O último líder da União Soviética, Mikhail Gorbachov, alertou este sábado para o risco de “uma nova Guerra Fria”, durante as comemorações que assinalam a queda do Muro de Berlim, na Alemanha.
“O mundo está à beira de uma nova Guerra Fria. Alguns dizem mesmo que já começou“, declarou Mikhail Gorbachov, na abertura de uma conferência sobre o mundo, um quarto de século depois da queda do Muro de Berlim.
Num cenário em que as tensões entre Ocidente e Rússia aumentam, o ex-líder soviético exprimiu “profunda preocupação” com a “rutura no diálogo” e a “quebra de confiança” entre os líderes internacionais.
“Não haverá segurança na Europa sem a cooperação de Alemanha e Rússia”, recordou o artífice das reformas “perestroika” (reconstrução) e “glasnost” (transparência), que abriram caminho à queda do Muro de Berlim, a 09 de novembro de 1989.
Recuperar o diálogo é “a prioridade máxima”, insistiu, considerando que, apesar das “duras críticas” aos Estados Unidos e à Europa, o atual presidente russo, Vladimir Putin, está a tentar “encontrar uma via para baixar as tensões e construir uma nova base de cooperação”.
Assinalando que os acontecimentos da década de 1980 são a prova de que, “mesmo para situações aparentemente sem esperança, existe uma saída”, Gorbachov sublinhou que a realidade daquela época “não era menos urgente e perigosa” do que a de hoje.
Numa entrevista à radio e televisão suíça RTS, que será transmitida este domingo, Gorbachov considerou que “a Europa corre o perigo de perder a voz nos assuntos internacionais e passar a ser, gradualmente, irrelevante”.
O ex-líder soviético concretizou: “Em vez de liderar a mudança num mundo global, a Europa converteu-se numa arena de agitação política, de competição por esferas de influência e de conflito militar. A consequência inevitável é a fragilização da Europa, numa altura em que outros centros de poder e influência ganham força.”
Por seu lado, a NATO “quer provar que pode salvar o mundo”, quando já não é sequer necessária, sustentou.
“Vêem-se novos muros. Na Ucrânia, querem cavar um enorme fosso”, reconheceu, admitindo que na atual situação “é muito difícil ser otimista”, mas frisando que não há razão para “sucumbir ao pânico e ao desespero”.
/Lusa