Pela primeira vez, um medicamento experimental mostrou que é possível atrasar o avanço do declínio cognitivo que o Alzheimer causa. Os pacientes notaram uma redução de 27% após 18 meses a tomar o fármaco.
Até agora, a maioria dos estudos e tratamentos promissores sobre o Alzheimer focam-se na prevenção do seu desenvolvimento, mas, pela primeira vez, um ensaio clínico a um medicamento experimental mostrou que é possível atrasar o declínio cognitivo causado pela doença.
A amostra do estudo foi composta por 1795 pacientes com Alzheimer numa fase inicial, que receberam duas doses por semana do medicamento, chamado Lecanemab, que tinha mostrado indícios de reduzir o declínio na memória e de melhorar a capacidade dos pacientes de serem independentes no quotidiano.
Ao fim de um ensaio de 18 meses, a cognição dos pacientes com Alzheimer que tomaram o medicamento melhorou 27% em comparação com um outro grupo que tomou um placebo.
Numa escala de 14 pontos usada para se avaliar a progressão da doença, onde se espera que cada paciente tenha um declínio de um ponto por ano, quem tomou o Lecanemab teve um resultado de 0,45.
Apesar destes avanços, há também efeitos secundários a ter em conta — cerca de 21% dos participantes sofreu inchaço ou pequenas hemorragias no cérebro e 3% destes tiveram sintomas.
O fármaco funciona ao reduzir as placas tóxicas no cérebro e o seu sucesso reforça a “hipótese de amilóide“, que associa os níveis desta proteína nas células cerebrais ao risco de se desenvolver demência.
Vários medicamentos anteriores já tinham conseguido reduzir os níveis de amilóide no cérebro, mas esta é a primeira vez que essa redução se traduz num atraso na progressão do Alzheimer.
“Este é um momento histórico para a investigação sobre a demência, já que esta é a primeira vez que uma fase 3 de um ensaio a um medicamento para o Alzheimer teve sucesso a atrasar o declínio cognitivo”, explica Susan Kohlhass, directora de investigação do grupo Alzheimer’s Research UK, ao The Guardian.
Há ainda algumas questões que precisam de resposta, já que a toma do remédio exige infusões a cada duas semanas. Também ainda não se sabe se os benefícios no atraso do declínio cognitivo continuam para além dos primeiros 18 meses.
Os avanços conseguidos no ensaio clínico também ficam ligeiramente abaixo de um critério generalizado, já que a diferença que os especialistas consideram que vale a pena para a administração de um medicamento fica entre os 0,5 e 1 ponto.
A farmacêutica Eisai e Biogen, que desenvolveu o Lecanemab, vai pedir no final do ano uma licença aos órgãos reguladores para poder começar a comercializá-lo.
Boa! Deem disso à nossa classe política. Pelo menos 27% das promessas poderiam vir a ser cumpridas.