“Meca para fascistas”. Criação de um “Museu do Fascismo” gera polémica em Itália

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Os activistas anti-fascistas temem que o museu se torne um local de culto para a extrema-direita, mas os curadores garante que o propósito é educacional.

A vila de Salò, no norte de Itália, está a preparar-se para abrir um polémico museu dedicado ao período fascista. O Museu da República Social Italiana, como será chamado, tem inauguração prevista para o Outono, nesta cidade que acolheu a sede do regime de Benito Mussolini durante um ano e meio.

De acordo com o The Art Newspaper, o museu vai reunir posters de propaganda, recortes de jornais, fotografias, cartas, vídeos de discursos de Mussolini e bustos seus e irá ainda explorar a ocupação nazi e o movimento de resistência anti-fascista.

O projecto está a gerar polémica, especialmente dado o contexto político de crescimento de movimentos de extrema-direita na Europa. O partido Irmãos de Itália, da primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, é inclusivamente um descente directo do Partido Nacional Fascista.

Apesar das tentativas de se distanciar das raízes fascistas do seu partido, Meloni nomeou Ignazio La Russa — que foi recentemente filmado com bustos de Mussolini em sua casa — para presidir ao Senado.

Esta também não é a primeira vez que nasce um projecto para um museu dedicado ao fascismo. Também Preddapio, onde estão os restos mortais de Mussolini, e Roma puseram de parte planos para a criação de um museu semelhante em 2020.

O Museu de Salò também já organizou várias exposições dedicadas ao período de governação de Mussolini e à sua máquina de propaganda, tendo todas sido contestadas por manifestantes anti-fascistas.

Os activistas temem que, tal como já acontece com o túmulo de Mussolini em Preddapio, o novo museu se torne um local de culto e peregrinação e seja uma espécie de “Meca para fascistas“.

Lucio Pedroni, presidente da Associação Nacional de Partidários Italianos, avisa ainda que o empresário Marco Bonometti, que é tido em Itália como um admirador de Mussolini, está entre os financiadores do museu e frisa que alguns dos objectos em exposição — cuja origem é desconhecida — podem ter sido doados por nostálgicos do fascismo. Pedroni critica ainda os planos “ridículos” e “banais” para se expor roupas e brinquedos da época.

Do lado dos curadores, argumenta-se que o museu é necessário devido ao tabu que ainda existe em Itália sobre o “controverso” período fascista, que dizem ser estudado de forma desadequada nas escolas.

“Após a guerra, o fascismo era visto como algo altamente negativo; um assunto sobre o qual nem valia a pena falar”, explica Giuseppe Parlato. “O fascismo criou uma fractura na sociedade que ainda hoje é sentida”, aponta também Roberto Chiarini.

Já Lisa Cervigni garante que os curadores não estão “nem interessados em demonizar nem em defender a era fascista”.

Adriana Peixoto, ZAP //

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2 Comments

  1. Concordo, desde que seja um museu construido com bases científicas e objetivas. O passado não se deve esquecer. Mas se for um instrumento de propaganda ideológica, a favor ou contra, não é admissível. De qualquer modo, penso que, tratando-se de História pura, edificada a partir de factos, a ideologia fascista sai sempre a perder. Sabendo-se bem em que consistiu e as consequências que teve, ninguém de bom senso quererá repetir tal experiência.

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