Uma equipa de especialistas em filmagem, cientistas e historiadores mergulhou até os destroços do Titanic para realizar o registo fotográfico mais detalhado já feito do navio.
A BBC News encontrou os membros da expedição na cidade americana de Providence, no Estado americano de Rhode Island, enquanto se preparavam para deixar o porto.
Vão usar uma tecnologia de ponta para examinar todos os cantos do famoso transatlântico para obter novas imagens do naufrágio.
Esta será a primeira missão comercial ao Titanic desde a tragédia da OceanGate no ano passado. Cinco homens morreram enquanto tentavam visitar a carcaça do navio.
Uma homenagem será realizada no mar nos próximos dias para as vítimas do submarino e para os 1500 passageiros e tripulantes que afundaram com o Titanic em 1912.
A nova expedição será organizada por uma empresa norte-americana que detém os direitos exclusivos sobre os destroços e que já retirou cerca de 5500 objetos dos destroços.
Mas esta última visita é puramente uma missão de reconhecimento, afirma o RMS Titanic Inc, com sede em Atlanta, na Geórgia.
Dois veículos robóticos vão mergulhar no oceano para capturar milhões de fotografias de alta resolução e fazer um modelo 3D de todos os detritos.
“Queremos ver os destroços com uma clareza e precisão nunca antes alcançadas”, David Gallo, líder da expedição.
O navio logístico Dino Chouest será a base das operações no Atlântico Norte.
Se o tempo permitir, ele deverá passar 20 dias em alto mar, logo acima dos destroços, que ficam a 3800 metros de profundidade.
Serão algumas semanas comoventes para todos os envolvidos.
Um dos cinco que morreram no submarino da OceanGate foi o francês Paul-Henri (“PH”) Nargeolet. Era o diretor de pesquisa da RMS Titanic Inc e deveria liderar esta expedição.
Uma placa será colocada no fundo do mar em sua homenagem.
“É difícil, mas o problema da exploração é que há um desejo e um impulso para continuar. E estamos a fazer isso por causa da paixão que PH tinha pela exploração contínua”, explica o historiador Rory Golden, que será o “chefe oficial” em Dino Chouest.
Pode haver poucas pessoas na Terra que não conheçam a história do Titanic e como ele foi danificado por um iceberg, a leste do Canadá, na noite de 15 de abril de 1912.
São inúmeros livros, filmes e documentários sobre o evento.
Mas, embora o local do naufrágio tenha sido alvo de repetidos estudos desde a sua descoberta em 1985, ainda não existe o que poderia ser descrito como um mapa definitivo.
E embora as secções de proa e popa do navio quebrado sejam razoavelmente bem compreendidas, há extensas áreas do campo de destroços ao redor que receberam apenas uma inspeção superficial.
Dois veículos operados remotamente (ROVs) de seis toneladas pretendem corrigir isso.
Um será equipado com uma série de câmeras ópticas de alta definição e um sistema de iluminação especial; o outro vai carregar um pacote de sensores que inclui um scanner lidar (laser).
Juntos, eles vão percorrer uma secção de 1,3 km por 0,97 km do fundo do mar.
Evan Kovacs, responsável pelo programa de imagens, diz que os seus sistemas de câmaras devem produzir resolução milimétrica.
“Se todos os deuses do clima, os deuses do computador, os deuses do ROV, os deuses das câmeras – se todos esses deuses se alinharem, seríamos capazes de capturar o Titanic e o local do naufrágio com o máximo de perfeição digital possível“, disse à BBC News.
Há uma grande expectativa sobre o que o magnetómetro a bordo do sensor ROV pode produzir. Esta é a primeira vez que esse equipamento será usado no Titanic.
O instrumento vai detetar todos os metais no local do naufrágio, até mesmo materiais que estejam enterrados nos sedimentos, fora da vista.
“Seria um sonho absoluto determinar o que aconteceu com a proa do Titanic abaixo do fundo do mar”, explicou a engenheira geofísica Alison Proctor.
“Esperamos poder deduzir se a proa foi ou não esmagada quando atingiu o fundo do mar, ou se pode realmente estender-se intacta até ao sedimento.”
A equipa quer revisar o estado de alguns objetos bem conhecidos no campo de destroços, como as caldeiras que se espalharam quando o opulento navio a vapor se partiu ao meio.
Também existe o desejo de localizar itens que podem ter sido vistos em visitas anteriores. Estes incluem um candelabro elétrico, que no início do século XX eram uma curiosidade fascinante, bem como a possibilidade de um segundo piano de cauda Steinway.
A moldura de madeira do instrumento musical já se deteriorou há muito tempo, mas a placa de ferro fundido, ou moldura, que segurava as cordas ainda deveria estar lá, talvez até algumas das teclas.
“Para mim, são os pertences dos passageiros, especialmente as malas, que são de maior interesse”, disse Tomasina Ray, curadora da coleção de artefactos do Titanic mantida pela empresa.
“São os seus pertences – se conseguirmos recuperar mais no futuro – que ajudam a dar corpo às suas histórias. Para muitos passageiros, são apenas nomes numa lista e é uma forma de mantê-los significativos”.
Esta será a nona visita do RMS Titanic Inc ao local do naufrágio. A empresa gerou polémica nos últimos anos com o desejo declarado de tentar trazer à tona parte do equipamento de rádio Marconi que transmitiu os pedidos de socorro na noite do naufrágio.
Isto não acontecerá nesta expedição, mas se e quando ocorrer, significaria extrair um objeto de dentro da nave em desintegração.
Para muitos, o Titanic é o túmulo das 1500 pessoas que morreram naquela noite de 1912 e não deve ser tocado, especialmente no seu interior.
“Nós entendemos isso”, disse o investigador da empresa James Penca.
“Mergulhamos no Titanic para aprender o máximo que pudermos com ele; e como se deveria fazer com qualquer sítio arqueológico, fazemos isso com o maior respeito. Mas deixá-lo em paz, apenas deixar os seus passageiros e tripulação perderem-se na história – essa seria a maior tragédia de todas.”
ZAP // BBC