Faltam medidas de emergência para quando a qualidade do ar é má. Francisco Ferreira, da Associação Zero, afirma que “2017 foi um ano realmente mau” no que diz respeito à qualidade do ar.
Os centros de Lisboa, Porto e Braga são as zonas do país mais alarmantes, com os limites máximos dos valores de partículas e dióxido de azoto a serem ultrapassados várias vezes. Estes poluentes são os mais frequentemente associados aos tráfego rodoviário.
No entanto, embora as três cidades tenham planos de melhoria da qualidade do ar, apenas Lisboa impôs limites à circulação de carros e tem em marcha um novo plano.
Francisco Ferreira, da Associação Zero, destaca os valores de dióxido de azoto (NO2), muito associado aos veículos a gasóleo. “Não se tem conseguido atingir os limites fixados pelas normas europeias e estão a poluir três vezes mais”, refere.
É este o motivo pelo qual as cidades querem proibir a circulação de carros a gasóleo. À semelhança de outros países, grande parte da frota portuguesa é a diesel e, se os carros forem anteriores a 2009, não têm filtros de partículas.
“O grande problema é que não estamos a implementar as medidas identificadas como necessárias e temos de ser mais exigentes”, diz ao Público o também professor da Universidade Nova de Lisboa.
“Temos de pensar em limitar a entrada de todos os carros na cidade, fazer uma atualização das normas europeias mais recentes, garantir fiscalização e transportes públicos para que não se usem os corredores mais críticos”, diz, sublinhando que faltam implementar medidas de emergência para atuar no imediato, quando os limites são ultrapassados.
Uma delas, destaca, “a proibição do estacionamento no centro da cidade a não residentes nesses dias”, além de “limitar a velocidade e dar transportes gratuitos” ou, no mínimo, com descontos, incentivando as pessoas a deixar o carro na garagem.
Mas as preocupações que emergem da má qualidade do ar não se relacionam apenas com o ambiente. A saúde pública também é prejudicada, na medida em que há estudos que comprovam a relação entre a concentração de partículas e a mortalidade.
No caso das crianças, refere Francisco, “há relação entre a qualidade do ar e as idas às urgências com problemas respiratórios”. Estas conclusões estão patentes num estudo da Nova em parceria com outras entidades ao concelho de Lisboa, citado pelo jornal.
O mais recente relatório da Agência Europeia do Ambiente, divulgado no ano passado, estimava 6630 mortes em Portugal em 2014 associadas à má qualidade do ar.
Os efeitos da poluição dependem do tipo de exposição . Cecília Longo, médica pneumologista, explicou ao Público que as partículas na atmosfera entram em reação, levando a efeitos inflamatórios no aparelho respiratório, mas também no sistema cardiovascular e neurológico.
“Os níveis de poluição também dependem de rotas de poluição e de ventos e a nossa poluição pode ir para os Estados Unidos e a deles vir para Portugal”, conclui.