Menino ou menina? Identificada mutação genética que aumenta a probabilidade de ter uma filha

Ao contrário do que acontece com inúmeras espécies, os humanos têm um rácio de 1:1 no que diz respeito ao género dos recém-nascidos. Um novo estudo identificou agora uma mutação genética que aumenta as hipóteses de que a criança seja do género feminino. A descoberta pode mostrar-se muito lucrativa.

O rácio sexual humano à nascença é de quase 0,5, o que significa que cerca de metade dos recém-nascidos são do sexo masculino.

O princípio de Fisher, que sugere que devem existir mutações que afetam a proporção entre os sexos, explica frequentemente este equilíbrio.

No entanto, estudos anteriores em seres humanos mostraram resultados mistos sobre se tais mutações influenciam a proporção entre os sexos.

Isto levanta a possibilidade de que a proporção quase igual possa simplesmente resultar da forma aleatória como os cromossomas X e Y são distribuídos durante a formação do esperma nos homens.

Num novo estudo, Jianzhi Zhang, investigador da Universidade do Michigan, e o seu  estudante de doutoramento Siliang Song, identificaram uma variante genética humana que afeta a proporção entre os sexos das crianças.

Os dois investigadores descobriram também que muitas outras variantes genéticas ocultas influenciam provavelmente a proporção entre os sexos nas populações humanas.

Os resultados do estudo foram apresentados num artigo publicado esta quarta-feira na Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences.

“Pensamos que a variação genética da proporção entre os sexos é demasiado difícil de detetar porque a proporção entre os sexos não é medida com precisão”, explica Zhang num comunicado da UMich.

Normalmente, cada pessoa tem apenas alguns filhos, o que pode levar a erros significativos na estimativa da verdadeira proporção entre os sexos dos seus filhos: se alguém tiver apenas um filho, o rácio sexual estimado será 0 (para uma rapariga) ou 1 (para um rapaz), mesmo que o rácio sexual global seja 0,5.

Para estudar a influência genética na proporção entre os sexos, os investigadores precisavam de uma amostra muito maior do que a fornecida por estudos anteriores, pelo que acederam ao UK Biobank, que contém dados genéticos e de saúde de cerca de 500.000 participantes britânicos.

Esta análise identificou uma alteração genética chamada rs144724107, associada a uma probabilidade 10% superior de ter uma rapariga do que um rapaz.

No entanto, esta alteração é rara, encontrando-se apenas em cerca de 0,5% dos participantes. Está localizada perto do gene ADAMTS14, que está envolvido na produção de esperma e na fertilização.

Os investigadores também encontraram dois genes adicionais, RLF e KIF20B, que podem influenciar a proporção entre os sexos.

Estes resultados apoiam o princípio de Fisher, teoria da biologia evolutiva que recebeu o nome do estatístico britânico Ronald Fisher. Este princípio sugere que a seleção natural favorece as variantes genéticas que aumentam as taxas de natalidade do sexo mais raro.

Assim, se houver menos machos do que fêmeas, a seleção natural promoverá mutações que levam ao nascimento de mais machos e vice-versa. Este processo ajuda a manter um rácio sexual mais ou menos uniforme na população.

Zhang observou que, para que o princípio de Fisher seja válido, as mutações devem afetar a proporção entre os sexos. A falta de variações genéticas previamente identificadas relacionadas com o rácio sexual humano levou alguns cientistas a questionar se o princípio de Fisher se aplica aos seres humanos.

“O nosso estudo mostra que os dados humanos são consistentes com o princípio de Fisher, e a razão pela qual não foram descobertas variantes genéticas do rácio sexual foi a imprecisão da medida do rácio sexual da descendência de uma pessoa”, explica o biólogo evolucionista.

Na agricultura, um dos sexos – principalmente as fêmeas – tem muitas vezes um valor económico substancialmente maior do que o outro. Por exemplo, as galinhas são valorizadas pela produção de ovos e as vacas pela produção de leite”, nota Zhang.

“Os indivíduos de menor valor económico, na sua maioria machos, são geralmente mortos logo após o nascimento. Encontrar variantes genéticas em animais de criação com efeitos tão grandes como os calculados para os humanos traria provavelmente enormes lucros e contribuiria para o bem-estar dos animais”, realça o investigador.

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