Um suposto imperador romano que se pensava nunca ter existido pode, afinal, ser uma figura histórica real, de acordo com um novo estudo
Em causa está Esponsiano — em latim, Sponsianus —, um possível usurpador durante o reinado de Filipe, o Árabe, no Império Romano.
Até ao momento, a única prova da sua existência era uma moeda encontrada na Transilvânia em 1713. No entanto, alguns estudiosos suspeitaram que as moedas então encontradas fossem falsificações do século XVIII.
O novo estudo desmente esta teoria, sugerindo a existência de Esponsiano. “A nossa hipótese de que o ‘falso’ imperador romano era de facto real é baseada numa riqueza de evidências”, escreve o líder da equipa de investigação, Paul Pearson, num artigo publicado no The Guardian.
A equipa de investigadores britânicos confirmou a autenticidade das moedas encontradas na Transilvânia. Uma moeda com um retrato e o nome do imperador romano Esponsiano estava entre o tesouro de moedas. Os resultados do estudo foram recentemente publicados na revista PLOS One.
Até à descoberta das moedas, nunca antes se tinha ouvido falar do nome de Esponsiano, levando os peritos a acreditar que as moedas seriam falsas.
Adicionalmente, segundo a CNN, o seu fabrico e estilo, incluindo inscrições intrigantes, diferiam do estilo geral das autênticas moedas romanas de meados do século III.
Acredita-se que Esponsiano era um comandante militar que foi forçado a assumir o papel de imperador da província mais distante e difícil de defender do império romano, a Dácia. A província foi isolada do resto do império romano por volta de 260 d.C., devido a uma pandemia e a uma guerra civil.
“A análise científica dessas moedas ultra-raras resgata o imperador Esponsiano da obscuridade”, disse Paul Pearson, em comunicado.
“As nossas evidências sugerem que governou a Dácia romana, um posto avançado de mineração de ouro isolado, numa época em que o império estava cercado por guerras civis e as fronteiras foram transgredidas por invasores saqueadores”, acrescentou.
À Newsweek, Person diz que ficou surpreendido quando, ao analisar a moeda com o retrato do imperador ‘fantasma’, reparou que parecia gasta e coberta de sujidade, “o que não esperávamos de uma falsificação”.
Cercado por inimigos e isolado de Roma, Esponsiano provavelmente assumiu o comando supremo durante um período de caos e guerra civil, protegendo a população militar e civil da Dácia até voltarem à normalidade.
“A nossa interpretação é que ele estava encarregado de manter o controlo dos militares e da população civil porque eles estavam cercados e completamente isolados”, disse Jesper Ericsson, curador de moedas do museu que trabalhou com Pearson no projeto, citado pela BBC.
“Para criar uma economia funcional na província, decidiram cunhar as suas próprias moedas”, acrescentou. Isto ajudaria a explicar a razão pela qual as moedas encontradas na Transilvânia são tão diferentes das típicas.
“Eles podiam não saber sequer quem era o verdadeiro imperador porque havia uma guerra civil”, sublinha Pearson.
Esponsiano era considerado um possível rebelde na época do imperador Filipe, cujo reinado terminou em guerra civil. “Ele ainda aparece em listas de possíveis imperadores rebeldes até hoje”, diz Pearson.
Com Esponsiano, Dácia provavelmente tornou-se um regime militar, e o líder da província poderá ter-se autoproclamado “imperador”. Embora alguns historiadores acusem Esponsiano de ser um usurpador, não há evidência que sugiram que tinha intenções de desafiar Roma.
Não está claro o que aconteceu com Esponsiano ou o regime que fundou durante a retirada formal da Dácia do domínio romano. Dependendo da perspetiva, escreve a ZME Science, Esponsiano era um traidor ou um líder que fez o que foi considerado necessário dadas as circunstâncias para proteger o modo de vida romano.