O aumento dos custos trazidos pela crise energética e a falta de oferta de camiões e aviões tem obrigado muitos artistas a cancelar as tão aguardadas digressões, após a pandemia ter arrasado a indústria da música ao vivo. Os países periféricos, como Portugal, são ainda mais afetados.
Há cada vez mais artistas e bandas a cancelar digressões e concertos, especialmente fora do seu país natal. O culpado? A inflação.
A banda norte-americana Santigold foi uma das várias que teve de cancelar os planos. Em declarações à Rolling Stone, a banda apontou vários fatores para esta situação, especialmente os preços dos combustíveis, já que os artistas se deslocam “por via terrestre, quer na Europa quer nos EUA”.
Com os desconfinamentos generalizados, praticamente todos os artistas voltaram à estrada ao mesmo tempo, o que fez aumentar a procura pelos camiões usados nas digressões e os tornou mais caros.
“Como está toda a gente em digressão neste momento, algumas pessoas cancelaram tours porque nem sequer conseguiam arranjar carrinhas e autocarros de transporte”, refere a banda.
Esta crise é generalizada, mas atinge ainda mais os países periféricos, como é o caso de Portugal, e já podemos esperar por uma diminuição na oferta de concertos.
Vasco Sacramento, responsável da produtora e agência Sons em Trânsito, explica ao Observador que esta quebra se “tem vindo a sentir bastante, com um agravamento substancial desde o verão”.
“Algumas tournées que estávamos a negociar nem sequer chegaram a ser concretizadas, porque deixou de haver viabilidade financeira para elas”, refere, com os custos a dobrar face a 2019, à boleia da inflação na energia, que contamina tdo o resto, desde “hotelaria, refeições ou custos de promoção” das digressões.
Já Pedro Trigueiro, fundador da produtora Arruada, refere que o problema é transversal a todos os artistas. “Não tem exclusivamente a ver com artistas com maior ou menor escala, é transversal. Mesmo artistas gigantes, com grandes digressões… este ano trabalhámos o John Legend [no festival EDP Cool Jazz] e também esse tipo de artistas está a fazer contas à vida”, explica.
A situação será mesmo um “crash”. “Está a crashar. Não estou a dizer que esteja pela hora da morte…já por altura da Covid falava-se em ‘resiliência’ e a indústria da música é um bocado como as baratas. Pode vir a bomba atómica que a música não pára. Mas tem de se inventar mesmo muito”, remata.