A líder socialista Michelle Bachelet voltou à presidência do Chile este domingo, após uma vitória folgada na segunda volta das eleições sobre a conservadora Evelyn Matthei, candidata do actual presidente Sebastián Piñera.
Menos de duas horas após o encerramento das urnas, ainda sem todos os votos apurados, a economista Evelyn Matthei, de 60 anos, reconheceu a vitória da rival. “Está claro. Ela ganhou. Dou-lhe os parabéns”, disse.
Segundo a BBC, com 81% das urnas apuradas, Michelle Bachelet aparecia com mais de 60% dos votos, e Matthei com menos de 40%.
A vitória de Bachelet, pediatra de 62 anos, marca o retorno da esquerda à presidência do Chile, após quatro anos de governo de centro-direita de Sebastián Piñera, aliado de Matthei. A líder socialista encontra um país diferente do que assumiu em 2006, à frente da Concertação, coligalção de esquerda que governou o Chile por duas décadas.
Nos últimos dois anos, o Chile viu-se envolvido numa série de revoltas estudantis que evidenciaram o descontentamento da população chilena com parte das políticas económicas e sociais do país.
As manifestações pela reforma do sistema educativo provocaram os maiores protestos no país desde o movimento pelo fim da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990).
Bachelet fez da reforma da educação uma das suas principais bandeiras de campanha. Quatro líderes estudantis apresentaram-se como candidatos na coligação de esquerda e foram eleitos, dando força às reformas prometidas por Bachelet, que defendeu a gratuidade da universidade pública, mas também representando um grande desafio para manter a coligação unida.
Segundo os analistas, à frente da coligação Nova Maioria, que reúne socialistas, comunistas e democratas-cristãos, Bachelet deve fazer um governo mais à esquerda.
Cara a cara
Filhas de generais que estiveram em lados opostos na ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), Matthei e Bachelet conhecem-se desde a infância mas tiveram trajetórias diferentes. As duas estudaram no estrangeiro e militaram na política, mas em lados opostos.
Nos anos 1950, as candidatas eram vizinhas e costumavam brincar juntas na base aérea onde os seus pais serviam.
Os pais de Bachelet e de Matthei eram amigos e generais na Força Aérea chilena até pouco antes do golpe de 1973, mas estiveram em lados opostos durante a ditadura militar.
O pai de Bachelet, Alberto Bachelet, foi preso, torturado e morreu na prisão. Estava ligado ao ex-presidente Salvador Allende, derrubado pelos militares que tomaram o Palácio presidencial de La Moneda.
O pai de Matthei, Fernando Jorge Matthei, foi chefe da Força Aérea na era Pinochet — que comandou o país de 1973 e 1990 – e responsável pela escola militar onde o pai de Bachelet, Alberto, morreu de ataque cardíaco enquanto estava a ser torturado.
ZAP / BBC