Roberto Canessa foi uma das 16 pessoas que sobreviveu à queda do avião que transportava uma equipa de rugby uruguaia.
No dia 13 de outubro de 1972, a equipa de rugby uruguaia Old Christian’s Club seguia viagem até Santiago, no Chile, para mais uma competição da modalidade.
Esse dia acabou por ser o início de uma das maiores histórias da sobrevivência humana, depois de o avião, que transportava 45 pessoas, se ter despenhado na Cordilheira dos Andes.
Doze pessoas morreram durante a queda, seis passageiros faleceram nos dias seguintes – quando uma avalanche atingiu os destroços do avião – e onze devido às condições meteorológicas críticas e pela escassez de alimentos.
O uruguaio Roberto Canessa foi um dos 16 sobreviventes que durante dois meses lutaram para sobreviver, usando os corpos das vítimas como única fonte de alimento.
Canessa, que hoje é um médico cardiologista bem sucedido, está agora a lançar um livro, sobre aquele que é o episódio mais marcante da sua vida, chamado “I Had to Survive: How a Plane Crash in the Andes Inspired My Calling to Save Lives”.
Em entrevista a um programa da BBC, o uruguaio conta o drama que motivou os sobreviventes a tomar essa difícil decisão.
O médico, que na altura tinha apenas 19 anos, conta que inicialmente comeram tudo o que encontraram nas malas, tal como chocolates, doces e outros snacks. Também derretiam o gelo para beber água e usaram os bancos do avião como camas.
Como alternativa, também começaram a mastigar o couro dos cintos e dos sapatos mas sentiam que os produtos tóxicos dessas peças só iria deixá-los pior.
Uma semana e meia depois do acidente, o grupo conseguiu fazer um rádio funcionar, a partir do qual ouviram que as buscas para encontrar o avião tinham sido canceladas.
Quando os mantimentos acabaram, os sobreviventes tiveram de tomar a decisão de praticar o fenómeno conhecido por antropofagia, o ato de comer uma ou várias partes de um ser humano.
“Alguém disse: acho que estou a ficar louco, mas estou a pensar em comer os corpos. Ao que o capitão da equipa disse: ‘Estás louco, não nos vamos tornar canibais, não vamos por esse caminho'”, conta Canessa.
O médico recorda que inicialmente também não gostou da ideia mas que, sendo a única hipótese que tinha de sobreviver, acabou por concordar.
“Pensei que se fosse uma das vítimas iria ter orgulho de saber que o meu corpo ajudou os meus colegas”, explica.
“Vou ter sempre um pedaço deles em mim, também espiritualmente, como forma de honrar a sua memória”, acrescenta.
Segundo Canessa, ainda há quem veja nesta decisão a “fórmula mágica” para terem sobrevivido mas o médico acredita que foi muito mais do que isso.
“Sobrevivemos porque éramos uma equipa, porque estávamos juntos, porque andamos onze dias (até encontrar ajuda)”.
Juntamente com outro dos sobreviventes, o médico caminhou durante onze dias pelos Andes até encontrar os pastores que os finalmente ajudaram a sair daquele pesadelo.
Esta história de sobrevivência também foi contada pelo filme “Estamos Vivos”, realizado em 1993, no qual Canessa é interpretado pelo ator Josh Hamilton.
ZAP / BBC