Milei é “uma pandemia sem vírus”. Já querem destituir o presidente da Argentina

2

Juan Ignacio Roncoroni / EPA

Javier Milei, novo presidente da Argentina

A ferro e fogo na Argentina, com protestos em massa da Função Pública e dos professores, Javier Milei, o presidente ultra-liberal do país, enfrenta forte contestação e já há pressões para o destituir.

O plano de “motosserra” de Javier Milei, com despedimentos em massa no sector público, levou a uma greve geral organizada pelos Sindicatos da Função Pública.

Nos últimos dias, foram despedidos 15 mil trabalhadores da Administração Pública argentina, cujos contratos terminaram a 31 de Março passado. Há mais 50 mil trabalhadores em risco de perderem os seus empregos nos próximos meses. Isto depois de já terem sido despedidos 9 mil funcionários públicos nos primeiros três meses do Governo de Milei.

O presidente ultra-liberal está decidido a equilibrar as contas públicas a qualquer custo e imputa à máquina do Estado as responsabilidades pela situação económica difícil que o país atravessa.

Esta política de “motosserra” já levou ao encerramento de vários centros da Segurança Social em diversas localidades da Argentina, nomeadamente em áreas mais remotas.

Governo de Milei já soma 10 demissões

Entretanto, a sub-secretária do Trabalho, Mariana Hortal Sueldo, demitiu-se, fazendo subir para dez as demissões no Governo de Milei – nove ocorreram nos primeiros três meses do Executivo.

Os professores também já convocaram uma greve nacional depois de Milei ter eliminado um subsídio de apoio que ajudava a complementar os seus salários.

Além disso, os docentes criticam a falta de investimento na educação pública – Milei manteve os mesmos fundos públicos de 2023 destinados ao sector apesar da inflacção rondar, nesta altura, os 211%.

Por outro lado, surgem críticas à ajuda extraordinária que Milei concedeu às famílias para enviarem os seus filhos para o ensino privado. Estamos a falar de “vouchers de educação” equivalentes a cerca de 30 dólares por mês para ajudar a pagar as mensalidades de colégios privados.

Argentina segue por “caminho que não tem saída”

As críticas às decisões de Milei sucedem-se – até entre alguns dos seus antigos apoiantes.

O sindicalista Luis Barrionuevo que esteve ao lado de Milei durante a campanha eleitoral, já compara o presidente a “uma pandemia sem vírus”, fazendo o paralelismo entre as consequências económicas das suas medidas à covid-19, lamentando o “desemprego, a fome e a falta de consumo” das famílias.

“Custou muito a sair da pandemia e estamos a entrar noutra crise da qual vai ser muito difícil sair“, destaca Barrionuevo citado pelo jornal argentino El Clarín.

“O défice proposto pelo presidente não se pode pagar sem produção, nem consumo“, alerta ainda o sindicalista.

“A construção movimenta um milhão de trabalhadores, e a indústria hoteleira e gastronómica movimenta outro milhão. Mas está tudo parado e, se assim continuar, haverá encerramento de estabelecimentos e fim de actividades”, acrescenta.

Para Barrionuevo, Milei “não tem um plano económico sério” e “está a fazer mal as coisas”. “As pessoas não podem continuar a esperar”, aponta, considerando que a Argentina segue por “um caminho que não tem saída”.

Kirchnistas pressionam por “impeachement” de Milei

No meio de todo este cenário económico e político complicado, advogados com ligações a Cristina Kirchner, ex-presidente da Argentina, estão a tentar pressionar os deputados e os senadores do país avançarem com um processo de destituição.

Um desses advogados é José Ubeira, representante legal de Cristina Kirchner, que nega a ideia de que haja “um clube do helicóptero” que quer desgastar o presidente.

“Nós não queremos que Milei saia de helicóptero, queremos que ele seja destituído“, assume, sem meias palavras, Ubeira, citado pelo jornal online argentino MDZ.

Ubeira alerta que a Argentina atravessa um “perigo profundo”, acusando Milei de desejar “o desmembramento do país para o entregar”.

Assim, desafia os deputados da oposição a avançarem com um pedido de “impeachment”, notando que devem assumir “a gravidade e o perigo em que a Argentina está imersa nas mãos dos [actuais] governantes”.

“Está em jogo o futuro da Argentina”, acrescenta Ubeira.

A destituição de Milei será muito difícil de conseguir no Congresso, mas pode ser viável no Parlamento, onde “Milei só obteve 40 deputados”, nota ainda o advogado, recordando que o presidente “não tem praticamente representação no Senado, nem governadores”.

Susana Valente, ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

2 Comments

  1. Nao percebo como e que os trabalhadores foram despedidos em Abril depois do seu contrato de trabalho ter terminado em Maio, eles nao foram despedidos, eles foram dispensados, resumindo, a boa vida dos comunas que andavam a pastar na Funcao Publica acabou. Quanto a uma possivel greve geral…, parece que a ultima foi um FIASCO!!!!!, o Povo sabe bem quem levou a Argentina a ter uma inflacao de 300%!!!!!!

  2. Os Comunas estao a entrar em panico, logo agora que o FMI declarou que o Milei esta a fazer um excelente trabalho!!!!!!.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.