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Moedas já fala como presidente. “Temos que deixar a política da fricção e apostar na construção de soluções, de resultados”

Rodrigo Antunes / Lusa

Carlos Moedas

Carlos Moedas, que se vê como um presidente inclusivo”, recusa uma política de “fricção”, nomeadamente na oposição ao poder nacional e promete concentrar-se nos “resultados e nas pessoas” para melhorar a vida dos lisboetas.

Carlos Moedas, o grande vencedor da noite eleitoral de ontem depois de se confirmar a vitória da sua candidatura à Câmara de Lisboa, já se apresenta efetivamente como “presidente da Câmara”. Menos de 12 horas depois de os resultados oficias serem divulgados, o antigo comissário europeu almoçou com os trabalhadores responsáveis pela higiene e limpeza da cidade de Lisboa, uma promessa que fez na última semana e que não perdeu tempo a cumprir.

À sua espera, Moedas tinha um grupo de jornalistas que não tardaram a questioná-lo sobre as possíveis soluções governativas para o executivo municipal e a possibilidade de congregar, na sua liderança, vereadores de outras forças políticas, sobretudo da esquerda. Relativamente a esta questão, o presidente-eleito, que deverá tomar posse em outubro, afirmou que está disponível para trabalhar com todos “com muito gosto” — para reforçar o seu ponto, evocou ainda a sua experiência na Comissão Europeia, “talvez a melhor escola para se aprender a trabalhar com todas as forças políticas”.

“Eu conto com todos os partidos e todos os vereadores. As minhas propostas e os meus projetos serão trabalhados com todos os que foram eleitos”, explicou. Aproveitando a ocasião para congratular os adversários que conseguiram representação política na Câmara da capital, Moedas revelou ainda que já recebeu mensagens de “outras forças políticas”, as quais agradeceu.

Uma das conversas que teve durante a longa noite eleitoral foi precisamente com Fernando Medina, autarca em exercício de funções que derrotou de forma surpreendente. “Foi uma excelente conversa“, confessou. Moedas antecipou ainda que a transferência de poderes na autarquia de Lisboa deverá decorrer “bem”, de forma “correta” e genuína“, já que existe, segundo o próprio, “boa vontade dos dois lados“. “Vai acontecer nos dias que aí vêm e vamos fazer uma transição correta e genuína, para bem de Lisboa e dos lisboetas. É para isso que vamos trabalhar.”

Nas declarações aos jornalistas, Carlos Moedas traçou também o que serão as linhas orientadoras do seu mandato, as quais deverão priorizar “sempre” as pessoas. “Estamos aqui para ter uma maneira diferente de fazer política, uma política que é sem fricção e que é, só e apenas, concentrada nos resultados e nas pessoas. Tudo o que seja para bem das pessoas e para melhorar a vida dos lisboetas, é o que eu vou fazer e vou fazê-lo com pragmatismo“, anunciou.

No ar fica também a possibilidade de Moedas, a partir da praça do Município, em Lisboa, se tornar a principal figura da oposição a António Costa, ultrapassando mesmo Rui Rio nesse papel. O recém-eleito autarca não recusou a responsabilidade, optando por sublinhar que essa oposição será feita “de forma construtiva“. “Eu penso que é importante a maior Câmara Municipal do país ter, como eu sempre disse, a capacidade de desafiar o poder nacional, como se passa em muitos países, em muitas cidades, e isso é importante”, constatou.

As diferentes cores políticas dominantes em São Bento e na autarquia lisboeta constituirá, por isso, um “desafio construtivo” para as partes envolvidas. Do lado de Moedas, pode esperar-se uma oposição “para melhorar, para escrutinar“. “É para, sobretudo, fazer melhor”, explicou.

Sobre uma possível “leitura nacional” do resultado alcançado pelo PSD em Lisboa, Moedas começou por dizer que as eleições na capital “nada têm a ver” com o plano nacional, ainda assim, destacou os desejos de mudança dos lisboetas, de um novo ciclo, o que poderá ter “efeitos” a nível nacional. “A leitura que tem de ser feita é aqui (em Lisboa), e é a de se querer mudar o município, de haver um projeto diferente, uma visão diferente. Não há uma leitura nacional, há uma leitura local. Obviamente que há uma leitura de uma mudança, de um novo ciclo político que pode ter efeitos nacionais“, afiançou.

Questionado sobre a primeira medida que implementará enquanto presidente da Câmara de Lisboa, apressou-se a explicar que tem, no programa que apresentou “muitas medidas, desde o acesso à saúde aos transportes”, garantindo ainda que “tudo será implementado”. “Vamos começar a implementar todas as medidas, não vamos falhar no que prometemos aos lisboetas”, referiu.

Mais tarde, já durante o almoço com os trabalhadores responsáveis pela higiene e limpeza de Lisboa, Moedas explicou o sinal que quis dar com o gesto. “Trata-se de ouvir as pessoas, de trabalhar com as pessoas. Sou um homem de consensos, um homem que gosta de ouvir as pessoas e de incluir as pessoas nas decisões. O que eu estou aqui a fazer hoje é encontrar soluções para os grandes problemas que hoje se vivem e que estes serviços sentem. É normal que eu esteja aqui”, explicou.

“Estas pessoas trabalham em condições muito difíceis e têm vidas difíceis. Eu sou um presidente da Câmara que disse que estaria sempre ao lado dos mais frágeis. É isso que quero fazer, é essa a minha missão. Quis valorizá-los e dizer que o trabalho deles é essencial para a cidade, que são úteis. Perceber os problemas que têm e começar já a resolvê-los. Não foram ouvidos [pelo antigo executivo], não foram acarinhados durante a pandemia.”

Moedas afirmou ainda estar com “muita vontade de começar” e antecipou que são será um presidente “de gabinete”. “Serei um presidente inclusivo”, concluiu”.

ARM //

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