acontece; mas uma canção que estava tão perto da vitória receber zero pontos dos telespectadores… Provavelmente nunca tinha acontecido. Muitas pessoas presentes no pavilhão St. Jakobshalle ficaram de boca aberta. As hipóteses de vitória de Voyage tombaram logo ali – e de que maneira.
Zero pontos para o Reino Unido (outra vez)
O Reino Unido também ficou a zero no televoto. Mas aqui o cenário começa a ser problemático: em 2021, em 2024 e agora em 2025, o Reino Unido teve zero pontos do televoto. Três vezes em cinco edições. Em 2023 conseguiu apenas 9 pontos. Ou seja, nos últimos cinco anos, o Reino Unido só convenceu os telespectadores uma vez. Desta vez surpreendeu, até porque as raparigas das Remember Monday sabem cantar, numa melodia que poderia entrar (e bem) num musical.
https://www.youtube.com/watch?v=Ur5qRh0BaHk
Portugal no 21.º lugar
O desfecho não foi propriamente estranho. A vitória já foi passar à final (e quase não passava, porque ficou no 9.º lugar quando se apuravam 10 canções). O que é estranho é a bandeira verde e vermelha estar lá em baixo na classificação final. No pós-COVID, Portugal deixou de estar habituado a estar no fundo da tabela. Com excepção de Mimicat, ficámos sempre no top-10 da final, ou lá à porta. Agora os NAPA deslocaram-se para perto do último lugar. Não surpreendeu.
Votação = caos
Durante a votação dos júris, nunca se sabia o que viria a seguir. Diversidade, confusão. Não adiantava tentar adivinhar quem conseguiria os 12 pontos do país seguinte: é que metade (13) dos 26 finalistas conseguiu a pontuação máxima de pelo menos um júri nacional. Não, Portugal não foi um deles. A Áustria conseguiu a maioria (8) dos 12 pontos.
Um instrumento ao vivo!
Aconteceu na actuação de Itália, quando Lucio Corsi tocou a sua harmónica junto ao microfone. Não ouvíamos um instrumento ao vivo, numa música participante na Eurovisão, desde o século passado.
A quase invasão
Israel esteve presente. E, claro, os protestos contra a sua participação surgiram. Não só lá fora: durante a actuação de Israel, um homem e uma mulher tentaram invadir o palco. Foram travados a tempo, mas um dos manifestantes ainda atirou tinta, atingindo um membro da produção.
Picture of the year #Eurovision2025 #Eurovision pic.twitter.com/n46rOJyGIJ
— madonna (@mdnaspears_) May 17, 2025
12 pontos para Israel (tantos)
Com tantos protestos contra a presença de Israel, a votação do público mostrou exactamente… o contrário. Meia-final, na quinta-feira: 13 países deram 12 pontos a Israel. Final: 13 países deram 12 pontos a Israel – Portugal foi um deles.
https://www.youtube.com/watch?v=_7zHp51j2WM
Israel vs. Espanha
A RTVE não escondeu que não queria ver Israel no evento. E isso até se reflectiu na sua cobertura em directo: todos os países tiveram direito a uma descrição personalizada da actuação – menos Israel. Esta disputa teve vários capítulos. A RTVE pediu um debate sobre a presença de Israel neste evento. Na meia-final, a dupla de comentadores disse em directo que mais de 50 mil palestinianos já morreram nesta guerra. A organização da Eurovisão ameaçou a RTVE com multa se fizesse o mesmo na final. No dia da final, antes do início do directo, a RTVE emitiu na transmissão uma mensagem de apoio à Palestina – porque “o silêncio não é uma opção”. Até que chegou o momento da votação e os espanhóis lá em casa deram… 12 pontos a Israel. A RTVE quer uma investigação; um ministro de Israel diz que esses 12 pontos foram uma “bofetada” ao primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez.
“Frente a los derechos humanos, el silencio no es una opción. Paz y justicia para Palestina”
Así ha sido el mensaje de RTVE tras las amenazas de la UER por su mensaje en la semifinal antes de la actuación de Israel #Eurovisión2025 pic.twitter.com/ww2hyUnoo4
— Eurovision-Spain | PrePartyES (@eurospaincom) May 17, 2025
A Céline Dion está cá?
Foi a pergunta que reinou nos bastidores no sábado, dia da final. Mas não, Céline Dion não estava em Basileia. A cantora canadiana venceu o Festival Eurovisão da Canção quando representou a Suíça, em 1988.
20 idiomas
Um recorde desde que a escolha do idioma é livre: 20 idiomas passaram pelo palco da Eurovisão. O inglês continua a mandar, mas esta diversidade é de assinalar.
100 mil na rua, 34 mil no estádio
Foi uma cerimónia de abertura impressionante, no domingo passado; cerca de 100 mil pessoas nas ruas de Basileia. Durante a final, no estádio do Basileia, ali ao lado, estiveram 34 mil a ver o evento pela televisão. O jornal suíço Blick já queria que o Festival Eurovisão da Canção 2026 fosse novamente na Suíça.
Israel quase ganhava
Com 297 pontos do televoto, e vitória nessa votação, Israel ficou na frente durante muito tempo. E se ganhasse mesmo? Primeiro, teria de se pensar noutro país para receber o Festival em 2026. Mais do que isso: seria uma grande “bronca” neste contexto da guerra em Gaza. Mas os 60 pontos dos júris foram muito poucos, não permitiram a vitória histórica de Israel – que mesmo assim ficou no 2.º lugar.