Os italianos continuam em guerra civil por causa do que comem — ou não. Desta vez, o campo de batalha é a massa feita de insetos.
O tradicional massa italiana já não é o que era. Mas a recente introdução de macarrão feito de insetos está a dividir os italianos.
O uso de insetos na indústria alimentar tem vindo a ganhar massa crítica, e a recente aprovação da venda de insetos para consumo humano na União Europeia ameaça revolucionar o mercado.
Recentemente, Portugal juntou-se a países com Alemanha, Dinamarca e Finlândia, onde já se pode comer insetos.
Poucos têm já dúvidas de que o futuro da economia passa pelos alimentos à base de insetos, que já esgotam nos supermercados portugueses.
Mas, diz a BBC, o fenómeno está longe de se impor em Itália — que defende com unhas e dentes a tradição da sua gastronomia (e os interesses da sua agricultura), tendo recentemente declarado guerra aos alimentos feitos em laboratório.
A alimentação à base de insectos tem encontrado forte resistência em Itália, onde o governo já proibiu o seu uso em pizzas e massas, alegando que este tipo de prática empobrece a cultura e a agricultura italiana.
Apesar da resistência, há produtores italianos que têm vindo a experimentar a produção de massas, pizzas e outros tipos de alimentos à base de grilo.
A Italian Cricket Farm, localizada perto dos Alpes, no norte de Itália, é a maior quinta de produção de insetos do país, transformando diariamente cerca de um milhão de grilos em ingredientes alimentares.
A herdade produz uma farinha de cor castanho clara, resultante do processamento dos grilos, que pode ser usada em diversos alimentos, como massas, pães, panquecas e barras energéticas.
“O que fazemos aqui é muito sustentável“, defende Ivan Albano, proprietário da herdade. “Produzir um quilo de pó de grilo requer apenas 12 litros de água, um valor significativamente menor que a quantidade necessária para produzir a mesma quantidade de proteína de vaca”.
“Para além disso, a criação de insetos exige apenas uma fração da terra usada para produzir carne”, acrescenta o produtor.
Para além da questão ambiental, a farinha de grilo é rica em vitaminas, fibras, minerais e aminoácidos. No entanto, o preço com que chega atualmente ao mercado, onde chega a custar até oito vezes mais do que a massa tradicional, torna-a, por enquanto, uma opção de nicho na sociedade.
Ivan Albano acredita que “o impacto no meio ambiente é quase zero. Somos uma peça do quebra-cabeças que pode salvar o planeta“.
Mas, em todo o país, a resistência dos italianos ao consumo de insetos é grande. A aceitação social é baixa e há o receio de que esta possa ser uma ameaça à tradição culinária italiana.
No entanto, com o crescimento do setor e a necessidade de encontrar soluções sustentáveis para alimentar a população global, cada vez mais pessoas – muitas vezes motivadas pela curiosidade – estão a explorar opções de alimentação à base de insetos.
É assim provável que aconteça com a comida à base de insetos, em Itália como no resto da Europa, o que aconteceu com “aquele peixe cru que se come no Japão“. Depois da resistência inicial, uma fase de curiosidade — e finalmente, os restaurantes de sushi estão na moda.