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Qual foi a última refeição de Hitler? Reveladas as memórias de Constanze Manziarly, a cozinheira dos nazis

Bundesarchiv, B 145 Bild-F051673-0059 / CC-BY-SA / Wikimedia

Adolf Hitler e Eva Braun

A última refeição de Adolf Hitler foi esparguete com tomate cozido por Constanze Manziarly, a jovem nutricionista austríaca que revela, em várias cartas que acabam de ser reveladas, os problemas digestivos do ditador, os hábitos alimentares dos nazis e o seu maior medo.

Constanze Manziarly foi forçada a trabalhar para o líder nazi e desapareceu semanas depois do suicídio do ditador. O investigador Stefan Dietrich publicou um livro que reúne 18 cartas que a jovem, praticamente desconhecida até agora, escreveu para a sua família.

“É interessante notar que até agora foram obtidas apenas informações limitadas e fragmentárias sobre a jovem tirolesa. Tem sido um ponto cego na literatura sobre Hitler”, disse o especialista, citado pelo jornal espanhol ABC.

As cartas que o autor austríaco reúne em “Constanze Manziarly: a última dietista de Hitler”, eram destinadas à sua família, especificamente ao pai e irmã. Datadas de 3 de abril de 1943 a dezembro de 1944, a jovem explica nas cartas os hábitos alimentares “muito específicos” dos nazis, os problemas crónicos de digestão de Hitler, as situações stressantes que vivenciava diariamente e que, principalmente, tinha muito medo.

Na primeira das cartas recuperadas por Dietrich já observava que Constanze não se sentia confortável no seu trabalho e que o fazia obrigada. “As pessoas dizem-se que esta missão é um privilégio, que milhares de pessoas me invejam. Oh, se eles soubessem o que está em tudo isto! Com que alegria daria tudo a alguém com experiência, alguém mais adequado, e recuperaria a minha paz de espírito no seu lugar”, escreveu a jovem.

Nas primeiras cartas, Constanze já alertava os seus familiares sobre a censura a que as cartas eram submetidas: “Por favor, tenham cuidado ao escrever. Sem críticas, o correio é controlado de forma normal”.

Quem foi Constanze Manziarly?

Constanze Manziarly nasceu em 14 de abril de 1920 em Innsbruck, Áustria, numa família rica de classe média, com interesse pela cultura e pela música. Segundo a sua irmã, que entregou as cartas a Dietrich, Constanze era calma, atenciosa, interessada nas mais diversas coisas e bem educada. Além disso, desde muito cedo demonstrou interesse por uma vida saudável e natural, com especial enfoque na área da nutrição.

Constanze passou três anos no Instituto Estadual de Profissões Económicas de Innsbruck, com o objetivo de se especializar na área de culinária dietética, e conseguiu um estágio nos “Biologisches Kurheim” do Professor Werner Zabel. Era um hospital particular em Bischofswiesen, perto de Berchtesgaden, uma cidade alemã onde Hitler tinha a sua residência nas montanhas.

A admissão de Manziarly na clínica de Zabel marcou o início de uma cadeia de eventos que a catapultou para o meio de Hitler.

Hitler acabava de despedir a sua dietista após descobrir que a ascendência da sua avó era “questionável” e continha “sangue judeu”, quando Zabel designou Constanze para preparar a dieta e as refeições de Hitler. Pouco depois de iniciar o trabalho, a jovem escreveu que o que “mais a desgasta” é o enorme fardo de responsabilidades que tem de carregar.

“Vou usar esta pausa de almoço para desafogar o meu coração. As coisas ficaram parecidas com o que tinha suspeitado na semana passada, mas não acreditei que aconteceria: devido às instruções para o Professor Zabel e para mim, terei de ficar e fazer o meu dever, sabes o que quero dizer, enquanto ele esteja aqui. Podem ser 14 dias, ou alguns meses, meio ano, ninguém sabe”, escreveu.

No início de julho de 1944, Constanze foi questionada se estava disposta a juntar-se à equipa. “Qualquer objeção seria totalmente inútil e, na pior das hipóteses, poderia acabar em tribunal. De momento, tudo que preciso de fazer é aceitar a situação. Isto não é fácil para mim”.

Embora a jovem austríaca tivesse a “esperança” de trabalhar sozinha para Hitler até ao outono, na carta de 27 de julho, Constanze confirma que terá de ficar indefinidamente. “Meus queridos! Agora decidiu-se definitivamente que ficarei aqui. O Führer quis assim e todas as outras considerações são irrelevantes. Não imaginam como é difícil para mim inforar-vos de que não vos poderei ver num futuro próximo”, escreveu.

Desde essa data até à morte de Hitler, Constanze fez parte do exclusivo círculo íntimo de Hitler. Converteu-se na sua nutricionista e dedicou-se a preparar-lhe cardápios, partilhava as suas refeições e participava nos seus chás noturnos.

A última refeição de Hitler

Segundo Dietrich, em 30 de abril, Constanze recebeu a ordem de preparar o almoço como de costume. O que Constanze preparou foi esparguete “com molho de tomate leve” que Hitler comeu com ela e as suas duas secretárias.

Em declarações à EFE, o investigador disse que uma delas, Traudl Junge, escreveu no seu diário que Constanze foi informada de que, após o suicídio, prepararia um jantar como se fosse para Hitler com a intenção de esconder a sua morte.

“Com lágrimas nos olhos, a jovem Fräulein Manziarly está sentada num canto. Tinha de preparar o jantar para o Führer em 30 de abril, como de costume, para que a sua morte fosse mantida em segredo. Mas ninguém comeu os ovos estrelados com purê de batata”, lê-se no diário.

Horas após o suicídio de Adolf Hitler e a sua esposa, Dietrich observa que um sentimento de incerteza instalou-se no bunker. Embora não haja cartas dessa época, o investigador afirma que a última vez que Constanze Manziarly foi vista foi em 2 de maio de 1945 e que não apareceu nenhuma pista do seu paradeiro.

Segundo o investigador, as suposições sobre o destino de Constanze resumem-se a duas possibilidades: suicídio ou assassinato após conhecer soldados russos. No entanto, destaca que há autores que apostam que fugiu para a América Latina.

ZAP //

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