México. Médicos protestam contra vacinas negadas a profissionais de saúde na linha de frente

John Cairns / University of Oxford

Vacina contra a covid-19

O México administrou cerca de 27,7 milhões de doses da vacina contra a covid-19 e, segundo o Presidente Andrés Manuel López Obrador, todos os adultos devem receber pelo menos uma dose até outubro. Contudo, vários relatos revelam que estas foram negadas a profissionais de saúde que atuam na linha da frente.

Segundo noticiou o Guardian esta sexta-feira, citando a Organização Pan-Americana da Saúde, o México é o país daquele hemisfério que mais mortes registou entre os profissionais de saúde durante a pandemia.

Um dos exemplos referidos pelo diário britânico é o caso de Ana Sofia, radiologista num hospital público em Monterrey, perto da fronteira com o Texas, cujo trabalho a coloca em contacto próximo com os pacientes, mas a quem a vacina foi negada por não ser considerada pelos superiores como uma trabalhadora da linha da frente.

Durante um encontro para vacinação de idosos, solicitou que lhe fosse administrada uma dose da vacina Sinovac, novamente negada. “Foi a pior coisa que tive que fazer na minha vida: implorar por um direito universal”, contou, acrescentando que as ordens das autoridades é que fossem vacinados apenas os idosos, colocando no lixo as doses extras.

O descontentamento do setor da saúde aumentou após a decisão do Governo em vacinar os professores e funcionários de escolas públicas e privadas antes dos médicos do setor privado. Jornalistas e editores de meios de comunicação administrados por escolas públicas foram também vacinados.

“Esta é uma decisão política porque a OMS [Organização Mundial de Saúde] sempre disse que os países devem dar prioridade aos trabalhadores da saúde”, disse a investigadora mexicana Roselyn Lemus-Martin, apontando como fatores decisórios as eleições a 06 de junho e um retorno às aulas presenciais na Cidade do México, a 07 de junho.

Os protestos dos profissionais de saúde não foram bem recebidos pelo Governo. O Presidente afirmou que esses trabalhadores não vacinados deveriam “esperar a sua vez”, indicando posteriormente que as manifestações eram uma campanha nos media contra o seu Executivo.

De acordo com a Universidade de Washington, nos Estados Unidos (EUA), o número de mortos no México é superior a 600.000 – quase o triplo do número oficial. Apesar disso, o país gastou menos de 1% do seu PIB na resposta à pandemia.

A campanha de vacinação também originou polémica: militares distribuíram as vacinas, mas excluíram o setor privado; a vacinação decorreu em centros temporários, em vez de farmácias e clínicas; a imunização precoce ocorreu em áreas rurais com baixas taxas de transmissão, ao invés de áreas urbanas sobrelotadas, onde as infeções aumentaram.

Os profissionais de saúde do setor privado contestaram ainda as alegações de que os casos de covid-19 são tratados maioritariamente no setor público.

Taísa Pagno //

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