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Militares entram na casa de Guaidó. “Este é o diálogo de Maduro”

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Cristian Hernandez / EPA

Juan Guaidó e a esposa, Fabiana Rosales

O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela e autoproclamado Presidente interino daquele país, Juan Guaidó, queixou-se esta quinta-feira de que elementos das forças de ação especial entraram na sua casa.

As forças especiais da polícia deslocaram-se a casa do autoproclamado presidente interino quando este e a sua mulher, Fabiana Rosales, se encontrava a apresentar o seu plano político e económico para o país. Em casa estava a filha de 20 meses.

“Neste momento as forças especiais estão em minha casa, no meu lar. Responsabilizo o cidadão Nicolás Maduro pela integridade da minha filha que ali se encontra”, escreveu no Twitter Juan Guaidó.

“Senhores da FAES, estou com a minha esposa, a minha filha está em minha casa e faço-vos responsáveis de qualquer coisa e intimidação que podem fazer à minha bebé, de apenas 20 meses, que é o que têm feito a todo este país”, disse Juan Guaidó.

De acordo com um tweet do senador norte-americano Marco Rubio, próximo da oposição venezuelana, a filha de Juan Guaidó estava em casa com uma avó à altura da entrada da polícia naquela casa.

Guaidó e a mulher reencontraram-se com a filha poucos minutos depois, à porta de casa. “Em todo o tipo de situações, há uma coisa que é sagrada, que é a família. Os filhos são sagrados, as esposas são sagradas. Não passem essa linha vermelha”, disse Juan Guaidó, depois de ter chegado a casa e já com a sua filha ao colo. “Não nos intimidam, sabemos que este é o modus operandi deles.”

Perante jornalistas e muitos cidadãos, Guaidó disse ainda, com a filha ao colo, que “o objetivo era gerar medo, mas não conseguiram“.

Juan Guaidó é alvo de investigação por “crimes graves contra a ordem constitucional“. O presidente do Supremo Tribunal de Justiça anunciou que Guaidó está proibido de se ausentar do país e as suas contas bancárias foram bloqueadas.

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, Luis Almagro, condenou entretanto as “intimidações das forças repressivas da ditadura usurpadora” a Guaidó e à sua família. “Este é o diálogo de Nicolás Maduro“, escreveu no Twitter.

O plano de Guaidó

Juan Guaidó apresentou o plano da oposição para combater a crise económica, social e política no país, no qual se contempla a criação de um Governo de transição.

O programa, intitulado de “Plano País”, foi apresentado no auditório da Escola de Ciências Económicas e Sociais da Universidade Central da Venezuela, onde explicou que “todo o plano para resgatar a Venezuela passa por a libertar das forças que a oprimem”.

“Depois da libertação é imperativo recuperar o Estado venezuelano e colocá-lo ao serviço do povo, dar poder aos venezuelanos para que libertem as suas forças criativas e produtivas, e reinserir o país” no universo “das nações livres do mundo”, explicou.

Guaidó tem como prioridade “resgatar o direito e a democracia”, assim como “restabelecer a sua capacidade para fornecer bens e serviços públicos”, bem como de “criar mecanismos para prestação de contas que possam ser monitorizados pelos cidadãos”.

Por outro lado, procura “estabelecer e cumprir regras que respeitem os direitos das pessoas, promovam o empreendimento, a competência e sirvam como complementos das iniciativas próprias da sociedade”.

“Restabelecer os mecanismos do mercado e as liberdades económicas, eliminar os sistemas de controlos que afogam a produção nacional, recriar um sistema judicial independente que garanta a propriedade privada, o Estado de direito e proteja os cidadãos” são outros dos objetivos.

Com o plano pretende-se também “avançar com uma política social solidária”, recuperar a soberania e acabar com “a influência de grupos criminosos”, assim como “acelerar a reconstrução da Venezuela e contar com a ajuda da comunidade internacional para atender, com caráter de urgência, à emergência humanitária complexa que afeta o país”.

No texto do “Plano País”, lê-se que as grandes prioridades passam por estabilizar a economia, reativar a indústria petrolífera e criar uma nova lei de hidrocarbonetos, bem como assegurar o acesso a serviços públicos de qualidade, garantir a segurança cidadã integral, gerar confiança e segurança jurídica”.

Teste às forças armadas da Venezuela

O líder da oposição venezuelana disse que vai desafiar a recusa do Governo de receber ajuda humanitária ao enviar grandes quantidades de medicamentos para o país com a ajuda de nações vizinhas, num teste às forças armadas.

Em entrevista à agência de notícias Associated Press, Juan Guaidó defendeu que a medida será um “novo teste” para as forças armadas da Venezuela, cujas altas patentes ficaram do lado de Maduro desde que os protestos contra o seu Governo começaram.

“Dentro de algumas semanas, terão de escolher se deixam a ajuda necessária a entrar no país, ou se ficam do lado de Maduro”, explicou Guaidó, que recentemente ofereceu uma amnistia aos militares, em mais um esforço para os incentivar a desertar da administração Maduro.

Guaidó explicou que a ajuda para a Venezuela incluirá medicamentos que podem salvar vidas, que são escassos na Venezuela, e serão transportados por veículos que vão chegar a vários pontos de fronteira, depois de serem transportados para “portos amigáveis” localizados em países vizinhos.

“Não estamos apenas a receber ajuda dos EUA”, observou Guaidó. “Nos próximos dias anunciaremos uma coligação global para enviar ajuda à Venezuela”, anunciou.

Guaidó, de 35 anos, declarou-se Presidente interino da Venezuela na semana passada, recebendo o apoio, entre outros países, dos EUA, Canadá e da maioria dos países sul-americanos, bem como da União Europeia.

No início desta semana, os EUA anunciaram sanções que podem custar à administração de Maduro até dez mil milhões de euros no próximo ano. A reivindicação de Guaidó à presidência venezuelana foi apoiada por protestos durante os quais pelo menos 35 pessoas foram mortas e mais de 900 foram detidas.

Guaidó disse que ainda vê a realização de eleições transparentes como a melhor saída para a crise política da Venezuela, mas defendeu que Maduro não as concederá facilmente, a menos que seja pressionado a fazê-lo por meio de sanções económicas, protestos de rua e dos militares. “Temos que corroer os pilares que sustentam esta ditadura”, sublinhou.

ZAP // Lusa

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