Nenhum de nós foi o mais rápido: a corrida dos espermatozoides é um mito

É o óvulo que escolhe, mas parece que todos insistimos em tentar fazer do mito uma realidade.

Um dos mitos mais persistentes sobre a reprodução humana é a ideia de que os espermatozoides competem entre si numa corrida frenética até ao óvulo, que aguarda o vencedor para ser fecundado. Mas a ideia não passa de mito.

A Ciência mostra-nos que essa narrativa está errada. Na verdade, é o óvulo quem escolhe o espermatozoide.

Os mamíferos, ao contrário de peixes, répteis e anfíbios, evoluíram para uma estratégia reprodutiva mais seletiva e controlada. Enquanto muitas espécies continuam a produzir grandes quantidades de ovos e esperma ao longo da vida — apostando no “jogo dos números” para garantir descendência —, os mamíferos femininos produzem todos os seus óvulos antes do nascimento e libertam apenas um por ciclo.

Esta mudança evolutiva pode ter permitido às fêmeas um maior controlo sobre a reprodução, protegendo os seus embriões dentro do corpo e escolhendo as melhores combinações genéticas ainda antes da conceção, explica a investigadora Lynnette Sievert à Live Science.

Já nos anos 1980, a ciência tinha descoberto que o óvulo desempenha um papel ativo, com a sua camada protetora chamada zona pelúcida para testar os espermatozoides, permitindo a entrada apenas àqueles que considera adequados. Estudos da década seguinte reforçaram esta ideia, e desde então têm surgido mais confirmações.

Mas por alguma razão, o mito e a piada persistem. “Fomos os mais rápidos entre milhões de corredores”, gabamo-nos, de tempos a tempos. Aliás, aqui estamos nós a dar a notícia de que o óvulo é que escolhe como se fosse novidade.

Ainda em 2020, cientistas das universidades de Estocolmo e Manchester provaram que os óvulos libertam substâncias químicas que atraem certos espermatozoides — e que diferentes óvulos atraem diferentes espermatozoides, mesmo quando se trata de esperma de um parceiro não reprodutivo. A escolha deverá basear-se em compatibilidades genéticas ou em indicadores de qualidade do esperma, acreditam os investigadores.

Os resultados, obtidos com material biológico de casais em tratamento de fertilização in vitro, revelam que existe comunicação química entre óvulos e espermatozoides, o que permite uma espécie de “escolha feminina” no processo de fecundação.

ZAP //

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