Moedas dá 7 milhões à Web Summit, mas quer de volta “o que não for gasto, se houver menos gente”

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Rodrigo Antunes / Lusa

Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa.

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas

A Câmara de Lisboa está obrigada, por contrato, a apoiar financeiramente a Web Summit com sete milhões de euros, mas “o dinheiro que não for gasto, se houver menos gente, será devolvido”, garante o autarca Carlos Moedas.

Há um contrato que é assinado antes de eu ser presidente da Câmara”, começa por notar Carlos Moedas, frisando que este contrato com a Web Summit tem 10 anos.

Portanto, a autarquia tem a “obrigação de cumprir esse contrato”. “Mas há uma novidade neste contrato e nesta assinatura – é que o dinheiro que não for gasto, se houver menos gente, será devolvido ou não será pago“, assegura Moedas.

Esta garantia foi deixada pelo presidente da Câmara de Lisboa na reunião pública do executivo municipal numa altura em que se teme que a Web Summit fique aquém das expectativas.

O sucesso da cimeira pode estar em risco depois do boicote de várias gigantes tecnológicas, como as donas da Google e do Facebook, no seguimento de declarações críticas de Paddy Cosgrave, ex-CEO da Web Summit, sobre a actuação de Israel no conflito contra o Hamas.

As palavras de Cosgrave levaram à sua demissão da empresa responsável pela cimeira e levaram Israel a cancelar a sua participação na Web Summit.

Depois disso, várias empresas afastaram-se do evento, inclusive a Alphabet, dona da Google, a Meta, dona de Facebook e Instagram. Agora, também a IBM bateu com a porta, anunciando que não vai participar na cimeira.

Perante esta “deserção” de grandes tecnológicas, o evento que decorre em Lisboa,, entre 13 e 16 de Novembro, pode ter menos pessoas do que o esperado.

Assim, o Bloco de Esquerda (BE) sugeriu à autarquia que retire o apoio financeiro à Web Summit.

Mas a proposta de financiamento foi mesmo aprovada na reunião do executivo municipal, com os votos a favor da liderança PSD/CDS-PP e do PS, e os votos contra dos restantes eleitos, designadamente de PCP, BE, Livre e vereadores independentes eleitos pela coligação PS/Livre.

Sete milhões davam para mais quatro creches

Sete milhões de euros é mais 11% do que o ano passado, é mais do que a cidade de Lisboa gasta com as pessoas em situação de sem-abrigo, que são cada vez mais na cidade”, critica o vereador do BE Ricardo Moreira.

“São sete milhões que permitiam construir mais quatro creches, mas o senhor presidente quis dar à Web Summit, mesmo sem ter a certeza dos moldes, como isso vai acontecer”, acrescenta ainda Ricardo Moreira.

Em 2022, o apoio financeiro do município ao evento foi de 6,3 milhões de euros.

“Como é que uma frase mata a Web Summit?”

Cosgrave acusou Israel de “crimes de guerra” e na reunião do executivo municipal, o vereador do BE desafiou os restantes membros do executivo a subscreverem que “os crimes de guerra são crimes de guerra, seja quem for que os cometa”.

“Como é que uma frase destas mata a Web Summit, senhor presidente?”, questionou ainda Ricardo Moreira.

“Lisboa quer mesmo apoiar um evento onde não há liberdade de expressão, onde o dinheiro fala mais alto, onde já nem se pode condenar crimes de guerra venham de onde venham”, acrescentou.

Carlos Moedas reforçou o que já tinha dito sobre o facto de a Web Summit não ser “um evento geopolítico, nem político”, mas “um evento muito importante para a cidade em termos de tecnologia e inovação”.

“É um evento que trouxe muito à cidade, apesar de hoje a cidade em termos de inovação já ser muito mais do que isso”, sustentou ainda Moedas na reunião camarária.

“Além da Web Summit, temos programas muito interessantes, como é o caso da Fábrica de Unicórnios“, salientou o autarca.

Na reunião pública, o BE também apresentou um voto de condenação aos crimes de punição colectiva e genocídio cometidos por Israel contra o povo palestiniano, mas o documento foi rejeitado com os votos contra da liderança do PSD/CDS-PP e do PS.

ZAP // Lusa

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