Manuel Alegre, um peso pesado do PS, gabou a “coragem da candidata” Ana Gomes em avançar para as Presidenciais, quando o partido teve “falta de comparência”.
Esta quinta-feira, o histórico socialista Manuel Alegre afirmou que a “não comparência” do PS nas eleições Presidenciais criou “um vazio” e significa até uma “desvalorização do regime semipresidencialista” que o partido ajudou a fundar.
Numa conversa online com Ana Gomes, um dos pesos pesados do PS considerou que a candidatura da socialista, que não tem o apoio do partido, “é um ato de coragem cívico e político” e representa “o espírito de resistência antifascista”.
“Queria começar por dizer que sou amigo de Marcelo Rebelo de Sousa e devo-lhe bastantes atenções, mas a eleição Presidencial não é uma coroação, é uma escolha”, disse Alegre, acrescentando que o atual Presidente e recandidato não é da sua família política, nem partilha com ele “a mesma história, a mesma memória”.
“Quem representa a minha família política é a Ana Gomes, é ela que me representa e que representa os socialistas”, sublinhou.
Manuel Alegre não se referiu explicitamente ao Chega de André ventura, mas referiu que, “pela primeira vez”, haverá nestas eleições “uma candidatura que põe em causa a Constituição e as instituições democráticas”. “Lembra-me a atitude dos socialistas franceses, quando apareceu o Le Pen pai (…) Hoje o PS está reduzido a uma expressão muito pequena e a Frente Nacional tem a força que se sabe.”
O antigo deputado do PS salientou que o contexto sanitário em que decorrem as eleições, no meio de uma pandemia, “dão ainda mais valor a este combate”.
“Tivemos muitos anos de fascismo, de PIDE, de censura e nunca desistimos, não íamos desistir agora e a Ana Gomes não é de desistir (…) Por isso, eu estou onde acho que devo estar, por uma história que ajudei a construir, por combates que travei com outros, com Soares, com Zenha, os que se lembram destes combates não podem subestimar a importância da candidatura de Ana Gomes e deste momento, porque os socialistas não podem desertar”, apelou.
“Só é vencido quem desiste de lutar”, disse Alegre, citando Mário Soares. “Por isso, eu estou não apenas contigo individualmente, mas também pelo que representas neste momento: a cultura do socialismo democrático que não podia perder por falta de comparência”, disse.
Ana Gomes agradeceu o apoio do histórico socialista e recordou o seu papel na construção da democracia, devolvendo com uma citação do seu poema Trova do vento que passa.
“Mesmo na noite mais triste, em tempo de servidão, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não. Neste caso, dizemos não aos que querem destruir a democracia”, afirmou a candidata a Belém.
Rui Tavares, fundador do Livre – partido que, a par do PAN, apoia Ana Gomes -, também participou no debate online, depois de ter coordenado o documento com os 21 compromissos com que a candidata se apresenta ao país, em áreas como a saúde, a educação, a inovação, a cultura ou a ciência, entre outros.
ZAP // Lusa
O traidor está de volta.