O candidato à liderança do CDS falou na dependência do partido na figura de Paulo Portas e abriu a porta ao regresso de figuras de peso que saíram devido às divergências com Rodrigues dos Santos.
Em entrevista ao Público, Nuno Melo esclareceu as suas declarações no Congresso que em 2020 elegeu Francisco Rodrigues dos Santos, quando concordou que o partido estava saturado da associação a Paulo Portas.
“Na verdade, não foi rigorosamente o que eu disse. Numa interpretação para o que sucedeu nesse congresso, pareceu-me óbvio é que pedia uma certa mudança. Hoje, num cenário extraordinário, o que conseguirei fazer é unir o partido, reconciliando-o com o passado, trazendo o melhor desse ‘portismo’, ao mesmo tempo renovando e aproveitando muitos quadros disponíveis, a par de muitos independentes”, considera.
O candidato a líder do CDS recusa que a dependência em Paulo Portas tem sido um fatores para as sucessivas perdas do partido, já que estes “é um dos maiores talentos da política, isso não é só reconhecido no CDS, é-o no país” e que “foi na sua liderança que grandes figuras do CDS surgiram para a política em Portugal” como Cecília Meireles e Assunção Cristas.
O eurodeputado enumera depois alguns dos nomes que tem em mente para os grupos setoriais, que vão incluir membros do CDS e independentes. Para encabeçar a agricultura, Melo refere o engenheiro e secretário-geral da CAP Luís Mira, que é independente, e trabalhará em conjunto com nomes do CDS como Nuno Vieira Brito, Mário João Araújo da Silva, Francisco van Zeller e Francisco Pavão.
“É uma lógica que será replicada noutros sectores – na saúde, na justiça na economia, nas finanças e noutras agendas que quero trazer para o CDS como a economia digital, economia verde e da sustentabilidade. São interpretadas como agenda de esquerda, o que é disparatado“, sublinha.
Nuno Melo acredita ainda que o CDS precisa de uma “figura carismática” à sua frente e que “não tem sucesso” se o líder for “uma figura apagada, que o país não conhece”. Sobre se este foi o problema com a escolha de Rodrigues dos Santos, o eurodeputado é perentório: “Não quero falar do passado“.
O adiamento do Congresso do CDS para depois das legislativas causou uma debandada interna, como vários nomes de peso do partido a sair. Sobre o regresso destas figuras, Nuno Melo não faz promessas, mas admite que gostaria de ver estas figuras de volta.
“Nesses incluiria Adolfo Mesquita, António Pires de Lima e Francisco Mendes da Silva. São três exemplos, há mais, gostava de ver voltar ao CDS, acredito que um dia poderá ser e farei tudo para que assim seja”, afirma.
O partido está ainda mais fraturado agora, mas Melo já reconheceu que as divisões internas já existem há 20 anos. Mesmo assim, uma reconciliação é “mais do que possível”. “Quero ser a ponte, não quero ser a barreira. Quero que o CDS seja um espaço onde democratas-cristãos, liberais e conservadores se sintam bem, sintam que é a sua casa. Todos fazem muita falta. Não quero perder um segundo a falar do passado e em processos de purgas a afastar pessoas porque foram de A, B ou C. Não quero mesmo”, realça.
O eurodeputado apela ainda à participação de Portas e de Monteiro no processo de reunificação do partido, mas não acha que Paulo Portas tem de apoiar a sua candidatura. “Neste momento, Paulo Portas é uma pessoa que transcende em muito o CDS. Acredito que Paulo Portas, por amizade, por proximidade, é uma pessoa que continuará a colaborar com o CDS e comigo. Mais que não seja com bons conselhos, que não é coisa pouca”, defende.
Sobre uma eventual candidatura de Portas a Belém, Melo é adepto da ideia, mas considera “prematuro” falar num possível apoio do CDS para quem “ainda não manifestou vontade”.
Sobre a dívida do CDS e os rumores de que o partido vai fechar sedes distritais e abandonar a histórica sede nacional no Largo do Caldas, Melo diz não ter “nenhuma ideia do estado financeiro do CDS”. “O CDS tem há muitos anos funcionários dedicados, e se o estado financeiro for o que leio na comunicação social isso preocupa-me porque não havendo dinheiro para pagar contas há escolhas que terão de ser feitas”, lamenta.
Relativamente ao Chega, que tem crescido na direita portuguesa, Melo garante que não vai “demonizar” o partido, já que esse é o jogo de António Costa porque divide a direita e perpetua a “esquerda no poder”.
“Falar-se em cordões sanitários em relação ao Chega e depois achar-se muito bem que o PCP convide organizações terroristas como as FARC [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia] para a festa do Avante e ache que aí nunca fez sentido cordões sanitários…”, critica.