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Moçambique e o cocktail do caos. (Não é só) uma pandemia que abala o país

Moçambique abre os braços à pandemia, aos ataques em Cabo Delgado, a problemas sanitários e desastres naturais. O cocktail do caos abala o país, os cidadãos e a economia.

A pandemia de covid-19, os ataques em Cabo Delgado, doenças como a malária e a diarreia, a interrupção de tratamentos para a tuberculose e o VIH e os desastres naturais compõem aquele que é, para Moçambique, o cocktail perfeito do caos.

Janeiro foi particularmente dramático para Moçambique, que registou mais casos e mortes por covid-19 nesse mês do que no ano de 2020. Alain Kassa, chefe de missão da Médicos Sem Fronteiras (MSF) no território, disse ao Expresso que “foi uma situação complicada”, mas o “pico já passou”.

O país tem agora 14 mil casos ativos de covid-19 e esta semana deu início ao processo de vacinação. Do grupo dos prioritários, já foram vacinadas quase 16 mil profissionais de saúde, segundo dados transmitidos pelo ministro da Saúde moçambicano, Armindo Tiago.

Moçambique recebeu quase 650 mil doses de vacinas, uma parte importante proveniente da plataforma Covax e outra doada pelo Governo da Índia. As autoridades de saúde moçambicanas têm nesta altura à sua disposição as vacinas da AstraZeneca, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford; a Covidshield, fabricada pela farmacêutica Serum Institute of India; e a Verocell, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinopharm.

Armindo Tiago prevê que toda a população moçambicana esteja vacinada até ao final do primeiro trimestre de 2022 ou, no pior cenário, no final do próximo ano.

Mas a covid não é o único problema que vem à cabeça de Alain Kassa quando pensa nas dificuldades que Moçambique tem em mãos. “Há muitos casos de malária, principalmente entre crianças”, “doenças respiratórias” e “diarreia“, devido à dificuldade de as pessoas terem acesso a água potável, que acontece por causa das cheias.

Além disso, conta ao Expresso, os deslocados de guerra interrompem os seus tratamentos de tuberculose e VIH, ainda que o Ministério da Saúde esteja a promover a intervenção de brigadas móveis para evitar que se interrompam tratamentos.

Ainda assim, o problema que mais preocupa o chefe de missão da MSF é a crise da província de Cabo Delgado, no Norte. “A crise mais preocupante é a da província de Cabo Delgado, com esta situação de instabilidade. Além disso entrámos no período do tempo chuvoso, temos as ameaças de ciclone, principalmente na parte central do país. Estou a falar de uma situação que precisa de resposta humanitária”, disse ao semanário.

A violência em Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitária com mais de 2.000 mortes e 670 mil pessoas deslocadas sem habitação, nem alimentos. Esta quarta-feira, apesar de ter apontado alguns progressos, o primeiro-ministro moçambicano reconheceu que Cabo Delgado continua a ser assolado pela ação de grupos armados.

Muitos dos campos de deslocados, em Cabo Delgado, abrigam pessoas sem água canalizada, luz ou casas de banho. E ao cenário de guerra, somam-se os desastres naturais, que já mataram naquele país 96 pessoas desde outubro.

Desde esse mês, Moçambique foi assolado por eventos climáticos extremos. O Expresso destaca a tempestade Chalane e os ciclones Eloise e Guambe, além de outras semanas de chuva intensa e inundações.

“A combinação destas adversidades, sobretudo os impactos da covid-19, fizeram com que pela primeira vez nos últimos anos a nossa economia tivesse um crescimento económico que se situou em menos 1,3%, contra um crescimento de 2,2% registado em 2019″, disse Carlos Agostinho do Rosário, esta quarta-feira.

Liliana Malainho, ZAP //

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