Não é novidade: o álcool tem efeitos negativos no nosso organismo, e vários países estão mesmo a ponderar tornar obrigatório que as garrafas tenham rótulos de alerta para os riscos do seu consumo. Já a mensagem de que “nenhuma quantidade de álcool é boa” pode não ser uma ideia brilhante…
Imaginemos que bebe um copinho ao jantar quase ou praticamente todos os dias, porque até achava, como se diz, que fazia bem ao colesterol.
Invés disso, segundo revelaram diversos estudos recentes, o famigerado “copinho de vinho ao jantar” pode estar a aumentar o seu risco de desenvolver cancro.
Recentemente, conta o The Guardian, dezenas de organizações médicas e de saúde apelaram ao primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, que obrigue as empresas a incluir rótulos “ousados e inequívocos” nas garrafas de bebidas alcoólicas, alertando que o álcool provoca cancro.
Atualmente, apenas cerca de um 1/4 dos países exige algum tipo de aviso de saúde nos produtos alcoólicos, que tendem a ser vagos e numa letra pequena; no entanto, os apelos por mensagens mais agressivas estão a aumentar.
Em 2023, a Irlanda aprovou uma lei, que entra em vigor no próximo ano, que tornará este país o primeiro a obrigar a colocar rótulos que estabeleçam uma ligação direta entre o álcool e cancros fatais.
Os EUA estão a ponderar uma medida semelhante: num relatório publicado em janeiro, Vivek Murthy, diretor-geral de saúde pública durante a presidência de Joe Biden, apelou à colocação de avisos sobre o álcool.
Num artigo de opinião no The Guardian, a autora e colunista Arwa Mahdawi questiona se Casey Means, influenciadora de bem-estar sem licença médica nomeada por Trump para o cargo, irá implementar estas recomendações.
É possível, diz Mahdawi. Com efeito, Means tem alertado para os malefícios do álcool, embora de uma forma um pouco peculiar.
“Quando me afasto dos meus hábitos saudáveis e bebo regularmente, sinto que é mais difícil aceder ao reino místico,” escreveu Casey Means num antigo artigo no seu blog acerca dos esforços num ‘Janeiro sem álcool’.
Qualquer adulto sabe que o álcool faz mal, mas ter esse conhecimento de forma abstrata é muito diferente de ser confrontado com os riscos específicos no momento do consumo.
Embora poucas pessoas acreditem de forma convicta que o álcool é um produto “bom para a de saúde”, há evidências de que muitas não compreendem os riscos associados mesmo a quantidades relativamente pequenas.
Segundo Arwa Mahdawi, colocar rótulos nas garrafas de álcool a advertir para os riscos do seu consumo parece uma medida sensata. A colunista mostra-se no entanto cética em relação à eficácia do alerta lançado em 2023 pela OMS: “nenhuma quantidade de álcool é segura“.
Esta mensagem é tão absolutista que pode ser facilmente ignorada ou até usada como justificação para o consumo excessivo, diz Mahdawi. Se nenhuma quantidade de álcool é boa, porquê parar no primeiro copo?
Em 2018, David Spiegelhalter, especialista britânico em comunicação de risco, disse algo semelhante: “o público deveria receber mais detalhes sobre até que ponto o consumo baixo de álcool realmente aumenta o risco de cancro”.
“Afirmar que não existe um nível seguro para o consumo não parece ser um bom argumento a favor da abstinência. Não há um nível seguro para conduzir, mas ninguém recomenda que as pessoas deixem de conduzir“, diz Spiegelhalter.